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sábado, outubro 02, 2010

Adoro estes processos de racionalização

De quem, na verdade, não conseguiu foi arranjar um bilhete para o concerto. Ou não quis pagar o preço que a lei da oferta e da procura ditou no mercado negro. Lembra a velha fábula da raposa e das uvas.
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O argumento é sempre o mesmo, ainda que dito por palavras diferentes: acusar os U2 de terem americanizado o processo de produção é o mesmo que dizer "tornaram-se comerciais", acusação atirada aos James por um ex-fã desgostoso por ver a sua (o possessivo aqui é a palavra-chave) banda a ter um crescente sucesso e a ser também a banda de muitos outros. Não importa que as músicas continuem boas, que o som seja idêntico ao dos albuns iniciais (toda a gente distingue, logo aos primeiros acordes, qualquer música dos U2, incluíndo as da fase mais negra do Zooropa e do Pop). Também já li que o verdadeiro Springsteen é o dos primeiros albuns, antes de se tornar no Boss mundialmente conhecido com Born in the USA. Ou que a melhor Tori Amos é a do Little Earthquakes. Ou que o melhor de Michael Jackson está na Motown. Ou que os Stones acabaram nos Anos 60. Ou que o verdadeiro Cave não é o "baladeiro" que criou o fabuloso The Boatman's Call.
A lógica de quem usa estes argumentos tem duas origens. Alguns confundem o seu gosto pessoal com um referencial de qualidade. Preferir a fase A à fase B do cantor X não implica necessariamente que a fase A seja melhor do que a B. Eu prefiro o Michael Jackson da Epic ao da Motown, mas não faço disso uma medida para avaliar o mérito de uma ou da outra fase.
A segunda origem é um (por vezes inconsciente) elitismo. "Como posso considerar bom este cantor", pensam, "se toda esta gente, com a sua típica e democrática falta de gosto, também o aprecia? Das duas, uma: ou eu tenho gostos populares [leia-se comerciais] e sou mais parecido com a multidão do que realmente imagino, ou o cantor vendeu-se." Como a primeira hipótese está fora de questão, resta a segunda.
Sim, resta uma terceira hipótese - o cantor ou a banda podem ter realmente perdido qualidade. Há vários exemplos. Mas a razão para tal ter ocorrido dever-se-à mais a uma perda de criatividade  do que a uma "americanização do processo de produção." Trabalhar com mais rigor e qualidade nunca prejudicou ninguém. E tentar ganhar mais dinheiro também não costuma ser prejudicial.

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