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segunda-feira, setembro 03, 2007


O que fez tantos países nascidos da fragmentação dos domínios coloniais europeus, na segunda metade do século XX, adoptarem modelos de governação comunista? A apetência dos líderes africanos para regimes ditatoriais não é uma explicação suficiente, pois poderiam (e alguns fizeram-no) implementar regimes ditatoriais mais próximos do Bloco Ocidental. Christopher Andrew, no seu The World was going our way - the KGB and the battle for the third world Basic Books, 2005 (achado a óptimo preço na fnac: €7), procura outras explicações.


Desde logo, aponta para um plano claramente definido pelo KGB para apostar na conquista ideológica do 3º mundo (Cuba, também Ásia e África) como arma determinante na luta contra o Capitalismo/Liberalismo (que eles associavam também ao conceito de Imperialismo). Esse projecto do KGB nem sempre foi apoiado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros Soviético, mas os serviços secretos mantiveram a sua linha de rumo. Os soviéticos esperavam não só expandir a ideologia comunista, mas ganhar mais votos nas Nações Unidas para também nesse palco combater os EUA.


A identificação de Imperialismo com Capitalismo serviu também para colocar os novos países africanos do lado dos inimigos do capitalismo. Para muitas das "elites" africanas, a presença do país colonizador era vista como desastrosa (o conceito de que o imperialismo era algo de necessariamente negativo de desastroso tem também a sua História - propagou-se precisamente ao longo dos anos 70). Os países colonizadores eram todos europeus, mas as intervenções desastrosas (embora algumas provavelmente necessárias) dos EUA na América Latina, em Cuba e no Vietname só serviram para alargar aos americanos o carimbo de imperialistas, apesar dos apoios claros dados pelos EUA à doutrina que conduziu aos processos de descolonização após a II Guerra Mundial. O McCarthismo (ou Caça às bruxas), o assassinato de Kennedy (nota curiosa: o boato que associa a CIA à morte de JFK foi lançado pelo KGB), o escândalo Watergate e os problemas raciais que se viviam no seu interior (a segregação, uma realidade ainda nos anos 60, impedia naturalmente os líderes africanos de sentirem simpatia pelo regime americano), foram também muito negativos para o prestígio dos EUA.


Ao mesmo tempo, o modelo de desenvolvimento económico soviético (iniciado com Estaline e às custas de milhões de vítimas, exploradas ou mortas) era tentador para os países do terceiro mundo: tal como os soviéticos, poderiam (acreditavam eles) crescer rapidamente a nível económico e industrial e, ponto fundamental, com o apoio soviético poderiam fazê-lo sem necessitar de apoio, capital, técnicas, técnicos e conhecimentos oriundos dos ex-colonizadores. Em 1964, Khrushchev lembrou com orgulho os mais de 6 mil projectos desenvolvidos em África pelos soviéticos, em apenas 10 anos.


Naturalmente, o modelo soviético falhou em África e também na URSS. No final dos anos 70, a URSS via-se na necessidade de importar cereais a partir do Ocidente (mais de 22 milhões de toneladas só em 1977), os gastos militares não paravam de crescer, as despesas com os projectos africanos também se multiplicavam. O resultado é o que se sabe. Gorbatchov limitou-se a abanar a estrutura já arruinada.

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