Quando a Z. me disse que já tinha cravetas no jardim pedi que me mandasse um molho delas. São as flores que mais me lembram a infância. Não há aroma que me recorde com tanta intensidade esses dias doces e longos como as cravetas do Vale Escuro, o pomar dos meus avós. Um lugar um bocadinhos místico onde morava um cágado, num poço, no meio do laranjal. Eu era minúscula, e ia aquele vale, sombrio, de vegetação densa e ficava entre o espanto e o medo, com os sons do que me parecia quase uma selva. E os cheiros eram realmente intensos. Muito rosmaninho e eucalipto, com a proximidade dos pinhais. E a minha avó a subir à laranjeiras. E eu a ficar outra vez cheia de medo. Porque ela ia cair. Só podia! Aquela mulher, pequenina, dobrada, a trepar aquelas árvores. E o cheiro das cravetas a ficar colado na minha pele e a minha voz a fazer eco no poço, quando eu desafiava o meu medo...
Isto tudo por causa das flores que vieram do jardim da minha mãe!
2 comentários:
E os goivos, lembraste dos goivos??!!!
Maravilhosos!
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