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segunda-feira, janeiro 15, 2007

Grandes Portugueses II

1. Afonso Henriques
2. Álvaro Cunhal
3. António de Oliveira Salazar
4. Aristides de Sousa Mendes
5. Fernando Pessoa
6. Infante D. Henrique
7. D. João II
8. Luís Vaz de Camões
9. Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal)
10. Vasco da Gama
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Pois bem... Isto dá que pensar. Comecemos pelos dez finalistas e depois vejamos os nomes (alguns deles muito preocupantes, dos 90 mais votados).
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1. Finalistas.
De sublinhar, como aspecto interessante e positivo, a ausência de Mário Soares nos 10 finalistas. Poderíamos supor que ainda há esperança entre os portugueses (mas não se iludam, porque a esperança irá esfumar-se assim que virem os 90 mais votados)... Este aspecto, desde logo, mostra que, entre os vivos, pesa muito a memória mais recente. Soares pagou pelas asneiras dos últimos anos. Isto partindo do princípio de que o que estava para trás era melhor, mas enfim, há quem ache que sim...
O nome de Afonso Henriques é óbvio. Não poderia ser outro o mais votado (foi o primeiro dos meus dois votos). Se há grandes portugueses é graças a ele que criou os portugueses. Fundador da nação, apesar de uns quantos que a querem vender/dar a Espanha, não está esquecido. As aulas de História ainda servem para alguma coisa...
Cunhal em segundo lugar surpreende. Imaginava-o em terceiro. O Cunhal que aqui está não é o que existiu, mas sim a figura mitológica criada pela sua propaganda. Mas como isso vale para a maioria dos políticos que aqui estão, nada a objectar. Presumo, naturalmente, que o Cunhal que foi eleito seja o da luta contra o Estado Novo e não aquele que sonhava com um Portugal Comunista (ou seja, que queria a troca de uma ditadura por outra).
Salazar é outro nome incontornável. O Portugal do século XX, aquele que conhecemos ou do qual ouvimos falar, é o Portugal que ele criou e deixou. E se deixou muito de mau, é de lembrar que não é só obra dele, mas de alguns que se lhe seguiram ou que o antecederam. Salazar foi um governante típico da época em que chegou ao poder. Anos 30, a década de Mussolini (este surgido nos anos 20), de Franco, de Hitler, de Estaline. Em comparação com esta rapaziada simpática, o nosso presidente do conselho nem foi um mau rapaz...
Aristides de Sousa Mendes? Sinceramente, ficaria bem nos 90 mais votados, mas não creio que haja motivos para estar entre os 10 primeiros. Ok, ok, chamam-lhe o Schindler português, para muitos foi melhor ainda. Mas olhando para alguns dos nomes que se seguem e para alguns dos nomes que faltam...
Pessoa: nada a dizer, só colocaria Camões à frente.
Infante D. Henrique: aqui as aulas de História fizeram dano. Sobretudo as que gostam de mitos e não de factos. Se o objectivo era homenagear o iniciador da epopeia das Descobertas e da Expansão Portuguesa, o nome correcto a colocar aqui seria o do seu pai, D. João I. Seguramente um dos políticos mais inteligentes que Portugal teve. A ele muito se deve o facto de ainda existir Portugal.
D. João II: O homem do tratado de Tordesilhas, o príncipe perfeito que dividiu o mundo com os castelhanos... O estadista que abriu as janelas do reino para deixar entrar a brisa marítima carregada do intenso cheiro a especiarias. Para mais, há quem diga que morreu assassinado, vítima de conspirações... Uma boa escolha. Se fosse Afonso III, ou D. Dinis no seu lugar também não ficariam mal.
Camões: é, com Pessoa, o "embaixador" da poesia portuguesa. Eu colocava-o antes de Pessoa, mas ambos figuram bem aqui na lista.
Pombal: qual deles? O político déspota que assassinou e destruiu os seus oponentes? O político que expulsou os jesuítas? O político visionário que criou a primeira região demarcada de vinhos do mundo? O político que reconstruiu Lisboa e, numa outra vertente, o ensino universitário em Portugal? Uma figura adorada por muitos sobretudo porque viveu no século XVIII. Hoje os mesmos adoradores seriam os primeiros a odiá-lo.
Vasco da Gama: Navegador e diplomata, abriu as portas da Índia, terra de honra, proveito, fama e glória para a Coroa e os portugueses. No entanto, se virmos bem, limitou-se a ser puoco mais do que um porteiro. Porque não Afonso de Albuquerque no seu lugar?
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A ver pela lista dos mais votados, os portugueses valorizaram o período dos Descobrimentos. Só quatro nomes dos 10 não estão ligados a esse período (Cunhal, Salazar, Afonso Henriques e Pombal). Os Lusíadas são uma obra sobre a expansão portuguesa, e a Mensagem de Pessoa toca igualmente esse tema. "Ò mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal"... Mesmo Salazar não pode ser de todo afastado da temática, uma vez que fez da época dos Descobrimentos uma das sua bandeiras ideológicas e propagandísticas.
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Não há uma única mulher nos 10 mais. É natural, quando se olha para o passado. Talvez seja verdade o cliché que diz "por trás de um grande homem está sempre uma grande mulher", mas a verdade é que o olhar da memória só vê quem está à frente...
Quantas mulheres encontramos nos 100 mais votados? Se contei bem, estão 19. Bem, 17.5, já que uma não existiu (Padeira de Aljubarrota) e a outra deve ser erro informático ou anedota (maria do carmo seabra - deixem-me parafrasear o Primo Levi para lamentar "se isto é uma mulher!"). O nome de Catarina Eufémia também dá que pensar, é mais um caso de voto no mito e não na pessoa.

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