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segunda-feira, dezembro 31, 2007

sábado, dezembro 29, 2007

inglês técnico no seu melhor

Santa ignorância. Já não basta o provincianismo que levou a chanceler alemã a desatar à gargalhada nas costas de sócrates... Temos de ser ainda mais envergonhados por um primeiro-ministro analfabeto, incapaz de decorar umas simples frases em inglês que alguém teve tanto trabalho a escrever para ele. Ouçam com atenção e pasmem.
"very proud to be here in this moment cause this act is a (!) act that we do because a portuguese company do is outmost (?) to make technological possibilities to connect the two systems, the schengen system and the data systems of the new member states. That's a double proud for me (!!?): to be here like (?) the president of the councel but also to be here because a portuguese company dou (deu? do? ò analfabeto, é gave ou did) its contribution to more freedom for Europe." Atrás todos riem, e não é de espantar. E no fim aplaudem como se aplaude um atrasadinho que "discursou" na praça da aldeia. É triste, muito triste.
Não admira que o homem tenha retirado o inglês (prioridade só no discurso propaganda) do currículo do secundário dos cursos efa e tenha feito uma lei que praticamente impede os licenciados de inglês de ensinarem inglês ao primeiro ciclo, preferindo outros menos qualificados (e mais baratos). É que qualquer criança e adulto que frequente realmente algumas aulas (um feito de que sócrates aparentemente não se pode gabar) conseguirá falar melhor inglês do que o primeiro-ministro. E isso é inaceitável. Qualquer dia ainda se começam a rir quando ele fala. Como a chanceler Angela e os outros senhores da Europa...

O espaço infinito

Desde o século XV que os Europeus iniciaram um processo de Descobertas e de exploração do mundo desconhecido. Esse trabalho prolongou-se até aos finais do séc. XIX, com a exploração do último território desconhecido, o coração da África. Depois disso, quando o Ocidente se apercebeu que ainda só conhecia um terço do planeta, os olhares viraram-se para o fundo do mar. No tempo da Guerra Fria, começou também a exploração do Espaço, que teve o seu ponto alto em 1969 com os primeiros passos humanos na superfície lunar e que cada vez mais é uma prioridade. Mas há um outro espaço a exigir exploração atenta: a enorme vastidão da ignorância de josé sócrates. Em área e profundidade, excede o planeta e os mais fundos desfiladeiros marinhos.
Há alguns dias, uns governantes menores da "Europa" (exceptuando aqui a chanceler alemã) reuniram-se para celebrar com champanhe a abertura das fronteiras a leste. Fronteiras abertas entre a Alemanha e a Polónia e até ao Báltico. Nessa ocasião, sócrates discursou. Duvido que alguém tenha escrito o discurso para ele ler. Era algo tão mau e tão oco que só podia ser produto genuíno. Merecia até um selo de certificação (algo tipo made in UNI). Também não acredito que tenha sido um discurso espontâneo, fruto do momento e influenciado pelas bolhas do champanhe. Creio que sócrates perdeu realmente tempo a pensar no que iria dizer, o que aumenta a magnitude da tragédia. Talvez pensasse nisso enquanto se barbeava, ou durante o jogging. Ou numa viagem através da via do Infante.
E o que disse o auto-intitulado engenheiro não reconhecido pela Ordem? Que esta Europa unida e sem fronteiras é um sonho de muita gente, sobretudo da sua geração. Sem dúvida. Mas que isso para ele seja motivo de alegria é algo incompreensível. Quem foram os antigos "sonhadores" de uma Europa "unida" e "sem fronteiras"? Napoleão, no século XIX, Hitler e (à sua maneira) Estaline. Que sócrates goste da companhia de tiranos é já sabido, basta recordar como preferiu Mugabe e companhia a Gordon Brown. Birds of a feather flock together (traduzindo deste inglês técnico, diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és...).

Ronaldo e Ronaldinho

"El Barça debate sobre Ronaldinho, y no me extraña. Arrojar fuera a un jugador así es difícil. (...) Pero hace mucho que Ronaldinho no se entrena. Mucho, mucho. Y no he conocido en la vida caso alguno de persona que deje de trabajar por un tiempo considerable y sea capaz de volver a hacerlo con el interés y el entusiasmo requeridos. A Ronaldinho le quedan las faltas y algún pase magistral, pero el mejor Ronaldinho ya lo hemos visto.

Es duro admitirlo, pero es así. La primavera pasada tuve una larga conversación con Capello, en plena remontada del Madrid. Me dijo: "Con Ronaldo lesionado jugábamos mal, pero íbamos a dos puntos del Barça. Volvió él, jugó, y nos pusimos a ocho. Ahora se ha ido y estamos remontando". El Madrid ganó la Liga y sólo lamentó no haber tenido el valor de prescindir de Ronaldo en verano, cuando pudo hacerlo, y por más dinero. Ronaldo se fue al Milán y con un arreón de vago arrepentido marcó algunos goles el primer mes. Pero eso duró seis semanas. Después, nada. Y el Madrid es otro. "
Chieftains & The Corrs


I know my love by his way of walking
And I know my love by his way of talking
And I know my love dressed in a suit of blue
And if my love leaves me, what will I do?

chorus:And still she cried, "I love him the best,
And a troubled mind, sure can know no rest"
And still she cried, "Bonny boys are few,
And if my love leaves me, what will I do?"

There is a dance house in Maradyke
And there my true love goes every night
He takes a strange girl upon his knee
Well now don't you think that that vexes me?

chorus

If my love knew I can wash and wring
If my love knew I can sew and spin
I'd make a coat of the finest kind
But the want of money sure leaves me behind

chorus

I know my love is an errant rover
I know he'll wander the wild world over
In dear old Ireland he'll no longer tarry
An American girl he's sure to marry

chorus

Love song to a stranger

Esta música, composta em 1972 e inspirada numa relação pessoal de Joan Baez, é um exemplo simples e (talvez por isso) perfeito do olhar poético que a cantora/compositora tinha em relação à vida. Os versos contrariam também a afirmação que a poesia de Joan Baez era má, afirmação que própria Joan atribui a Bob Dylan na canção Diamonds and Rust ("my poetry was lousy you said"). O poema descreve momentos passados num hotel, local de um encontro amoroso que, na canção, durou dois dias. Ou uma noite (tudo o que importa se passou nessa noite). Tempo impossível para que os dois amantes se pudessem conhecer, o que acaba por justificar o título do poema, canção de amor para um estranho.
O poema começa com uma interrogação pessoal

"How long since I've spent a whole night
in a twin bed with a stranger
His warm arms all around me?
How long since I've gazed into dark eyes
that melted my soul down
To a place where it longs to be?"

A narradora encontra-se à deriva, errando por caminhos que desconhece. A sua alma gelada, petrificada pela falta de rumo, encontra o lugar que anseia no olhar negro do amante, e nesse instante sente-se a derreter e a escorrer em fios de água para esse lugar.
Do amante pouco ficamos a saber. O passado não se lê no seu rosto ("all of your history has little to do with your face"), diz a narradora, para prosseguir a descrição com um dos versos mais bonitos do poema

"You're mainly a mystery with violins filling in space"

Não consigo traduzir uma frase assim. Sou mudo em poesia. A tradução literal não nos faz sentir a melodia que ouvimos. Mas quem não gostaria de ser visto como um mistério tão encantador? Ser alguém com um passado feito de notas musicais em vez de factos, datas e memórias? Ao fim ao cabo, se o que transmitimos de nós aos outros é uma composição e não a realidade, por que não deixar a arte de (nos) compor para quem nos olha, se forem assim, capazes de fazer do nada uma harmonia?
Os versos seguintes descrevem gestos que a memória (tão selectiva) guardou, o amante levantando-se e recolhendo uma rosa de um ramo para a pousar na almofada. Olhando a rosa, ela adormece com uma só preocupação:

"To know that when day broke and I woke that you'd still be there"

Que o nascer do sol não a retire novamente do lugar que sente seu e a coloque novamente à deriva.

"The hours for once they passed slowly, unendingly by
Like a sweet breeze on a field
Your gentleness came down upon me and I guess I thanked you
When you caused me to yield
We spoke not a sentence and took not a footstep beyond
Our two days together which seemingly soon would be gone"
Nessa noite as horas deixaram-se arrastar, como uma brisa suave no campo, com os dois amantes em silêncio, conscientes do fim que se aproximava.
Chega então o maior lamento da amante, um grito de raiva e um rogo.
A descrença no amor eterno e (outros sonhos tristes) mostram uma visão atormentada da existência humana, descrita como uma vida de preocupações ("a lifetime of cares") da qual só conseguem ser resgatados os estranhos apaixonados. O amor, esse, não pode existir eternamente sem ser correspondido, porque se o é, pede a amante mais uma vida inteira, para aprender.

"Don't tell me of love everlasting and other sad dreams
I don't want to hear
Just tell me of passionate strangers who rescue each other
From a lifetime of cares
Because if love means forever, expecting nothing returned
Then I hope I'll be given another whole lifetime to learn"

Para aprender a quê? A corresponder ao amor que recebeu, a ser capaz de amar de volta, de dar ao outro em proporção do que recebeu.

"Because you gave to me oh so many things it makes me wonder
How they could belong to me
And I gave you only my dark eyes which melted your soul down
To a place where it longs to be"

O que me deste foi tão maravilhoso que chego a duvidar que me possa ter pertencido. E eu apenas te dei os meus olhos negros que derreteram a tua alma, fazendo-a deslizar para um lugar onde se sentisse em casa.

*
Texto completo aqui.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Feliz Natal

Feliz Natal, sacos de compras, guizos de renas, estrelas brancas em fundo vermelho, Feliz Natal e bom ano, bolo-rei, bolo-rainha, risos de crianças, que oferecer ao pai e à mãe, e a prenda da tia, ninguém se lembrou, mensagens no telemóvel, feliz natal, bom natal, boas festas, mensagens de email mas a caixa do correio vazia, esquecida, cheia de pó. Mesmo assim, feliz natal, brinquedos para as crianças, livros para quem lê, cds para quem gosta de música, tudo caro, tudo bertrand e fnac e loja da esquina, embrulhos feitos em casa, sem as etiquetas dizendo feliz natal, prendas que falam por nós, feliz natal feliz natal, peru ou bacalhau, vinho do porto, bolo-rei, doces e cadeiras vazias de familiares que não estão, que já não estão ou que não podem estar e que estão sozinhos noutra casa, com água a escorrer quando chove e frio soprado pelo vento nas entranhas abertas das paredes velhas, feliz natal mesmo para eles e para mim e para vocês.

White Christmas


( Fotos AS)

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Ler nas entrelinhas

"É verdade, sou um provinciano, fiz-me sem pedir nada a ninguém. Não tenho aliados entre os grandes pensadores portugueses e a aristocracia de esquerda."
(josé sócrates, no Liberation, citado pelo Público online)
Tradução: Sou um boçal. "Licenciei-me" sem que ninguém me ensinasse nada. Não sou respeitado pelos grandes pensadores portugueses [o que, tendo em conta que é josé sócrates a falar, abarca 99% da população, incluindo muitos formandos EFA] nem por Mário Soares e Manuel Alegre.

terça-feira, dezembro 18, 2007

bring 'pride' back to England

Capello é uma excelente escolha para seleccionador de um país que promete sempre tanto e que acaba por desiludir. A pátria do futebol merece o melhor treinador no activo.

domingo, dezembro 16, 2007

Artigos a (re)ler

J. P. Coutinho, "A minha vingança" e J.P.Pereira, "O Meio"

ALERTA: Estupidez aumenta na Europa

Quando se espera que a estupidez típica do pensamento politicamente correcto não fosse capaz de descer a níveis ainda mais profundos, surge sempre alguém a quebrar barreiras. Desta vez o prémio de idiotice politicamente correcta deve ser dado a umas senhoras soldados (soldadas, mulheres soldado? seja lá o que as ditas forem) suecas. O símbolo do batalhão do qual fazem parte era este leão:
Aparentemente, as referidas senhoras ficaram ofendidas com a presença dos genitais do leão e levaram o "caso" (?) a tribunal. Como hoje em dia as leis europeias têm por norma a procura do absurdo, em vez de aplicar uma pena às queixosas por ofensas aos símbolos militares nacionais, o tribunal deu-lhes razão (!) e obrigou o exército a submeter o leão a uma operação informática, cujo resultado final é este:

Já várias vozes levantaram a questão mais óbvia e racional: o facto de não aparecerem os genitais não torna este leão num ser assexuado, já que a JUBA é exclusiva do leão macho!!! Burras!!! E burros que foram na conversa!
Mas como a razão não é para aqui chamada (há muito que deixou a Europa navegando pelo Atlântico) agora temos as senhoras militares suecas e os senhores militares suecos de consciência limpa, com um leão eunuco como símbolo. Presumo que, com isso, pretendam derrotar os inimigos pelo riso. E há por aí gente que quer fazer da Suécia um exemplo...
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sexta-feira, dezembro 14, 2007

60 anos de miedo escénico


O Santiago Bernabéu faz 60 anos hoje. Na feliz expressão que Valdano popularizou, este estádio provocava (e provoca) miedo escénico (medo do palco) a quem vem actuar nele. Equipas que tinham vencido os Blancos por um resultado que julgavam confortável chegavam a Madrid, entravam no estádio e, de repente, as tremuras nas pernas, o ruído ensurdecedor do público. Do outro lado da linha de meio-campo, o Real Madrid, onze atletas que chegaram onde todos os outros ambicionam chegar. A confiança dá lugar à dúvida. Quando a partida começa, os adversários percebem que actuar ali não é o mesmo que actuar em qualquer outro local. Há uma alma naquele palco que emudece, seca as bocas destes pobres actores que vêm de fora. As frases de comando não soam, a cortina sobe e os actores contemplam o abismo. O texto esquecido. Branco. Blancos. Como as camisolas dos verdadeiros actores e donos do palco. 1-0. 2-0. 3-0. 4-0. 5-0. 6-0. As famosas remontadas que fazem também elas parte do mito e da História do Real Madrid, do enredo de uma magnífica obra épica. Os visitantes, que entraram julgando-se actores, deixam relvado com a consciência de terem sido, afinal, testemunhas e figurantes. Derrotados, não deixam de lembrar o momento com orgulho. Estiveram lá. Viram e sentiram a alma do Bernabéu. Tem mais valor cair em Madrid do que ter sucesso em qualquer outro local. Tem sido assim ao longo de 60 anos. E continuará a ser.

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Fazer História

A sessão de encerramento do circo do Tratado de Lisboa teve a presença de Dulce Pontes. Agindo em nome de todos os europeus anónimos e conscientes, Dulce Pontes fez o possível para rebentar os tímpanos dos políticos presentes. No entanto, esqueceu-se que eles são surdos há muito tempo. Muitos também são cegos. Só não são, infelizmente, mudos, como demonstrou josé sócrates ao fazer um longo e bocejante discurso, sem uma frase interessante, sem uma ideia, sem uma centelha de pensamento que não ultrapassasse a banalidade. "É um tratado que ficará na História." Ninguém duvida. Com sorte, nunca passará de uma nota de rodapé. Mas se tudo correr tão mal como se prevê, o tratado ficará na História. Infelizmente, pelos piores motivos. É que a História que sócrates pretende escrever (ou pretenderia, se soubesse pegar numa caneta) está cheia de tratados inúteis ou de trágicas consequências. Basta consultar uma História da Diplomacia. Ou falar de Versalhes a um alemão e a um francês.

Campeão do Mundo de Acordeão


Afinal, também temos talentos em Portugal. João Barradas tornou-se Campeão do Mundo a tocar acordeão. Com apenas 15 anos, o João conseguiu, finalmente, chegar ao topo do Mundo após ter sido várias vezes campeão nacional e ter ganho vários prémios internacionais.
Para ouvir este pequeno génio:

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Fado em Si bemol

Hoje, quarta-feira, estava sentado no meu sofá a ver um filme quando algo me atrai a atenção na televisão. Era o Pedro Matos a cantar em directo um fado num estilo predominantemente "jazzistico". Simplesmente fantástico. Para quem não sabe, o Pedro cantava no mesmo coro que eu. A grande diferença é que ele canta enquanto eu no coro apenas participava porque gostava do ambiente que se criava (coro com mais de 100 pessoas) e apenas traulitava umas notas e passava o tempo a avaliar os dotes vocais dos participantes. O Pedro era um caso único. Com uma voz fabulosa destacava-se de todos os demais e arrepiava qualquer um quando cantava a solo. Pois, ele canta tão bem, que nos concertos tinha sempre um momento para brilhar a solo. Pensava para mim: "este ganhava uma operação triunfo com uma perna às costas". Indignava-me saber que ele era tão dotado e não se dar a conhecer a um publico mais vasto. Felizmente, e sem ter conhecimento, o meu agradável espanto quando o vejo a brilhar na TV. Acabou de produzir um CD "Fado em Si Bemol" que vai ser lançado em Janeiro no mercado. Os músicos que o acompanham são excelentes. Este rapaz vai longe...
Gostos não se discutem mais oiçam e vejam algumas músicas que estão no Youtube, informações sobre o grupo e depois comentem...

terça-feira, dezembro 11, 2007

3...6...

"Otto Dix retratou, nas suas ilustrações, a guerra das três seis..."
Como? perguntam vocês, como perguntei eu também, olhando incrédulo para a folha de exercício. Voltei à folha das perguntas. Será que me enganara na questão, no aluno, na turma, na profissão (sim, certamente na profissão)? Mas depois, recordei a velha regra de quem corrige testes e textos escritos por gente que nunca leu um texto e que, por esse motivo, nunca viu as palavras que ouve. Limita-se a reproduzir os sons da forma que acredita ser o mais fiel possível. Desta forma surgem expressões memoráveis, como o incontornável "sequeso" ou o fantástico "água a que se diz nada" (sexo e água oxigenada, respectivamente). Quanto à "guerra das três seis", é obviamente (sublinho, obviamente) a "guerra das trincheiras."

Doutores e engenheiros

É com tristeza que comunico ao auditório o nosso 37º lugar no PISA. O programa da OCDE que persiste em enxovalhar-nos não ficou impressionado com os nossos conhecimentos científicos, linguísticos e matemáticos. Entre 57 países, ocupamos a terceira parte da lista, abaixo da média e muito atrás da Finlândia, que continua a liderar o barco. Como explicar esta sazonal desvergonha? O Ministério da Educação, em atitude que se aplaude, não cede ao populismo fácil de quem aconselha mais estudo nas referidas matérias. Para o Ministério, o problema está na 'disfunção' do sistema, que persiste em 'reter' os nossos jovens quando a atitude mais sensata seria aprová-los com distinção. Nas palavras corajosas de Jorge Pedreira, secretário de Estado-adjunto, "a retenção não é normal" (Freud, naturalmente, discordaria). Espera-se que o Ministério aprenda a lição e, a partir do próximo ano, faça o que lhe compete: no início da escolaridade obrigatória, entregar a cada criança um diploma universitário. E depois enviar o retrato para a OCDE. Se o PISA não se espanta com um país de poetas, talvez respeite um Portugal precocemente coberto por doutores e engenheiros.
João Pereira Coutinho

domingo, dezembro 09, 2007

A voz

"Mas a canção que se seguiu penetrou-me bem fundo no coração - era uma canção triste, guitarras e palavras tristes, uma rapariga americana cantando uma composição intitulada «Barbara Allen».
Que voz aquela! Nem precisava de música; quase não precisava de palavras. Ela própria criava a melodia; ela, só, bastava para criar todo um universo de sentimentos. Era isso o que as pessoas da nossa comunidade [indiana] procuravam na música e no canto - sentimentos. Era isso que nos fazia gritar «Wa-wa! Bravo!» e atirar notas e coisas em ouro para um cantor. Ao ouvir aquela voz, senti a parte mais profunda de mim mesmo acordando, aquela parte que conhecia a perda, as saudades, a mágoa, aquela parte que ansiava pelo amor. E naquela voz havia uma promessa de esplendor para todos os que a ouviam.
- Quem é a cantora? - perguntei a Indar.
- Joan Baez - respondeu ele. É muito famosa nos Estados Unidos.
(...)
...regressei à voz. Nem todas as canções eram como «Barbara Allen». Algumas eram modernas, falavam da guerra e da injustiça, da opressão e da destruição nuclear. Mas havia sempre melodias antigas, melodias ternas. Eram essas melodias que eu queria ouvir, mas no final a voz juntava os dois tipos de canção, juntava as donzelas e os apaixonados e as mortes tristes dos tempos passados com a gente dos nossos dias, a gente oprimida, a gente que ia morrer.
Tudo aquilo era fingido, não tinha a mínima dúvida. Só quem confiava na justiça, só quem tinha acesso à justiça, é que poderia ouvir canções ternas acerca das injustiças do mundo."

(V. S. Naipaul, A Curva do Rio, D. Quixote, pp. 159-161.)

quinta-feira, dezembro 06, 2007

O direito à beleza

«A Primeira Guerra Mundial foi importante para a emancipação feminina porque a guerra veio dar trabalho / emprego às mulheres [que] assim tiveram mais direitos como o uso de decotes, saias pelos joelhos, começarem a vir tratamentos ou melhor maquilhagem e perfume, o primeiro perfume foi o chanel.»
.
(eu tenho a impressão que não foi isto que eu ensinei... e depois vêm dizer que a culpa é minha...)

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Os loucos IV

Triste sina a de ser quem não se é. Uma mente, um coração, uma alma, chamem-lhe o que quiserem, e o corpo errado. O desejo trocado. Na adolescência, a imagem no espelho confundida com a idealização do desejo. Narciso? Não. Narciso, o pobre Narciso, apaixonou-se pelo seu reflexo. E morreu assim. Teve sorte. Além disso, os tempos eram outros, o Olimpo e a imaginação dos homens antigos eram mais livres e acolhedores. Pelo menos nessa questão dos amores trocados. O rapaz era capaz certamente de contestar estas palavras. Nem os amores estão trocados, ele sente-os como certos, logo o erro não estará nele, mas no mundo que o rodeia. É um daqueles casos em que todos os outros estão errados, não ele.As angústias passadas nunca foram reveladas. Mas não terão sido poucas. Desde logo, a dificuldade de aceitar como se é e de aprender a olhar o mundo visto ao espelho quando todos os outros o continuam a ver naturalmente. A esquerda dele a direita dos outros, o sim a soar não aos outros, o riso dos outros a gerar lágrimas nele. Depois, quando esse processo de auto-aceitação ficou feito, veio o outro problema. O de explicar ao mundo com se é e fazer o mundo aceitar. Não tinha sequer de apoiar, bastava pelo menos que ignorasse a questão, que aceitasse esse facto como se aceitam os olhos azuis, os caracóis, a voz rouca, o frio do Inverno, a escuridão das noites sem luar e todas as outras loucuras (nada mais do que desvios de uma norma que todos parecem contestar mas que todos aceitam e aplicam, mesmo contra si). A verdade é que os mais próximos aceitaram pior. Mas, curiosamente, entre os loucos o problema nem se colocou. Mesmo que haja excepções, não foram traduzidas em gestos ou palavras. E é quase certo que o rapaz encara o asilo de loucos como um dos lugares mais sãos que poderia encontrar, um abrigo onde continua a não poder ser quem é, onde continua a ser uma mente, um espírito, uma alma, chamem-lhe o que quiserem, escondido no corpo errado, mas onde ninguém lhe lembra do que deveria ser.

Os loucos III

O homem entra na sala. Um homem alto, lembrando uma marioneta desajeitada, os pés tropeçando no vazio, hesitando antes de pousarem no chão, o olhar indeciso, saltitando por toda a divisão, não à procura de alguma coisa, mas procurando evitar um contacto mais longo com outro olhar. O homem encontra um canto onde se consegue isolar. Senta-se, as pernas longas bem juntas, o tronco um pouco estendido para a frente. Os olhos pousam no chão, cansados da fuga anterior, repousam, ganham fôlego. E começam a erguer-se novamente. Ninguém lhe prestou atenção. Os restantes loucos derivam isolados ou balbuciando frases ocas em grupos. Os olhos são claros, e brilham de uma forma que não se esperaria na figura baça. Há ali uma fogueira interior que arde, queima e liberta aquele brilho. Esse fogo é a sensação de abandono e desadaptação. O homem não pertence aqui. As frases que ele balbucia não soam iguais às dos outros. O que lhe desperta a atenção é para os outros algo de estranho e hermético. Os outros pensam com palavras, ele pensa com números e relações de valores. Por isso as palavras lhe surgem com dificuldade. As perguntas que faz revelam uma inocência típica de um estranho. Para que serve…? Como se faz…? O que significa…? E, complementando as frases interrogativas, realidades tão claras como o amanhecer e o entardecer e a água da chuva e do mar junto à ilha verde. Dúvidas de criança. A cada momento esperamos que pergunte “de onde vêm os bebés?”
Quando encontra alguém com quem consegue conversar, convertendo mentalmente equações em orações antes de falar, o tema é sempre o mesmo. E nessa altura sentimos que o problema dele não é o de não pertencer ali, é algo mais profundo e dilacerante. Não é um fogo, mas uma chaga em carne viva, escorrendo sangue numa hemorragia imparável. E ainda assim os olhos brilham quando fala de outra terra, para onde deseja ir, de onde veio, e da filha que lá deixou. “Há muito tempo que não a vejo, Tenho saudades da minha filha, há muito tempo, há mais de dois dias, quase há uma semana. Tenho de ir. No fim do dia, hoje é sexta, não é? A minha filha, linda, não a vejo e sinto saudades.” E o interlocutor “era bom que fosse sexta, mas ainda é quarta-feira” e o brilho do olhar esmorece, a voz mais ténue por uns momentos, ganhando forças para continuar, como os olhos no chão recuperando o fôlego. “É que não a vejo há tanto tempo. De certeza que não é sexta-feira?”, e o outro já nem estranha a pergunta infantil. “de certeza, é quarta-feira.” “Mesmo assim, mesmo assim vou a casa. É uma viagem longa, vou pedir autorização e de certeza que me deixam ir, se lhes explicar que vou ver a minha filha, é impossível que não me deixem sair mais cedo, têm de compreender.” Enquanto fala, o seu braço direito retorce-se involuntariamente, a palma da mão vira-se para cima e os dedos curvam-se, formando uma concha. Este gesto, de tão habitual, tornara-se já conhecido, fazendo rir quem o observa. Mas desta vez o outro não se riu. Limita-se a encolher os ombros. “Por mim podes ir, creio que ninguém se importa.” E levanta-se, subitamente incomodado pela conversa, pois é do conhecimento geral que a filha não existe a não ser na mente do homem, um desesperado elo que ainda o liga ao mundo que já não é o seu.
O homem parece nem notar a súbita partida do seu companheiro de conversa. “Há tanto tempo que não a vejo, que vontade de a segurar, assim” e de novo o gesto a repetir-se, traços que restam de carinhos passados.

domingo, dezembro 02, 2007

o lambe-botas

Que o pseudo-engenheiro não tem formação, é já um dado adquirido. E que lhe falta também educação, há muito que se suspeita. Mas uma imagem e um gesto valem por mil palavras. Vejam como a ânsia de lamber as botas aos governantes estrangeiros o leva a ignorar uma pessoa (não importa quem) com quem falava inicialmente. Um gesto que diz tudo E é esta criatura sem educação que nos desgoverna...
(apressem-se a ver antes que o vídeo seja censurado no tube).