Seguidores

quarta-feira, abril 13, 2011

Jantar de comemoração da chegada do FMI a Portugal










Ontem o FMI chegou a Portugal para negociações. Para ver se "arrumam" a casa. Não deveria ser novidade para ninguém, nem constituir factor de surpresa ou indignação. Mas o povo está chocado. Não compreende como se chegou a isto. Ora eu penso (e é só a minha opinião) que tudo isto não é mais do que o reflexo do que somos como povo. Os nossos políticos são portugueses e vivem como tal. Logo, não me parece estranho que não tenham sabido gerir a despensa, da mesma forma que a maioria dos portugueses não sabe. Vive-se acima do que se pode, com o dinheiro que não se tem. Pede-se dinheiro ao banco mais perto, como os políticos pedem aos bancos que ainda vão emprestando. Até agora...
Não pretendo estar com moralismos, isto é apenas uma tentativa de introdução ao jantar de ontem. Lá em casa janta-se todos os dias. O que vai variando é a ementa e os comensais. Umas vezes só o núcleo familiar, outras vezes alargada à família e ou amigos. Ontem foi com amigos, sem pretexto nenhum. Só porque sabe bem. E porque a despensa permite :) Mas enquanto procurava um título de comemoração, apercebi-me que aparecia como o dia em que o FMI entrou em Portugal. Seja! Seja esse então o mote de comemoração. Pode ser que as medidas de austeridade sirvam para vivermos felizes com menos, darmos importância ao que realmente interessa e comermos melhor. Porque o consumismo, a facilidade do supermercado tem contribuído para a alimentação das pessoas ser cada vez pior, mais calórica e pouco saudável. Voltemos ao básico, como tanto gosto.

Seríamos sete à mesa. Por isso, sete rosas no centro. Até ao momento em que a L. me implorou uma para colocar na cabeça (como já é hábito). Assim seja. Não vamos arranjar uma birra por causa da minha afinidade com o número sete, para mim perfeito. Quase oito horas, quase a campainha a tocar. O cansaço abateu-se sobre ela. Com uma rosa na cabeça e os lábios carmim, prostrada na cama, parecia-me a Frida Kahlo, sem buço.

Iniciámos com o pão de alho. Repeti o da outra semana porque é garantido que agrada.
Depois um creme de couve-flor com amêndoa tostada. Propositadamente para o menino convidado porque é apreciador. Nada mais simples. Cebola, alho, batata, couve, azeite e sal. Depois de cozido, passar até obter um creme aveludado. Servir com amêndoas laminadas tostadas.
Seguiu-se uma tartelete de alho francês e tomate cereja, acompanhada de uma juliana de raízes e frutos, com vinagrete de sésamo.
Usei massa quebrada. Salteei alho francês a que juntei um ovo batido com um pouco de queijo parmesão, tudo temperado com sal e pimenta. Coloquei sobre a massa e dispus o tomate cereja. Levei ao forno cerca de 20 minutos. Para a salada, cortei cenouras e rabanetes biológicos em juliana, a que juntei pepino sem sementes. Fiz um vinagrete com óleo de sésamo, vinagre de frutos silvestres, raspa de laranja, flor de sal e um pouco de pimenta. A salada também acompanhou o prato principal.
Nestes jantares demorados e sem pressas, prefiro sempre os pratos de forno. É mais cómodo. Também procurei um registo mais vegetariano, por saber que é mais do agrado dos convidados. Assim, para prato principal, socorri-me de uma receita da Mafalda P. Leite. Um bolo de risotto. Segui quase fielmente ;)
O que usei:
220 g de arroz carnaroli
1 cebola
3 dentes de alho
chouriço caseiro da Tocha
150 g tomate seco
200 g de ervilhas congeladas
1/2 chávena de salsa e coentros picados
3 ovos
1/2 chávena de queijo parmesão
sal
azeite
Como procedi:
Num tacho levei a cebola e o alho a quebrar até ficarem translúcidos. Acrescentei o chouriço fatiado muito fino. Depois juntei o arroz e deixei cozinhar cerca de um minuto. Juntei água e deixei em lume médio cerca de 10 minutos. Desliguei e juntei as ervilhas. Repousou cerca de cinco minutos e depois transferi para uma taça para arrefecer.
Liguei o forno a 180º. Forrei uma forma de fundo amovível com papel vegetal. Bati os ovos. Envolvi com o queijo, o tomate picado e as ervas. Temperei com sal e juntei ao arroz. Envolvi bem e coloquei na forma, nivelando. Levei ao forno cerca de 40 minutos. Desenformei e deixei repousar cerca de 10 minutos antes de servir.
Para remate da refeição, os nossos amigos trouxeram gelados. E chocolate para uma calda quente ;)

Meia noite. A casa ficou mais vazia. A mesa está arrumada. A L. acorda. Choraminga porque não viu ninguém. Mas ouviu. Bebe o leite. Volta a dormir.

Seis rosas, seis pessoas. Tudo bate certo.

2 comentários:

Sophy disse...

Mais um jantar minuciosamente planeado e organizado... uma mesa linda para um jantar soberbo...

Paulo Agostinho disse...

Eu posso referir o nome de um político que conseguiu um crescimento económico de 7% ao ano enquanto governou. E era português. Não tinha era a postura dos políticos actuais.
Quanto ao FMI, a julgar pelo que se passa na Grécia e na Irlanda, não vai mudar nada. Já se sabe a arte que os políticos e os privados em Portugal têm de contornar as leis e passar ao lado dos cortes e dos "sacrifícios". Como se costuma dizer, paga sempre o mesmo. Por isso, comamos e bebamos, como os goliardos, enquanto podemos. Daqui a pouco, muitos não o poderão fazer.