Tive a sorte de ter uma mãe com o bom senso de não me fazer enxoval.
Aquelas tralhas pirosas que as minhas amigas acumularam ao longo da inigualável década de 80 não entraram nas minhas heranças. Nem tive uma daquelas medonhas arcas em que todas elas encerravam as preciosidades recebidas em aniversários, Páscoas, Natais e afins.
Não, a minha rica mãe não teve esse acesso de precaução prematura pelo futuro da vida doméstica da prole. Pelo contrário, teve um rasgado e muito moderno sentido de maternidade esclarecida e muitas vezes lhe fui ouvindo (quando pedia esclarecimentos sobre o facto das minhas amiguinhas acumularem sacas de pão bordadas com espigas e bolsas para guardanapos) que o melhor era um dia - se esse dia chegasse - o do casamento - comprar tudo novinho, tudo moderno, tudo como eu gostasse. Ai como te agradeço essa visão sensata Maria!
Graças a isso não tenho que me limpar de manhã aos turcos decorados com rosinhas de cetim, ou dormir em camas de lençóis multicolores, ou desesperar-me com as toalhas com galos de barcelos que vou vendo em algumas mesas por aí. Ao invés disso, escolhi as louças clean, os turcos brancos, os lençóis alvos com bordado inglês, as toalhas variadas mas sem estampados de que só apetece fugir.
Claro que há sempre uma peça ou outra que apetece trazer como herança. Há linhos e porcelanas que nunca passam de moda. Cristais e vidros que já guardavam licores nos louceiros das avós. Talheres de prata desde o dia do baptizado. Rendas que já ninguém sabe fazer. Mas isso é outra história. São os objectos com estórias, com a história da família, da nossa, das que herdámos, e que vamos passar às nossas filhas. E desejamos que elas as estimem e que também um dia as passem aos filhos que possam vir a ter.
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