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domingo, fevereiro 19, 2006

Contenção...

A contenção do Orgulho e Preconceito é de facto um dos elementos que mais encantam. Sobretudo hoje, num mundo tão mudado, onde a regra condena precisamente essa contenção. No século XIX nem aos homens ficava bem mostrar que amavam abertamente (o sentimento era considerado uma característica feminina, contrária à razão e, por isso, enfraquecedora), nem às mulheres era permitido revelar um amor em relação ao qual não houvesse garantia de confirmação (ou seja, de casamento). Dariam sinais de frívolas, característica que um futuro marido certamente desdenharia. Podiam ser feias, até pobres, mas a respeitabilidade era imprescindível. Perdida essa respeitabilidade, à mulher nada mais restava senão viver sem o sonho de casar.
O casamento, claro está, era um contrato. Por isso, as partes agiam e negociavam com toda a cautela, de forma a conquistar a confiança. O amor, esse, vinha depois. Se viesse. As personagens da Jane Austen vivem neste mundo, mas há sempre uma que quer fugir dele (como muitas, na vida real, certamente desejavam). Os happy endings desta história e das restantes mostram-nos que havia optimismo e que era possível mudar a sociedade. Ela efectivamente mudou. E hoje, apesar dos divórcios e das solidões a dois, a verdade é que são mais os happy endings que as tragédias. O sentimento ganhou liberdade para se mostrar e superou (se bem que apenas à superfície) a racionalidade como principal factor das escolhas amorosas. No meio de tudo isto, perdeu-se a contenção. Porque o que importa hoje é viver em público o sentimento, mostrar que se ama mais, mostrar ao amado e aos outros. E os que amam em silêncio, os que receiam o beijo, os que travam as lágrimas? Esses vivem fora do seu tempo. Felizmente, têm sempre um mundo perfeito para onde voltar, num cinema perto de si ou num livro (da Jane Austen, evidentemente).

1 comentário:

Anónimo disse...

Só hoje descobri este blog hoje e fiquei impressionada, sobretudo com este post. De facto, actualmente o mundo não tem espaço para os que amam em silêncio, como se esse amor fosse menos merecedor...