Seguidores

sexta-feira, março 07, 2008

"Em trinta e quatro anos de democracia nunca conheci um tão profundo mal-estar nas escolas. Professores dedicados e competentes, incapazes de faltar a uma única aula lustros a fio, estão profundamente desmoralizados. Vêem que o que mudou, até agora, foi essencialmente a vinda de sobrecargas inesgotáveis de trabalho burocrático à escola. Não lhes sobra tempo para tentarem melhorar as suas práticas com os alunos. São coagidos a trabalhar apenas para o relatório. Depois de terem ficado anos à de espera do novíssimo funil de lata da progressão na carreira, apenas vergada à manha do Orçamento que só pensa pagar um pouco mais ao menor número possível.
No bracinho de ferro entre os professores e a agente da autoridade da 5 de Outubro e apesar das debilidades de alguns, no essencial, aqueles têm razão. E apreendem finalmente que fazer ponte à sexta-feira, ao abrigo da lei da greve, nada muda. Nem dá consciência tranquila a fins-de-semana prolongados. Mas têm de aceitar inequivocamente a avaliação idónea e experimentada do seu desempenho e promover, com a comunidade, uma mudança sustentada da escola em benefício dos seus alunos e dos cidadãos. Não se esquecendo de explicar, muito bem explicadinho, que a parte de leão do abandono, do insucesso e da indisciplina, entra na escola, está na escola. Mas vem coriácea, todos os dias, da casa de muitos pais distraídos da educação dos seus filhos desde o berço. E que exigem que a escola, onde os depositam, faça milagres."
José Alberto Quaresma, no Expresso

Sem comentários: