"...em 2010, a questão é esta: como é possível pedir aos partidos de uma democracia liberal que festejem uma ditadura terrorista em que reinavam “carbonários”, vigilantes de vário género e pêlo e a “formiga branca” do jacobinismo? Como é possível pedir a uma cultura política assente nos “direitos do homem e do cidadão” que preste homenagem oficial a uma cultura política que perseguia sem escrúpulos uma vasta e indeterminada multidão de “suspeitos” (anarquistas, anarco-sindicalistas, monárquicos, moderados e por aí fora)? Como é possível ao Estado da tolerância e da aceitação do “outro” mostrar agora o seu respeito por uma ideologia cuja essência era a erradicação do catolicismo? E, principalmente, como é possível ignorar que a Monarquia, apesar da sua decadência e da sua inoperância, fora um regime bem mais livre e legalista do que a grosseira cópia do pior radicalismo francês, que o “5 de Outubro” trouxe a Portugal?"
(Vasco Pulido Valente, Público de 2 de Outubro de 2010)
Também José Mattoso, na Ler, mostrou grandes reservas em relação às comemorações (que disse não acompanhar de perto) e à bondade da I República. Infelizmente, estas questões são praticamente impossíveis de discutir nas escolas, a não ser em contexto de sala de aula. Fora das salas, os corredores apresentam a versão oficial, endeusada e mitificada de uma I República tão boa e pura que parece uma criação da Disney. Tudo institucionalizado, esterilizado. Para não confundir os alunos (não fiquem eles a pensar que a versão oficial é uma bela peta e que a nossa Historiografia tem muito de ideológico). E eu, infelizmente, tive que colaborar com o circo. Pelo menos fora da sala. Lá dentro a conversa será outra.
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