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domingo, novembro 16, 2008

O verdadeiro Jack

"Aconselhas-me a ir para casa da minha irmã. Sabes que ela gosta de mim; e sabes como? Ou porquê? ... Se tivesse seguido os conselhos dela, se a tivesse procurado, talvez hoje fosse um empregado, a ganhar 40 dólares ao mês, e a trabalhar no caminho de ferro, ou coisa do género. Havia de ter roupas quentes, iria ao teatro, teria um belo círculo de amigos, pertenceria a um clubezinho horrível ..., falaria como eles, pensaria como eles, faria o mesmo que eles - em suma, andaria de barriga cheia, não passaria frio, sem rebates de consciência, sem amargura no coração, sem ambições inquietantes, sem outro objectivo que não fosse comprar uma mobília a prestações e casar. Contentar-me-ia com viver e morrer como uma marioneta. ... Porque senti que era ou queria ser algo mais do que um assalariado, um boneco; porque mostrei que o meu cérebro era um pouco melhor do que era de esperar, tendo em consideração as minhas desvantagens ...; por tudo isto é que ela gostou de mim. Mas tudo isto era secundário; sobretudo sentia-se sozinha, não tinha filhos, tinha um marido que não era marido, etc., queria alguém a quem se dedicar...
... se eu soubesse que a minha vida era assim, que estava fadado a viver em Oakland, trabalhar em Oakland num emprego certo, e morrer em Oakland - no dia seguinte cortava a garganta e evadia-me de toda essa maldita existência..."
Jack London, carta a Mabel Applegarth, 30 de Novembro de 1898

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