"Fecho os olhos por um momento e recuo cinquenta anos. Meio século, que me parece ontem! Um ténue esgar de felicidade, de contentamento, de alegria, eu sei lá, afaga este meu pensamento. Porque penso no Porto, no meu Porto, na minha querida cidade do Porto. Altiva, laboriosa e vibrante, autêntico motor da economia nacional, fiel às incontornáveis tripas, que pelo menos por duas vezes salvaram Portugal, o Porto afirmava-se, contrariando a vontade centralista, como um burgo muito respeitado. Não era a capital do Império, mas era o império da consciência lusitana!
Aconteceu, porém, que aos poucos, sorrateiramente ancorada na politiquice gulosa e desenfreada do Terreiro do Paço, sede imponente de todos os ministérios e sempre, mas sempre comprometida com um omnipresente "jet" qualquer coisa, que ganha riqueza fácil, mas não a produz, Lisboa, na hora de repartir apoios e investimentos, sem um pingo de pudor, reservou para si própria e para a sua tão protegida área metropolitana dois gordos terços dos recursos, aceitando conceder ao resto do país, qual dádiva magnânima, o terço que restava.
E assim, pé ante pé, com um calculismo e uma frieza dignas da melhor das ditaduras, Lisboa crescia... e o país definhava.
Foi-se o Banco Português do Atlântico, foi-se o Banco Borges & irmão, foi-se o Banco Pinto Magalhães, a União de Bancos Portugueses, o centenário Comércio do Porto, enfim, foram-se os anéis, ficaram os dedos! Entre esses dedos, calejados, mas carregadinhos de dignidade, tenazmente, estoicamente, houve baluartes que foram resistindo, que teimaram em não ceder, nem um palmo, àquela pressão asfixiante. Os exemplos não são muitos, mas são notáveis. A honorável e respeitadíssima Universidade do Porto, o Futebol Clube do Porto, pois claro, o JN!
O meu desejo e que aqui quero deixar bem expresso nestas breves linhas é muito simples, mas simultaneamente urgente! Que o JN volte a evidenciar o protagonismo de outrora , que merece sem dúvida, e que se assuma como locomotiva do Norte, recuperando também a liderança e a importância que tão justamente conquistou ao longo dos seus veneráveis 123 anos de vida, dando boleia nas carruagens da frente a todos aqueles que quiserem dizer, afirmar, gritar bem alto o que José Régio nos legou
"Não sei por onde vou - sei que não vou por aí"!
Pinto da Costa, presidente do Futebol Clube do Porto
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