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terça-feira, agosto 14, 2007

A luz e as 'trevas' (J. P. Coutinho)

"Conclusão lógica: se o Estado já ensina os petizes a procriar nas escolas, por que não ensiná-los a educar os rebentos quando tanta procriação dá, finalmente, os seus frutos? É a chamada 'formação parental', há oito anos prevista na lei, mas que aguarda ainda regulamentação. Ela virá até ao final do ano. E, com ela, virão sábios de todo o tipo, com o fatal dr. Daniel Sampaio à cabeça, dispostos a resgatar a Humanidade da escuridão onde ela viveu desde o aparecimento da primeiro hominídeo. É aliás milagroso que tenhamos chegado ao ano 2007 sem um Estado a orientar as famílias e, com violência crescente, a substituí-las. Como foi que os nossos antepassados conseguiram "cozinhar, acordar cedo para levar os filhos à escola e dar-lhes os medicamentos quando eles adoeceram" (sic)? Eu não sei. Mas aplaudo.
Aplaudo e, com total modéstia, lanço um repto para que o Estado não seja modesto. Deixar as famílias entregues ao seu destino não é apenas um crime. É, pior do que isso e como dizia o outro, um erro. O eng. Sócrates, por exemplo, podia propor em sede própria que todas as casas do país passariam a ter quarto privado, como antigamente acontecia com as criadas da província, para que um funcionário do Estado se instalasse por lá. A função desta caridosa criatura seria velar pela sanidade da família tradicional. À hora dos repastos, inspeccionar os excessos calóricos dos pratos. Depois dos repastos, medir a concentração tabágica na sala do lar. E quando os esponsais se recolhessem ao leito, inquirir, sem perturbar demasiado, se existe preservativo lá pelo meio ou se a posição não provoca lesões graves. Pessoalmente, creio que a ASAE, depois das bolas de Berlim nas praias, podia perfeitamente cumprir a função. Desde que, naturalmente, os agentes usassem colecte reflector. Por incrível que pareça, ainda existem uns selvagens que fazem tudo com a luz do quarto apagada."
(J. P. Coutinho, Expresso)

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