Seguidores

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

O regresso do lápis azul

A censura do lápis azul está de volta. Pelas mãos de Santos Silva, servente do engenheiro Sócrates. Sob o nome eufemístico de Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Já não bastava a autocensura habitual dos jornalistas que não queriam pôr em causa os seus postos de trabalho noticiando algo que desagradasse aos patrões ou ferisse as suas inclinações políticas de tendêcia PS ou BE. Agora vamos ter hordas de iluminados, donos do bom senso, conhecedores dos meandros tortuosos dos limites da liberdade de expressão, a invadir as sedes dos meios de comunicação social sem mandato judicial. Trata-se de pôr em causa a separação de poderes, dando a gente nomeada por Sócrates (segundo critérios que não passam, obviamente, pela capacidade dos escolhidos de exercer livre-arbítrio ou opinião discordante do chefe) funções reservadas ao poder judicial. Eis mais um passo de gigante do "totalitarismo" inerente ao governo sócrates, colocado no poder por um golpe de estado institucional (esse sim) de Jorge Sampaio. Com a presidência a mudar de mãos (portanto vaga), com o carnaval, a liga de futebol ao rubro e debates idiotas sobre a gripe das aves, o governo faz o que quer. Até aqui, teve como aliado uma grande parte da comunicação social. Pois, Hitler (apesar das óbvias diferenças, o método é parecido), também teve aliados. Que depois traiu. Também foi eleito democraticamente. Também limitou a liberdade de expressão em nome de valores supostamente universais (o Estado e o perigo do comunismo, na Alemanha, equivalentes, em Portugal, para as contas públicas, a Europa, as boas ligações com o Islão e os abusos de expressã de quem discorda do governo). Hitler teve sorte, o presidente entretanto morreu e o pequeno ditador acumulou os cargos de chanceler e presidente. Salazar foi convidado pelos militares que tomaram o poder e a presidência era aparentemente decorativa. Sócrates, no entanto, vai ter Cavaco Silva pela frente. E, se abrirem os olhos a tempo, também os jornalistas. E nós todos.
(Se pensam que exagero, leiam o Francisco José Viegas e o Vasco Pulido Valente.)

Revivalismos

Lembram-se da canção do Topo Gigio? E da publicidade da pasta medicinal couto? E da música das Cidades do Ouro? E etc etc? Pois podem regressar ao passado da nossa infância com alguns clics. Está (ou vai estar, porque a página está em actualização) tudo aqui:

http://www.misteriojuvenil.com/piratas_momentomagico.htm

sábado, fevereiro 25, 2006

Leonor ou Matilde

É sempre assim... Quando preciso de um livro, ele resolve abandonar a estante e situar-se em parte incerta. Mas recorri à net para procurar o significado dos nomes possíveis da minha futura sobrinha.
Em relação a Matilde, há unanimidade. É um nome de origem germânica, cujo significado é ""guerreira que combate com força / energia" (do germânico maht "força / vontade" e hild "combate". Matilda, Matilde ou Mathilda são algumas das variantes. Era o nome da mulher do Guilherme, o Conquistador, que liderou a vitoriosa invasão normanda da Inglaterra (por sinal, a última vez que a Grã-Bretanha foi conquistada).
(cf. http://www.behindthename.com/php/view.php?name=matilda)

Quanto a Leonor, as opiniões divergem. Umas fontes falam:
origem teutónica, com significado de “luz
ou
origem árabe (espero que esteja errada), com significado de “a sua luz é o Senhor
ou
origem francesa, com significado de “plena de compaixão” ou “filha de Aenor” ou “a outra Aenor
Esta última versão é curiosa. O nome Aenor terá origem grega (ou bretã), com significado de “luz brilhante” (“Éclat du soleil” na página que vi). Estávamos nós no século XII, quando uma dada senhora, precisamente de seu nome Aenor, terá dado à luz uma menina que foi baptizada com o nome da mãe. Para a distinguirem, a filha passou a ser chamada de "a outra Aenor" (em Provençal, alia + Aenor). A junção dos dois termos deu, então, origem ao Alienor, depois Eleonor, depois Leonor. Esta menina, Alienor / Leonor, foi a famosa Leonor da Aquitânia, casada com Luís VII, rei de França, e com Henrique II, rei de Inglaterra.
(cf. http://www.behindthename.com/php/view.php?name=eleanor)
Comecei agora um levantamento das opiniões. A minha mãe vota em Leonor. A Susana vota também em Leonor. Amanhã e domingo espero ter mais votos úteis.

Bolos!!!

Excelente ideia. Um dia destes faço-te uma encomenda para divulgar os teus talentos entre o grupo que tenho lá na parvónia (os que valem a pena, evidentemente). E se um projecto de abertura de um bar aqui em Coimbra eventualmente for em frente, quem sabe se não fazemos um contrato para fornecimento em dias / noites especiais? Isto se a maternidade te deixar algum tempo livre : )
Ouvi hoje o sr Balsemão dizer que o governo pretende domesticar a comunicação social (aparentemente quer criar uma comissão de censura, perdão, de regulação, que deverá ser financiada com dinheiro dado pelos próprios meios de comunicação social). A ideia é tão idiota que até merece uns comentários. Em primeiro lugar, se o que temos actualmente é a comunicação social não domesticada (presumivelmente em estado selvagem, espumando contra o governo do alto da sua independência e da sua superioridade moral) , imagino como será quando estiver "controlada". Mais vale editar em texto os tempos de antena do ps e do governo (aliás, de conteúdo pouco distinto das habituais páginas do Público que, salvo honrosas excepções, não é mais do que uma edição barbeada e asseada do Acção Socialista). Já agora, será que a taxa se aplica aos jornais de distribuição gratuita, como o Metro? E aos blogues e jornais online não pagos? E ao jornal (chamemos-lhe assim) que temos na escola, lá na parvónia?

Shipping news

O Shipping News está traduzido em português? Seria imperdoável se não estivesse, uma vez que se trata de um vencedor do pulitzer. Mas como cá tudo funciona por modas, o mais provável é ser agora editado no arrasto do Brokeback Mountain. Embora permanecesse desconhecida por cá, a verdade é que a Senhora já tem uns quantos prémios (e alguns são daqueles que asseguram qualidade, nada de duvidosos nobéis):
Pulitzer Prize
National Book Award
Irish Times International Fiction Prize
O. Henry Prizes (por duas vezes)
PEN / Faulkner Award
Um segundo volume de histórias sobre o Wyoming já saiu em 2004 e tem o título de Bad Dirt. Wyoming stories 2. Foi a minha opção para iniciação, já que gosto de conhecer os autores a partir dos contos (comprei o livro em bom preço na Bertrand, precisamente por vir referido na capa a autoria do Shipping news. Só depois descobri que também a "história do momento" era dela).

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Carnaval e foliões


Chegou o Carnaval e junto com ele a minha vontade de emigrar. Todos os anos a mesma euforia inexplicável e eu sem me habituar a estas importações do carnaval brasileiro. Sim, porque ao fim de tantos anos, já não me devia espantar com a demência dos foliões a tiritar de frio com as plumas baratas das lojas chinesas. Mas o espanto toma sempre conta de mim, confesso. É que, de facto, não temos o samba no corpo para andar com estas tontices. Ainda se a Daniela e a Gisele fossem portuguesas!...

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Bolos e Scones


Cozinhar é uma actividade que me agrada. A família e alguns amigos têm sido "acarinhados" com as minhas receitas. Ao final do dia ou ao fim-de-semana gosto ir para a cozinha. É aí que dou asas à criatividade, uma vez que no meu trabalho o rigor é uma ferramenta fundamental (nada de divagações). É com pouca modéstia que vejo reconhecido algum talento para esta actividade. Daí a pensar em "comercializar" essa aptidão foi um passo, passo pequenino. E assim, no sábado, vendi o meu primeiro bolo!!! É verdade! Um delicíoso bolo de chocolate e cerejas. Quem provou disse maravilhas. Por isso já sabem, quando quiserem encomendar, tenho disponíveis na minha lista os míticos scones pré-cozinhados e uma pequena variedade de bolos (para festas, aniversários, lanches e o que entenderem). Ainda abro uma loja...

Proulx


Há uns meses descobrimos no clube de video o Shipping News. Acho que o filme passou ao lado do circuito comercial e daí ser desconhecido para a maioria dos nossos amigos. Fiquei com vontade de ler o livro. A história é baseada num romance com o mesmo nome da Annie Proulx.
Agora que toda a gente anda delirante com o Brokeback Mountain (que ainda não chegou aqui), e que também é baseado num romance da mesma autora, fica aqui a sugestão do primeiro. Palpita-me que a história destes rapazes não é melhor do que o Shipping News. É tudo uma questão de publicidade.

domingo, fevereiro 19, 2006

Contenção...

A contenção do Orgulho e Preconceito é de facto um dos elementos que mais encantam. Sobretudo hoje, num mundo tão mudado, onde a regra condena precisamente essa contenção. No século XIX nem aos homens ficava bem mostrar que amavam abertamente (o sentimento era considerado uma característica feminina, contrária à razão e, por isso, enfraquecedora), nem às mulheres era permitido revelar um amor em relação ao qual não houvesse garantia de confirmação (ou seja, de casamento). Dariam sinais de frívolas, característica que um futuro marido certamente desdenharia. Podiam ser feias, até pobres, mas a respeitabilidade era imprescindível. Perdida essa respeitabilidade, à mulher nada mais restava senão viver sem o sonho de casar.
O casamento, claro está, era um contrato. Por isso, as partes agiam e negociavam com toda a cautela, de forma a conquistar a confiança. O amor, esse, vinha depois. Se viesse. As personagens da Jane Austen vivem neste mundo, mas há sempre uma que quer fugir dele (como muitas, na vida real, certamente desejavam). Os happy endings desta história e das restantes mostram-nos que havia optimismo e que era possível mudar a sociedade. Ela efectivamente mudou. E hoje, apesar dos divórcios e das solidões a dois, a verdade é que são mais os happy endings que as tragédias. O sentimento ganhou liberdade para se mostrar e superou (se bem que apenas à superfície) a racionalidade como principal factor das escolhas amorosas. No meio de tudo isto, perdeu-se a contenção. Porque o que importa hoje é viver em público o sentimento, mostrar que se ama mais, mostrar ao amado e aos outros. E os que amam em silêncio, os que receiam o beijo, os que travam as lágrimas? Esses vivem fora do seu tempo. Felizmente, têm sempre um mundo perfeito para onde voltar, num cinema perto de si ou num livro (da Jane Austen, evidentemente).

Obrigado Vanity Fair (vénias, vénias)

sábado, fevereiro 18, 2006

Oscars

O dia 5 de Março está a chegar. Os filmes candidatos já estrearam ou estão prestes a estrear. Tudo pode ser encontrado na página oficial dos oscars. Relembro aqui as principais categorias. Podem ir fazendo apostas.

MELHOR FILME:
Brokeback Mountain
Capote
Crash
Good night, and good luck
Munich

MELHOR ACTOR PRINCIPAL:
Philip Seymour Hoffman (Capote) - 1ª nomeação
Terrence Howard (Hustle and flow) - 1ª nomeação
Heath Ledger (Brokeback Mountain) - 1ª nomeação
Joaquin Phoenix (Walk the line) - 2ª nomeação (nomeado para melhor actor secundário no Gladiador)
David Strathairn (Good night, and good luck) - 1ª nomeação

MELHOR ACTRIZ PRINCIPAL:
Judi Dench (Mrs. Henderson Presents) - sexta nomeação; já ganhou o oscar de actriz secundária na Paixão de Shakespeare
Felicity Huffman (TRANSAMERICA) - 1ª nomeação
Keira Knightley (PRIDE & PREJUDICE) - 1ª nomeação
Charlize Theron (NORTH COUNTRY) - 2ª nomeação - já ganhou o oscar de melhor actriz secundária no Monster, de 2003
Reese Witherspoon (WALK THE LINE) - 1ª nomeação

MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO
George Clooney (SYRIANA) - 3ª nomeação (todas este ano, uma como argumentista e outra como realizador)
Matt Dillon (CRASH) - 1ª nomeação
Paul Giamatti (CINDERELLA MAN) - 1ª nomeação
Jake Gyllenhaal (BROKEBACK MOUNTAIN) - 1ª nomeação
William Hurt (A HISTORY OF VIOLENCE) - 4ª nomeação (vencedor de oscar para melhor actor principal no Beijo da Mulher Aranha

MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA:
Amy Adams (JUNEBUG) - 1ª nomeação
Catherine Keener (CAPOTE) - 2ª nomeação (a primeira foi pelo papel no filme Being John Malkovich)
Frances McDormand (NORTH COUNTRY) - 4ª nomeação, venceu o oscar de melhor actriz no Fargo
Rachel Weisz (THE CONSTANT GARDENER) - 1ª nomeação
Michelle Williams (BROKEBACK MOUNTAIN) - 1ª nomeação

MELHOR REALIZADOR:
MUNICH - Steven Spielberg - 11ª nomeação - 6ª para melhor realizador; vencedor do oscar para melhor realizador com Resgate do Soldado Ryan e Lista de Schindler
BROKEBACK MOUNTAIN - Ang Lee - 3ª nomeação, 2ª para melhor realizador (Tigre e o dragão)
CAPOTE - Bennett Miller - 1ª nomeação
CRASH - Paul Haggis - 2ª nomeação, 1ª para melhor realizador
GOOD NIGHT, AND GOOD LUCK - George Clooney - 3ª nomeação, 1ª para melhor realizador

Apostas: eu voto em Munich para melhor filme. Para além de ser um filme excelente, politicamente era um sinal fundamental, nos tempos de fraqueza de convicções do Ocidente. Mas como a Academia é tendencialmente politicamente correcta, deve ganhar o Brokeback Mountain. Assim, agrada-se a comunidade gay e não se incomoda a "rua árabe", seja lá o que isso for. Espero estar enganado.
Faltam-me ver muitos dos filmes candidatos, por isso não posso ter ainda uma opinião formada quanto a actores e actrizes. Mas se o oscar for para a Keira Knightley será muito bem entregue e ajuda a apagar a ausência da Scarlett Johansson da lista de nomeados. Quando é que vão abrir os olhos?!

disfunção pública

1. No início de Fevereiro recebi uma carta da secretaria da universidade. A carta vinha datada de 30 de Janeiro e foi escrita para confirmar que o meu pedido de adiamento tinha sido aprovado. Acontece que se trata de um pedido feito em 30 de Novembro para adiar a entrega da tese até 31 de Dezembro. Gastou-se tempo e dinheiro (no papel, no salário de quem escreveu e enviou a missiva e no selo da carta) para confirmar fora de tempo o que já não necessitava de confirmação. Será assim tão complicado confirmar por email (para que o interessado possa imprimir a mensagem para comprovativo) em prazo útil? Está certo, não sou o mais indicado para reclamar por causa do incumprimento de prazos, já que se os cumprisse não precisaria de pedir adiamento. Mas o único afectado aí sou eu.
2. Como o carnaval é um dia transformado em três e como não compensa trabalhar só pelos dois dias que faltam (excluindo já o sábado e o domingo, que por cá nunca contam), nem imaginam a quantidade confirmações de consultas e atestados que se vão passar com essas datas. Muitos já falam nas "férias" que aí vêm e (a parte mais divertida) riem-se de quem fica.
3. Na última Sábado, o Nuno Rogeiro elogiava os cafés e restaurantes abertos 24h. No estrangeiro, evidentemente. Por cá, para além dos restaurantes de Coimbra que fecham no período de férias, precisamente quando há turistas para os frequentarem, ainda se torna difícil fazer uma refeição fora do horário tradicional. A partir das 14h não se almoça, a partir das 22h30 não se janta. Claro que depois reclamam porque o MacDonalds tem muito público.
4. A escola comprou computadores novos. Fechou-se a biblioteca durante dois dias para serem colocados. Mas não há ninguém para instalar os programas (parece que falta instalar um antivirus). Por isso, eles estão lá, todos com um papel colado que nos diz "não mexer", a enfeitar as mesas. Na sala de informática é preciso andar a trocar os ratos de pc para pc porque a maioria não funciona. A escola diz que não tem verbas para comprar mais. Ratos. Que custam €5. Na sala de professores há um pc para todos. É o mesmo que dizer, para ninguém. No executivo, há um para cada elemento. Assim, cada um pode jogar à paciência sem tirar a vez do outro.
5. Também na biblioteca da escola, os alunos podem (ou podiam) usar o pc, mas acompanhados por um professor. Podem escrever lá os seus textos, ou fazer pesquisas na internet. Mas só podem usar diskettes novas. Nada de disquettes usadas (parece que são portadoras de vírus, há um medo terrível de uma epidemia informática lá na parvónia). Assim, se estiverem a escrever um texto que exija mais de um dia de trabalho para ser concluído (e o desejável é que todos fossem assim), a única solução será escrever pedaço a pedaço, uma diskette por dia, e juntar tudo no pc lá de casa. Quem não o tiver, bem... Que escreva à mão.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Orgulho...


Quem leu Jane Austen uma vez volta sempre. Agora que assisti ao filme não resisti e abracei o "Orgulho e Preconceito" com uma devoção que não se explica. A personagem do Darcy, tanto no livro como nesta visão cinematográfica é fascinante. O que realmente gostei no filme é da contenção. A chuva que se mistura com as lágrimas que não caem, os beijos que não acontecem, os "amo-te" que não se dizem... e a fotografia absolutamente espantosa. Saí da sala inebriada, apaixonada pelo meu amor, encantada com um "happy end". Lamechas? Romântica? O que vocês quiserem!

Fogueira dos heréticos



Para que não restem dúvidas: sou católica (ou tento ser, com coerência) e não fico chocada com estas imagens. Aliás, até sou capaz de sorrir perante elas. Acredito que dependendo da sensibilidade de cada um, elas (imagens) podem ser olhadas de maneiras diferentes pelos católicos mas já ninguém espera ser queimado na fogueira dos heréticos. E isso faz toda a diferença na nossa civilização, digo eu.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Jorge

O mundo às avessas por causa de cartoons, o fundamentalismo/terrorismo nas ruas, desta vez sem vergonha, assumido e deliberadamente propagandeado contra o Ocidente (li algures que há 3 ou 4 meses se conhecem os cartoons no mundo árabe, mas que só depois de uma recente reunião de líderes árabes foi decidido tirar proveito do tema), um empresário corajoso que se propõe fazer o que o Estado não sabe, não tem a coragem para, não consegue ou simplesmente não quer fazer, sim, pôr algumas dezenas de milhares de funcionários públicos a trabalhar e despedir os outros (veja-se a aflição dos sindicatos da PT, todos os dias emitem novas opiniões, num dia ele vai desmembrar a PT, no outro o Estado deveria manter as golden share, etc, etc...), a minha mulher deitada de lado já não cabe na cama (para quem não sabe, vou ser pai), Freitas do Amaral entrou definitivamente em despiste e não nos dá sequer tempo da gente se recompor de uma, vem logo com outra pior (um jogo de futebol?). Não bastava o panorama, ainda tive o azar de ler hoje (e logo hoje) no DaLiteratura o seguinte:

Faz hoje um mês o senhor Presidente da República falou ao país. Em síntese, disse que estavam em jogo «direitos fundamentais dos cidadãos», razão que o obrigara a exigir do procurador-geral da República um esclarecimento cabal, a prestar em «prazo curtíssimo». Estribado no prazo, o PGR adiou por três dias a ida à comissão parlamentar que o convocara. Afinal, o prazo do presidente tinha precedência. Passou um mês. Ninguém se lembra das listas da PT. Ninguém se preocupa com o prazo. Há quem argumente que o esclarecimento não era para nós, era para o dr. Sampaio. Ou que tudo não passou de um equívoco. Em qualquer dos casos, quem deve exigir um esclarecimento são os cidadãos cujos «direitos fundamentais» foram ofendidos, sem que se perceba porquê, e por quem.

Vocês desculpem esta minha obsessão por funcionários públicos incompetentes, mas a verdade é que nasci e cresci num sítio onde pura e simplesmente se vive da iniciativa privada, onde tudo tem prazos, responsáveis e nomes próprios. A gente aprende a sobreviver à custa das nossas responsabilidades. Mas que moral tem ou que exemplo dá este Jorge Sampaio para exigir o que quer que seja de quem quer que seja?! Com que monstruosa lata vem este tipo falar de centros de excelência, da elevação dos nossos padrões de exigência ou do aumento da produtividade? Como é que a gente o pode levar a sério? Um mês, senhores! E nada. Nem obtém respostas, nem toma medidas! Só depois me lembrei: ele também deve ser dos tais funcionários públicos. Calma, amigo, que isto não é para se fazer. É para se ir fazendo...
Vou emigrar... Porque é que não há aviões para a Lua?

Cheira a Primavera

A Primavera, Sandro Botticelli

Feliz, feliz, porque aqui já parece Primavera!

Agostinho da Silva


Começaram as comemorações do centenário de nascimento de um dos maiores "pensadores-vagabundos" do nosso rectângulo. E claro que a RTP não deixou passar isso em claro, afinal ainda lhe chamam "serviço público". Mas pergunto eu, na minha (todos os dias confirmada) ignorância, quem vai assitir à série de entrevistas a passar na 2, com início cerca da 00.30h?
Aqui ficam algumas palavras de Agostinho, mais actuais que nunca, numa esfera onde cada vez parece mais perigoso dizer o que se pensa.
“Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não são seus. Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu; mas, nessa altura. já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se a1guns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem”
(Agostinho da Silva, "Cartas a um jovem filósofo")

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

a receita milagrosa do ministro

"Kofi Annan garantiu que não há provas que a Síria e o Irão sejam responsáveis pela violência contra a Dinamarca. Kofi Annan sabe com certeza que não cai uma folha na Síria e no Irão sem licença do governo e com certeza também notou, como de resto o mundo inteiro, que a polícia assistiu tranquilamente enquanto a "rua" assaltava embaixadas, com o emblema e a bandeira nacional à vista. Na ONU, a mentira sempre foi um modo de vida e este episódio já não surpreende ou indigna ninguém. Mas não nos venham depois dizer que a ONU é uma fonte de legitimidade. De corrupção e facciosismo, sim. De legitimidade, não."
É um facto. Sempre que Kofi Annan fala, o ar empesta-se com o cheiro a petróleo.
Já quanto Freitas fala, os sentidos bloqueiam com o pasmo. A última proposta, de organizar um campeonato de futebol entre selecções europeias e asiáticas é o cúmulo do absurdo. Já agora, será que Israel e a Índia também poderiam participar, ou só os adeptos do Islão têm qualificação assegurada? E que fazer com o Sudão, a Nigéria, Marrocos e afins, também islâmicos, mas que não ficam exactamente na Ásia. Vê-se que a proposta foi fruto de grande meditação e ponderação. Acreditará também o sr ministro que o futebol estreita os laços entre os povos? Como faz entre brasileiros e argentinos? Entre ingleses e turcos? Entre portugueses e franceses? Entre italianos e alemães? Ou como faz entre habitantes do mesmo país, como benfiquistas, portistas e sportinguistas, merengues e cules, deportivistas e adeptos do celta, adeptos do Arsenal e do Manchester, adeptos da académica e do guimarães? Aliás, todos nós vemos como, dentro da mesma cidade (!!!) a rivalidade desportiva une as pessoas: que o digam os habitantes de Milão, de Londres, de Lisboa, do Porto, de Atenas, de Madrid, de Barcelona etc... etc...
Freitas no seu melhor. Esta gente anda a tentar curar o cancro com aspirinas.

Prometeu e Pandora

Mais do que uma filha de Zeus, Pandora foi um instrumento de punição. Tudo começou quando Prometeu criou os humanos a partir da argila, à imagem e semelhança dos olímpicos (hum, onde é que já ouvi esta história?). Encantado com a sua criação, Prometeu resolveu roubar o fogo aos deuses e oferecê-lo aos seus pequenos mortais. Claro que o Zeus, com o bom feitio que o caracteriza, não gostou do feito. E demonstrando uma ligeira falta de poder de encaixe, acorrentou o traidor e condenou-o ao eterno castigo de ter uma águia a comer-lhe o fígado todos os dias (algo parecido com o padecimento dos adeptos do fcp sempre que o benfica ganha um jogo). Claro que, sendo imortal, o infeliz do Prometeu não morria, o fígado crescia todas as noites e, na manhã seguinte, lá vinha o pássaro para o seu banquete.
Porém, Zeus não estava ainda satisfeito. Tinha também de se vingar dos humanos. E para o fazer, fez a primeira mulher, a nossa Pandora, dotando-a (com a ajuda das deusas) de beleza, encanto, curiosidade, ignorância e muitos outros atributos pouco recomendáveis. O resto da história é conhecida. Os homens viviam felizes num mundo sem maldades, mas a curiosa Pandora abriu a caixa e soltou os males pelo mundo (uma mulher culpada pelos males do mundo e pelo sofrimento dos homens? hum, onde é que eu já ouvi isto antes?).



Pandora

Pandora, era filha do deus grego Zeus e recebeu de seu pai uma caixa que nunca deveria abrir. Está claro de se ver que a moça resistiu por pouco tempo à curiosidade. Isto de fazer as pessoas prometerem o impossível tem as consequências que se sabe. Ao abrir a caixa, Pandora verificou que ela continha todos os males e bens do Universo (Guerra, Amor, Justiça, Paz...) e deixou-os sair. Só foi a tempo de a fechar quando unicamente lá restava a Esperança...
Bom, mas não foi para falar de mitologia que escrevo, mas para vos falar de outra Pandora. Em www.pandora.com cada um de nós pode criar a sua própria rádio. Sim, as novas tecnologias são um mundo cheio de surpresas e que permitem gestos tão poderosos quanto esse. A partir de agora, pelo menos em frente ao meu pc, ouço as músicas que escolher, numa rádio, sem ter que me limitar ao cd. No elevador, no hipermercado, no consultório médico terei de gramar com as escolhas dos outros, mas isso é outra história.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

está a nevar, está a nevar!!!

Mundo kafkiano

Descubram qual é a lógica.
Tenho licenciatura em História e estágio correspondente. Posso dar aulas do 7º ao 12º ano. E posso concorrer para dar aulas ao 5º e 6º anos. Só não posso é dar dar aulas ao 5º e 6º anos se entretanto aparecerem horas na escola e eu tiver horário para completar. Por isso, quando surgiu um horário de 2º ciclo na escola, a DREC, do alto da sua sabedoria, considerou-me sem habilitações para a função. Colocou alguém certamente mais habilitado, uma prof sem estágio e licenciada em línguas. Entretanto, soube que na parvónia ao lado há um horário de história, também de 5º e 6º ano à espera de candidato. 5h. Aconselharam-me a concorrer. Porquê? Parece que como a colocação deste último é feita por oferta de escola já tenho habilitações. Assim, se por alguma razão eu optar por concorrer às horitas, fico na seguinte situação: sem habilitações para dar aulas na minha escola a turmas de 5º e 6º, mas com habilitações para dar aulas na escola ao lado a turmas dos mesmos anos. Entretanto, na minha escola há alguém que para lá se descola para as 4h do 2º ciclo. E eu cruzar-me-ei com ela no caminho, em direcção à outra escola. E depois dizem que o ensino é mau. Pudera, com gente deste nível a gerir e a tomar decisões brilhantes...
Lembram-se do Nove canções? Aquele filme porno de má qualidade, que fez com que o Garganta Funda pudesse sonhar com um oscar de melhor argumento e realização? Pois bem, há um ainda pior. Sim, é possível. Chama-se The Brown Bunny e foi realizado (ou melhor, filmado) por Vincent Gallo. Um ronco sem história ou diálogo, desinteressante do princípio ao fim. Apenas uma cena explícita de sexo oral para atrair a atenção da crítica e enganar dois ou três tipos facilmente influenciáveis por referências como "a melhor cena de sexo oral do cinema". A sério, não vejam. Nunca vai dar na tv, por isso o risco é menor, mas nunca se sabe. Há sempre um conhecido que se pode lembrar de nos querer emprestar uma cópia (será que existe o filme em dvd? - pergunta retórica, não quero mesmo saber). Recusem. Peçam antes o já citado Garganta Funda. Pelo menos é um clássico e sempre se pode justificar dizendo que estamos a fazer uma pesquisa para perceber melhor o documentário Inside Deep Throat, que estreou recentemente.

Depressão

Valdano escreveu que no Madrid a alegria da vitória dura até ao final do jogo, enquanto que a tristeza e a revolta da derrota perduram até ao jogo seguinte. Deve ser por isso que entrei em depressão... Pelo menos até ao próximo jogo. Mas a solução está, a longo prazo, em fazer mais do que esperar pelo jogo seguinte. Mudar o treinador, não por mudar. Mudar para O TREINADOR. Ele mesmo, Fabio Capello. Acusado de simpatias pelo generalíssimo por ter elogiado a disciplina (simpatias já desmentidas pelo próprio), é o melhor para o lugar. Porque sabe mais de futebol que qualquer outro treinador. E porque tem como exigência a saída do maior cancro do Real Madrid, de seu nome Ronaldo. A grande (!) estrela que nunca ganhou nada nos clubes onde esteve (excepto pela selecção, mas todos nos lembramos das arbitragens do último mundial).

Contra a corrente


Agora que todos têm uma opinião a dar sobre as caricaturas; a liberdade de expressão; o domínio do islão sobre a política e economia ocidental, e por aí fora, lembrei-me de voltar à neve, uma vez que a euforia do país pintado de branco já passou. É o que se chama "remar contra a maré", ou "andar contra a corrente". E, no fundo, as imagens da neve dão-me alguma paz, não sei porquê, mas Freud deve explicar.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

el récord para el Madrid

O record de maior número de vitórias consecutivas na liga espanhola pertencia ao Real Madrid de Di Stefano, Puskas e Gento, a fabulosa equipa das primeiras cinco taças dos campeões, a mesma que, para obter esse record, passou por Camp Nou e goleou por 3-5. Pois ontem o Barcelona de Rijkaard estava a uma vitória de igualar esse record e ficar na história do futebol espanhol, algo que nem o dream team de Crujff, Romário e Stoichkov conseguiu. O Barcelona tinha tudo a seu favor. Jogava em casa, contra um Atlético de Madrid bastante oscilante, a revelar mau futebol e que tinha mudado recentemente de treinador. Os jogadores estavam moralizados e (não esquecer) havia sempre a segurança das decisões arbitrais a seu favor, caso a situação se proporcionasse. Só faltava Ronaldinho, nada que Messi e Deco não compensassem, pensariam os adeptos blaugrana. Afinal, faltava muito mais do que isso. Porque a este Barcelona (que todos elogiam apesar de nada ter ganho, a não ser uma liga de Espanha, feito que o Depor e o Valência também conseguiram recentemente), a este Barcelona, dizia, falta a aura de campeão, falta a chama que ilumina e move os verdadeiramente grandes. Dizem as crónicas que o treinador se acobardou, montando uma equipa com as peças mal posicionadas. Eliminou Deco tentando fazê-lo jogar na posição de Ronaldinho, mudou a defesa, mostrou, em suma, medo ao adversário. E o adversário sentiu os tremores do anfitrião e tomou conta do partido. Resultado final, 1-3 para o Atlético. O Barcelona fica a uma vitória de chegar ao nível do Real (uma vitória que representa um mundo de diferença). E, ironia do destino, os adeptos do Atlético ficaram divididos entre a alegria da vitória e a amargura de terem contribuído para manter a glória do seu rival merengue. Também así así gana el Madrid...

sábado, fevereiro 04, 2006

Finalmente

Está entregue. Depois de várias noites sem dormir, depois do apagamento completo do portátil que não resistiu à maratona, depois de reler e rever e reler e rever novamente, mesmo assim com os erros a fintarem o olhar. Como sempre, a pressa levou-me a esquecer que também precisava de um exemplar para mim. Mas está entregue. E só falta a pior parte, aquela que eu dava tudo para não ter de fazer. Pelo menos recuperei uma grande parte da minha vida. Livre, finalmente livre... E mesmo a tempo dos oscars.
E a propósito de cinema, não perder Matchpoint, do Woody Allen. E da Scarlett Johansson (como nunca a viram antes). Não é uma comédia, é um drama e bem pesado. A crítica não gostou, evidentemente. Por isso, recordo esta frase do Nabokov:
«A crítica pode ser instrutiva no sentido de que dá aos leitores, incluindo o autor do livro, informações sobre a inteligência, ou a honestidade, ou ambas, do crítico»
V.Nabokov, Opiniões Fortes, Lisboa, Assírio & Alvim, 2005.