5ª feira passada. Amarante. Reunião com um auto-denominado grupo de apoio para os professores e formadores dos cursos CEF e cursos ditos profissionais. Chegamos à hora marcada, para esperar meia hora pelos membros que iam, pensávamos nós, esclarecer as nossas dúvidas. Aqui começou a ver-se a sua incompetência e a sua falta de educação. Se eu chegar meia hora atrasado ao meu local de trabalho, tenho falta. Esta reunião, parece-me, faz parte do "trabalho" desta gente.
Entramos na sala. Três mulheres e um rapazinho (recuso-me a chamá-lo de homem, pela postura demonstrada ao longo da hora e meia de disparates que proferiu) estão sentados a uma mesa. Nós sentamo-nos na plateia. Eles começam a falar. Não podia, naturalmente, faltar o inevitável e ilegível powerpoint que, hoje em dia, é um must em tudo o que são apresentações e conferências. De certa forma, é um bom subterfúgio para quem não sabe falar. Como era o caso.
Depois de uma apresentação plena de banalidades que todos já sabíamos, chegou a fase do esclarecimento de dúvidas. Pelo menos era esse o nosso objectivo. Mas rapidamente se percebeu que não falávamos a mesma língua. Ou isso, ou estávamos perante atrasados mentais profundos, o que não parecia ser o caso, porque não se babavam. Foi feita uma pergunta simples. A senhora número um não percebeu. A outra também não. O rapazinho, um tal de Paulo Silva (creio que era o nome) fez um comentário (julga ele) irónico, para depois se sentar com ar de agrado, cruzando a perna. Seria o primeiro de muitos, até que uma professora, da bancada, lhe lembrou que a falta de educação não era o melhor caminho para falar com pessoas que, supostamente, ele estava ali para "apoiar". O candidato a cómico do gato peçonhento acalmou um pouco a partir dessa altura.
As senhoras da mesa declaravam, vezes sem conta, que elas estavam no ensino. Uma está há muito "aposentada" no CAE, por isso presumo que não dê aulas há mais de vinte anos; a outra tem aparência de quem já tem uma boa redução da carga lectiva (beneficiando, presumo eu, ainda de fazer parte deste importantíssimo grupo de "apoio" criado pela DREN para aposentar criaturas do género). Ambas disseram que, com elas, tudo o que nós dizíamos funcionar mal funcionava realmente bem. Esquecem-se que quem tem redução e dá aulas a uma ou duas turmas tem todas as possibilidades do mundo de fazer permutas e organizar visitas de estudo nos dias sem componente lectiva, algo que a maioria dos contratados não pode fazer. O cómico (antes de ter sido chamado à atenção) lembrou que a segunda e a quarta-feira de carnaval eram bons dias para visitas de estudo. Não vale a pena dizer-lhe que os alunos não têm transporte das aldeias onde moram até à escola nesses dias, que muitas escolas fazem reuniões nesses dias, que muitos alunos se ausentam com os pais nesses dias. Não valia a pena dizer porque ele não sabe disto, nem quer saber. Foi só uma oportunidade de mandar a piadinha, sorrir alarvemente e cruzar a perninha. "És o sonho de qualquer mulher", comentou uma colega minha.
Assim que chegou a folha de presença, assinei e saí. Perdi uma aula com uma turma para que quatro ignorantes da realidade nos viessem dizer o que já sabíamos, negar o que se passa realmente nas escolas e tentar fazer de nós parvos. À porta fui vendo professores saírem. "Que idiotas", "haja paciência" e outros comentários que não vale a pena reproduzir aqui faziam-se ouvir.
Dei comigo novamente a concordar com Maria Filomena Mónica. Estes grupos, grupelhos e grupúsculos inúteis do ministério deviam ser destruídos a lança-chamas. Não cumprem a sua função (apoiar), revelam ignorância da realidade. Não percebo com que critério foram escolhidos. O cartão rosa? Amizade com a sra dra da dren (o que vai dar ao mesmo)? Alguma tese pseudo-científica na área da pedagogia? Um curso nocturno de humorismo com António Sala? Não sei, nem importa. O que sei é que se trata de gente paga para fazer de conta que apoiam os professores . Mas, como os próprios confessaram, este ano não foram a uma única escola dar o seu imprescindível apoio. Aparentemente, não o fizeram porque não foram "convidados". E eu a pensar que as portas das escolas estavam sempre abertas à comunidade. Não admira que ninguém os chame, sabem menos e ainda por cima são personagens hostis. E esta reunião serviu apenas para justificarem a sua própria existência.