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terça-feira, maio 09, 2006

Regresso à Queima

Pela primeira vez, ao fim de vários anos de relutância, voltei à Queima. Pela primeira vez no queimódromo, nome foleiro mas, ainda assim, mais decente que o ridículo Praça da Canção (insuportáveis estas homenagens de vacuidades a outras vacuidades, pior só ter um Estádio Sérgio Conceição). O queimódromo tem desvantagens (a ausência de relva), mas tem mais espaço e evita os estragos que o parque sofria todos os anos. O palco está logo à entrada, ao contrário dos tempos do parque, em que era preciso percorrer o recinto todo para ouvir a banda a tocar. Agora só desloca quem vai à procura das comidas e bebidas, presentes em grande variedade, ou de outros espaços onde se possa divertir enquanto espera pelo momento musical que pretende. Só que esta gente devia pensar duas vezes quando convida os cantores para a Queima. Rui Veloso, o primeiro que me calhou em sorte, foi uma péssima escolha. Como disse a Marta, ele é simpático. Mas não é para a Queima. Só não adormeci e babei porque estava em pé e a rir dos comentários do grupo em que ia inserido. Um grupo composto por portugueses e brasileiros, mas com o mais divertido a falar com sotaque. E lá ficámos a "analisar" o concerto do Rui. Pelo que nos apercebemos, o homem procurou fazer uma viagem pela história da música. Procurou (sem sucesso) tocar rock, procurou tocar blues ("esse cara é um daqueles cinquentões que pensa que dá muito nos Blues", comentou uma das raparigas), fez incursões no improviso vocal do jazz (ou seria gaguez?), eternizou solos de guitarra como um David Guilmour a quem tinha sido dada uma guitarra de uma só corda. As letras, como disse um dia Júlio Machado Vaz, parecem escritas num domingo à tarde, junto à Ribeira. Para o fim, o incontornável Paixão (acho que é este o nome), com a célebre rima que Camões teria feito se fosse vivo, rubi e Rivoli... "Esse é o cara", dizia o carioca. Felizmente acabou.
A segunda banda foi muito diferente. The Gift têm som (e imagem) para noite de Queima. E para além das músicas terem qualidade, a cantora tem muita presença em palco e é simpática e humilde. Nada como o Rui, que nos chamou indirectamente ignorantes: "isto é de um grande guitarrista argentino chamado ****, que 99,9% das pessoas não conhece". Como quem diz, EU conheço, vocês NÃO. Pois, pela mesma lógica, 99,99999999999% das pessoas não conhece o Rui Veloso e nós sim. Caramba, o que é que isso faz de nós?
Resumindo. Rui Veloso só para fans incondicionais e numa sala com lugares sentados. Quanto a mim, deveria ter ido esperar junto à banca das caipirinhas. Os The Gift são uma boa opção para uma óptima noite de música ao vivo.
E hoje cantam os Xutos. E amanhã evitem o parque, porque é noite do Quim Barreiros.

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