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quarta-feira, agosto 06, 2008

Ver com atenção (e preocupação)

Esta reportagem sobre o ensino no Brasil. É uma boa forma de ver para onde caminhamos, uma vez que estas ideias estão a ser implementadas cá em Portugal (por exemplo, a passagem automática do 1º para o 2º ano; algumas teorias de treta das "ciências" da educação; a defesa da ideia de que o aluno só deve ser reprovado no final do ciclo e não no final de ano...).
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O nosso ensino vai-se tornando cada vez mais infantilizado. A última medida do ministério foi a de reduzir o número de professores por turma no 2º ciclo. Pelos vistos, a passagem de um professor do 1º ciclo para nove no 2º ciclo era "traumatizante". Para além de ser uma ideia absurda, é falsa, porque há muito tempo que no 1º ciclo os alunos têm mais do que um professor: além do professor que dá as aulas regulares, têm um professor de educação física, um de inglês, um de informática, um de música ... consoante a oferta da escola.
Naturalmente, há vantagens e desvantagens desta medida.
Vantagens: dando várias disciplinas à mesma turma (por exemplo, matemática e ciências da natureza ou português e história e geografia de Portugal, mais estudo acompanhado, área de projecto e formação cívica), os professores passam muito mais tempo com os alunos e acabam por os conhecer melhor; também acabam por ter menos turmas (logo, menos alunos e menos reuniões de treta), o que significa que, em teoria, se poderão dedicar mais a estes alunos.
Desvantagens: os professores são especializados numa área, não em duas. É certo que há cursos das ESE que preparam (salvo seja) professores para mais de uma área (a mais divertida de todas é o professor do 1º ciclo, variante de educação física). Acabando por leccionar áreas nas quais não são especialistas, a qualidade do ensino vai naturalmente sofrer. Acaba por haver uma maior insegurança, por muito que o docente se prepare (não é um ano de estudo auto-didacta que substitui 4 anos de ensino superior, ao contrário do que podem pensar os analfabetos que povoam o ministério - e governo). E essa insegurança vai conduzir, em muitos casos, a um ensino mais superficial, a uma avaliação artificialmente mais benévola e, mais grave, a uma pior preparação dos alunos.
Outra desvantagem, de natureza humana ou pessoal. É sabido que o aluno esforça-se mais e gosta mais de uma disciplina quando gosta do professor. Se, por acaso, o aluno não gosta do professor (ou vice-versa) os resultados serão piores não em uma, mas em várias disciplinas.
Última desvantagem. Imaginemos que um professor adoece (algo que, em larga medida, o ministério e muitos conselhos executivos não permitem que aconteça a não ser que avise com 5 dias de antecedência) e não pode dar aulas durante 20 dias, por hospitalização. Não pode ser colocado outro professor no seu lugar (o processo é tão burocrático que exige que a ausência por doença seja superior a um mês). Os alunos perderão, dessa forma, dias inteiros de aulas (em vez de uma só disciplina). Ah, existem as fantásticas aulas de substituição. Assim está bem, nesse caso os alunos perdem os dia inteiros de aulas ... na companhia de vários professores que desconhecem.

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