Faltam dois anos para o centenário do 5 de Outubro de 1910. Mas até lá muito disparate se vai dizer e escrever sobre o acontecimento e sobre o regime que inaugurou. A Primeira República, como me dei ao trabalho de ensinar aos meus alunos (pedindo-lhes que ignorassem o que vinha no manual) foi uma pequena ditadura encapotada de regime democrático. Comparada com o período monárquico liberal, havia menos respeito pelos direitos e pelas liberdades. Foi um tempo de perseguição aos católicos, de expulsão dos jesuítas, de trauliteiros que espancavam os eleitores dos partidos da oposição. Foi o tempo em que se deu direito de voto às "mulheres" para imediatamente se retirar, quando se percebeu que as "mulheres", na época tendencialmente analfabetas e conservadoras, não alinhavam com a violência do regime contra a Igreja e, mais importante ainda, não aceitavam a fome e a opressão a que eram sujeitas. Foi também o tempo das perseguições aos "videntes" de Fátima e crentes. Foi um período de enorme instabilidade governativa, 8 presidentes da república e 48 governos em 16 anos. Foi o tempo da entrada (demagogicamente explicada como necessária para defender as colónias da ameaça alemã) na Grande Guerra.
Mas vamos, ao longo destes 2 anos, ouvir dizer que a I República foi precisamente o contrário: um regime de liberdade e democracia, "implantada pelo povo que estava farto da monarquia" (dito por João Soares). O grave não é esta gente dizer disparates do género. O grave é haver quem ache que a opinião deles é válida, mesmo sem ser fundamentada num verdadeiro conhecimento (adquirido com estudos profundos sobre a época). Um exemplo concreto: por que motivo aparece sempre o inevitável Fernando Rosas para falar sobre o regicídio? É que Rosas não fala como historiador, mas como político do BE, tendo em conta as ridículas intervenções (entretanto secundadas pelo ministro Severiano Teixeira, famoso por ter sido acusado de plágio num estudo precisamente sobre a I República). Esqueçam o que esta gente diz. Leiam Vasco Pulido Valente, Rui Ramos, Maria Filomema Mónica e Luís Fraga, que sabem do que estão a falar.
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