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terça-feira, março 21, 2006

Ainda e sempre os livros


Aos vinte anos, Rodrigo Guedes de Carvalho escreveu o seu 1º romance. Devia ter essa idade quando o li. Na ocasião, pareceu-me um livro diferente, e lembro-me de ter gostado, ainda que pouco recorde do que lá está escrita. Se faço um exercício de memória, pouco mais me ocorre que a descrição de luz a espreitar por uma persiana e a solidão. Passados mais de 10 anos, volto a ler um livro dele. Ofereci alguma resitência a esta "Casa Quieta". Acusam-me de algum snobismo nas escolhas literárias. Aceito. Por vezes deixo de ler algumas obras por duvidar da competência dos autores, porque não são escritores mas escrevem livros. De facto, prefiro ler escritores. Contudo, o Lobo Antunes, meu autor predilecto na literatura portuguesa, fez a apresentação do livro no dia do lançamento e eu fiquei logo com a pulga atrás da orelha - o quê, o António a apresentar este livro, de um jornalista? Mas agora este gajos da televisão têm a mania que são escritores?! Quando muito, escribas de 5ª categoria - mas nem eu própria fiquei convencida com o meu cepticismo. Vai daí, um dia, dou com o calhamaço em casa do Fernandes (o meu querido sogro) - Oh Fernandes, quando acabar de ler este, posso levá-lo para baixo? - Ainda por cima, ouço o rapaz na conversa com a Sousa Dias, e gosta-se daquilo que o rapaz debita - Guida pá, se o gajo acha o ALA o melhor escritor do mundo; deu à filha o nome de Benedita e nasceu no Porto, começas a ter poucos motivos para não leres o raio do livro! - Pronto, acabei por trazer o livro, já o Fernandes o tinha colocado no meu saco, sem eu pedir. A semana tinha começado muito mal com a morte de uma amiga. Hesitei começar a ler porque sabia que o tema era também esse, a morte de uma mulher. Depois pensei que até podia ajudar. Sei lá, podia ajudar-me a encontrar uma explicação, a exorcizar a dor... Ora bem, já o li. Explicações não encontrei, o nó na garganta também não desapareceu, mas descobri o escritor por detrás do jornalista, o tal do "país e o mundo". O rapaz tem potencial. E é claro que o ALA não dá a cara pelos rabiscos de qualquer um! Fica pois a recomendação, sobretudo para quem gosta de enredos deprimentes e algumas semelhanças com o estilo do António.

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