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sexta-feira, dezembro 14, 2007

60 anos de miedo escénico


O Santiago Bernabéu faz 60 anos hoje. Na feliz expressão que Valdano popularizou, este estádio provocava (e provoca) miedo escénico (medo do palco) a quem vem actuar nele. Equipas que tinham vencido os Blancos por um resultado que julgavam confortável chegavam a Madrid, entravam no estádio e, de repente, as tremuras nas pernas, o ruído ensurdecedor do público. Do outro lado da linha de meio-campo, o Real Madrid, onze atletas que chegaram onde todos os outros ambicionam chegar. A confiança dá lugar à dúvida. Quando a partida começa, os adversários percebem que actuar ali não é o mesmo que actuar em qualquer outro local. Há uma alma naquele palco que emudece, seca as bocas destes pobres actores que vêm de fora. As frases de comando não soam, a cortina sobe e os actores contemplam o abismo. O texto esquecido. Branco. Blancos. Como as camisolas dos verdadeiros actores e donos do palco. 1-0. 2-0. 3-0. 4-0. 5-0. 6-0. As famosas remontadas que fazem também elas parte do mito e da História do Real Madrid, do enredo de uma magnífica obra épica. Os visitantes, que entraram julgando-se actores, deixam relvado com a consciência de terem sido, afinal, testemunhas e figurantes. Derrotados, não deixam de lembrar o momento com orgulho. Estiveram lá. Viram e sentiram a alma do Bernabéu. Tem mais valor cair em Madrid do que ter sucesso em qualquer outro local. Tem sido assim ao longo de 60 anos. E continuará a ser.

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