Vinha eu, Sexta-feira, de regresso a casa, a ouvir o Contraditório, quando a conversa no programa se debruçou sobre Afonso Henriques. Carlos Magno defendeu que Guimarães deveria ser a capital de Portugal, uma opinião que não comento. O que é importante comentar é o espanto de Luís Delgado, dizendo que não compreende por que motivo D. Afonso Henriques está sepultado "num mosteiro em Coimbra."
É verdade que as pessoas, mesmo os comentadores políticos, não podem saber tudo e, por vezes, são obrigadas a falar de assuntos em que se sentem menos à vontade. No entanto, há situações em que o silêncio é preferível. Claro que na rádio o silêncio é incómodo e tem de haver sempre uma frase a encher o ar. Mas falar da importância do conhecimento da história pessoal de Afonso Henriques para a compreensão da nossa realidade e não perceber a ligação entre o primeiro rei e o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra é algo de ... contraditório. Das duas uma, ou não se conhece a história de Afonso I, ou não se percebeu essa história.
Se Afonso Henriques nasceu realmente em Guimarães (facto que a Historiografia não dá como garantido, mas a mitologia local mantém por tradição e turismo), esse facto é algo acidental. Ninguém escolhe onde nasce (eu que o diga). Pode-se nascer até numa terra que nunca se irá conhecer, por mero acidente. Daí não nasce uma ligação emotiva e pessoal.
Ao longo da sua vida, Afonso I elegeu Coimbra como terra de eleição. E promoveu o Mosteiro de Santa Cruz, a quem confiava a guarda do seu tesouro e de onde saíam homens de confiança da sua corte e conselho. Por esse motivo, o Conquistador escolheu a igreja do Mosteiro dos Agostinhos para descansar no seu sono eterno. Ninguém escolhe onde nasce, mas o local onde passaremos a eternidade pode ser fruto de uma decisão íntima.
"Porto, 16 Set (Lusa) - Homicídio qualificado, raptos, extorsão, associação criminosa e posse de arma ilegal são alguns dos crimes que o Ministério Público (MP) do Porto imputa a 12 pessoas que centravam a sua actividade nas cobranças coercivas de dívidas. (...)
O homicídio constante do processo é o de Tiago Ferreira, suposto colaborador do grupo, e foi determinado porque a vítima não depositou na data que lhe fora indicada, um cheque no valor de 3.168,61 euros, fazendo-o cinco dias depois, indica a acusação do processo. Era preciso "apagar" o Tiago, determinou um dos membros do grupo durante um encontro num shopping da Trofa a missão acabou por ser cumprida numa zona serrana, em Campo, Valongo. A 22 de Janeiro do ano passado, Tiago Ferreira foi levado para Valongo com a argumento de que era preciso efectuar vigilância a um suposto devedor, acabando por ser agredido com uma pedra na cabeça, vários socos e pontapés. Os agressores, que o MP diz serem cinco dos 12 arguidos, deixaram o jovem ainda com vida, mas voltaram ao local para "apagar o Tiago e fazer desaparecer o corpo". Equacionaram baleá-lo na cabeça, mas tiveram receio de que o barulho do disparo alertasse alguém, pelo que optaram por o agredir com uma sachola e atirar o seu corpo para um poço, afirma a acusação. O cadáver veio a ser encontrado nesse poço, a 23 de Março seguinte, já em putrefacção. Segundo o processo, Tiago já pressagiava o seu fim, porque tinha dito a uma tia que ia viver uma situação "de índios e cowboys" e pediu à ex-companheira que chamasse a polícia se não aparecesse até às 22:00 de determinado dia."
Nada de novo. Turmas engraçadas. Turmas barulhentas. Um presidente boçal e mal criado. Maus alunos, bons alunos. Caras novas, novas caras, caras conhecidas. Bons amigos. Música. Viagens. Amigos do P. Bento derrotados. Dinheiro perdido. Mais viagens. Novo ano, novos problemas e velhos problemas. O barcelona a ganhar com penalti no minuto 95. Encolher de ombros. Fnac com preços altos. A sensação de que já não há filmes. Nem tempo para os ver. Livros novos. Falta de tempo para ler. Frio. Calor. Martini. Coca-cola. Rabiscos. Real a vencer. Mensagens de telemóvel. Telefonemas adiados. Mais música. Gelados. Sonhos. Noites breves. Dias inúteis. Fins-de-semana. Cunhas e corrupção. Nada de novo. Feira das velharias. Coimbra. Portugal.
oh, you haunt me with your violent heartbeat at night
oh, you strike me with your silence baby, tonight
why you haunt me with your violence baby, come hit me!
you haunt me with your violent heartbeat...
segunda-feira, setembro 22, 2008
E a propósito da cavalgadura da ministra da educação... A criatura considera que recorrer a explicações privadas é um sintoma de terceiro mundo. Bom, se temos um governo e uma ministra de terceiro mundo, porque não teríamos um sistema educativo de terceiro mundo? Afinal de contas, há sintomas piores, como as cunhas vergonhosas que gente importante anda a meter na escola para favorecer alunos malcriados presidentes submissos mentirosos e beija-rabos que só querem manter o lugar: isso sim é terceiro mundo no seu melhor.
Quanto à questão das explicações, não sabia que os EUA eram um país de terceiro mundo. A ministra deve ter como modelo a exemplar, civilizada e moderníssima angola.
(Não é só o imbecil do presidente que adora a ministra) *
Derlei ao lado de paulo bento no caso Vukcevik. Um jogador medíocre ao lado do treinador do mesmo nível. O graxista do ano a tentar garantir um lugar na equipa, apesar de jogar menos numa época do que o Vuk em 4 minutos.
A conversa sobre o peso do "racismo" nos resultados das eleições americanas é como os ciclopes: só tem um olho. Porque é que se fala de "racismo" quando se fala em eleitores brancos que não votam em Obama porque ele é preto e já não se usa o mesmo rótulo quando eleitores pretos dizem ir votar Obama porque ele é preto. Num programa americano, ouvi um actor ou cantor qualquer, quando perguntado em quem ia votar, afirmar "não é óbvio? É a primeira vez que um irmão tem hipótese de chegar à Casa Branca." Porque é que este é um argumento válido e não um argumento racista escapa-me por completo.
Que fazer quando tudo enoja? A mesma escola submissa do caso anterior e capaz de tanta dinâmica em resolver um problema atropelando tudo o que é lei, moral e bom senso, foi incapaz de preparar o seu espaço para receber uma aluna com deficiência motora. Apesar de saberem da sua chegada com grande antecedência, a verdade é que a direcção regional não colocou as rampas que permitem a liberdade de movimentos dentro das limitações da própria aluna. É a própria escola, pela sua inércia, que aumenta as dificuldades de uma criança que tem os mesmos direitos de todos. E é uma aluna cumpridora, que não falta, que é "exemplar." Como tudo seria diferente se a menina tivesse um amigo inspector...
O aluno foi, ao longo do ano, um exemplar perfeito do cábula mal-criado. Faltava quando queria. Muitas vezes ainda passava pela sala, a meio da aula dos colegas, entrava, interrompia as actividades e voltava a sair. Outras vezes, não entrava, limitava-se a aparecer à janela para acenar aos que cumpriam a obrigação. Quando lhe pediam uma justificação para as faltas, mentia. Quando ia às aulas, continuava a não ser um aluno. Trabalhava quando queria, e a sua vontade parecia alérgica ao esforço. Evitava-o a todo o custo. O telemóvel parecia colado às mãos. Gozava com os colegas. Bem vestido, ostentava as suas roupas de marca, o telemóvel topo de gama. Gabava-se do que tinha em casa. E gozava com os que não tinham o que ele tinha: fossem as calças de um dos rapazes, que eram motivo de chacota; fosse a falta de cultura de outros, tudo eram pedras para ele erguer o seu próprio pedestal.
Tornado líder pela incompreensível apetência dos adolescentes para admirarem os vilões que quebram as regras e aparentam ser indomáveis heróis, arrastou os outros para o seu caminho. Começaram as faltas dos que até aí eram cumpridores, os maus hábitos, as respostas grosseiras aos professores para se mostrarem ao seu líder, o tabaco fumado às escondidas, oferecido por ele.
A família do rapaz era também exemplar: nunca vieram à escola, nunca responderam às cartas enviadas que alertavam para as faltas injustificadas. Os genes são uma coisa poderosa. Finalmente, quando chegou a carta a anunciar a exclusão por faltas, apareceu alguém. Sim, viram as cartas e as faltas, mas pensavam que estava tudo bem. Quase insinuaram que não foram postos ao corrente do que se passava. Durante nove meses, não tiveram tempo, uma mísera hora, para se preocuparem em saber o que o aluno andava a fazer. No final, tiveram tempo de aparecer mais do que uma vez.
Contado o caso ao presidente do conselho executivo, a decisão foi taxativa: exclua-se por faltas. Assim foi feito. Quando o ano terminou e saiu a pauta de avaliação, à frente do nome do aluno não surgiram notas, apenas a indicação de "excluído por faltas."
A turma sentiu-se satisfeita pelo que aconteceu. Sentiu a presença de uma justiça, de uma ordem que impede o caos. Eles precisam dessa ordem, dessa imposição de uma linha de conduta. Os adolescentes valorizam muito a imposição de regras, embora as procurem quebrar constantemente.
Chegou o novo ano. A turma juntou-se novamente. Sem o aluno excluído. Até que, um dia, o presidente fala com os directores do curso: "é preciso avaliar a situação do aluno". "Como? Qual situação?"
A proposta foi simples: recolocá-lo no segundo ano de um curso de onde foi excluído por incumprimento das regras definidas por lei. E, com essa atitude, destruir a autoridade dos professores e quebrar a confiança dos alunos nas regras instituídas. E qual o motivo para tão radical mudança de posição? Um telefonema de um inspector escolar. Curiosamente, um profissional que tem (teoricamente) a função de fiscalizar pelo cumprimento das leis do Estado pede (ou exige?) que essas leis sejam todas atropeladas. Tudo em nome da cunha baixa. O presidente, submisso, acata a ordem. E pede aos professores que mintam aos alunos: inventa um protocolo entre instituições; seria ao abrigo desse protocolo (do qual não há qualquer vestígio em papel) que o aluno deveria ser reintegrado na turma, apesar de a lei não prever essa hipótese. Apesar de ser obsceno em todos os sentidos. Ao saberem do sucedido, os alunos aceitaram o facto com resignação e um esgar irónico. "Se fosse comigo, de certeza que não me deixariam voltar." E tinha razão, não conhece um inspector disponível em pedir a corrupção da lei que deveria defender. E, depois, a ironia: "olhe, acho que vou faltar às aulas, afinal de contas o efeito é o mesmo." E, novamente, tem razão. Estamos no país da cunha e da corrupção. Viva Portugal.
"Não reconheço à Sociedade Portuguesa de Matemática [liderada por Nuno Crato] especial característica para fazer esse tipo de críticas [sobre o evidente facilitismo dos exames nacionais de matemática, em claro benefício da estatística para propaganda do governo]"
(valter lemos, um exemplar contemporâneo do típico "idiota da aldeia", que chegou a secretário de estado da educação)
*
Grilo Falante:
"Nuno Crato recebe prémio de ciência europeu."
(a comunidade científica, acompanhada por todos os habitantes da aldeia dotados de inteligência)
Pinóquio: "Com este Dia do Diploma queremos dar um sinal de que a conclusão do 12.º ano de escolaridade é indispensável para se entrar no mercado de trabalho" (josé sócrates)
Grilo Falante:
"Com 500 euros o ME vai pôr aos pulos de alegria, em cada estabelecimento do Ensino Secundário, dois alunos: o melhor dos Cursos científico-humanísticos e o melhor dos cursos profissionais/tecnológicos. Esta colossal fortuna (que nunca ultrapassará os 1000 euros por escola) pode ir para o melhor aluno dos cursos científico-humanísticos que tenha obtido, por exemplo, 19,5 valores; e para o melhor dos cursos profissionais/tecnológicos que tenha alcançado, digamos, 13 valores. O segundo melhor aluno dos cursos científico-humanísticos, com 19,4 ficará, claro, de bolsos vazios a admirar o "Prémio de Mérito" do seu colega dos cursos profissionais/tecnológicos, uns bons furos abaixo dele! Não é tão justo? Tão equitativo? Tão estimulante? O ME, com a costumeira sensatez pedagógica, acha que um aluno só deve ser estimulado quando acaba o ensino secundário! Antes não. E com que objectivo? (...) Eu pensava que a ministra considerava mais justo, equitativo e estimulante que o ME premiasse com diploma de Mérito (ainda que não remunerado) todos os alunos que tivessem obtido, por exemplo, nota igual ou superior a 18 valores, no fim do Ensino Secundário. Ou que tivessem média geral de 5 valores na conclusão do 1º, 2º e 3º Ciclo, do Ensino Básico, isto é no 4º, 6º e 9º anos de escolaridade. O ME não acha necessário espicaçar, para o mérito e para o sucesso, os alunos do ensino básico onde existem os graves problemas do sistema educativo que impedem a progressão para o sucesso nos níveis de escolaridade subsequentes! Seria um despesão estúpido e uma banalização da excelência. Premiar um único aluno é bonito e baratinho. Premiar centenas de alunos sai caro. Instituir o que é praticamente inacessível - esta solitária honra do "Prémio de Mérito Ministério da Educação" - não é a grande mensagem que se deixa às centenas de milhar de alunos para, pura e simplesmente, o ignorarem? (...) E deve ser o ME a esporear apenas o individualismo feroz, isolado, para a excelência? Ou apoiar o maior número possível de alunos, envolvendo-os numa saudável promoção das suas capacidades? Eu por mim dispensava o Prémio. A verba orçamentada bem podia ser aplicada nas despesas pessoais da senhora ministra, nomeadamente para rímel, sombras, bases, cremes hidratantes, cabeleireiro, guarda-roupa, sapataria, jóias e canetas Montblanc para assinar despachos destes. Serviria para dar uns retoques na estafada e carrancuda imagem pública do Ministério. E, em futuros Prós e Contras, a mensagem do mérito, do sucesso e da excelência da política educativa do ME refulgiria nos ecrãs de plasma de todos os lares portugueses. É preciso deixar os alunos, professores e encarregados de educação, plasmados numa boa ideia: a do mérito do Ministério da Educação ao acenar com a miragem de premiar o mérito!"
"A notícia chegou e partiu como todas as outras, mas deixou um rasto de repulsa que merece ser partilhado. Saber pelos jornais que existe um número impressionante de famílias portuguesas que se estão a endividar pesadamente para comprarem aos filhos manuais escolares necessários para a sua integração - repare-se bem - no ensino escolar obrigatório, e que existem mesmo livrarias que criaram linhas de crédito para esse efeito, é algo que não pode ficar em claro e merece uma atenção muito séria das pessoas comuns. Não quero saber se existem outros «países avançados» que o fazem, ou se isto funciona como uma mola para a sacrossanta «modernização do ensino». Sei apenas que é uma situação imoral e caracterizada pela insensibilidade, a qual, num país marcado ainda por áreas de pobreza endémica e pela debilidade da classe média, deixa uma vez mais cair a responsabilidade social do Estado. E deveria envergonhar, envergonhar a sério, os responsáveis por um governo com o carimbo virtual de «socialista»."
"A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, considerou hoje "notável" a diminuição em quase 20 por cento da taxa de chumbos e retenções no último ano lectivo, atribuindo este resultado ao trabalho desenvolvido pelos professores e pelas escolas. "É uma melhoria notável que só se pode ter verificado em resultado do trabalho dos professores e das escolas com os seus alunos, um trabalho de recuperação das aprendizagens, mas também de diversificação das ofertas formativas, respondendo às expectativas dos alunos", afirmou a ministra, em declarações à agência Lusa. (...) Admitindo que estes resultados foram melhores do que aquilo que o Governo esperava, Maria de Lurdes Rodrigues sublinhou medidas como o aumento da oferta dos cursos de educação e formação no básico, dos cursos profissionais no secundário, o plano de acção para a matemática, o plano nacional de leitura, entre outras, para justificar os novos valores relativos à retenção."
Grilo Falante:
"O primeiro-ministro assegura que a melhoria de resultados nas pautas do ensino básico e do ensino secundário se devem às políticas educativas e aos investimentos realizados pelo seu governo. Lamento desmentir esse contentamento e tão largo optimismo mas a verdade é que tanto eu como o primeiro-ministro sabemos que as políticas educativas não produzem resultados de um ano para o outro; tal como ambos sabemos que os investimentos em educação levam anos a ter algum resultado e que isso não significa mais dinheiro. Portanto, é preciso outra explicação. Eu dou-a de graça: a melhoria de resultados existe porque os dados foram propositada e antecipadamente falsificados por provas demasiado fáceis, realizadas com o propósito de conseguir estas belas estatísticas. Ambos o sabemos. Todos o sabemos."
"(...) o facilitismo dos exames do 12º ano, reconhecido maciçamente por alunos e professores, conduziu à subida generalizada das notas. (...) Como as notas param em 20 valores, todos beneficiaram, com excepção dos alunos muito bons. Alunos que se esforçaram menos ao longo do ano conseguem obter resultados semelhantes aos dos alunos que trabalharam arduamente. E estes últimos sentem-se defraudados. O exame nacional de matemática era uma prova de grande credibilidade, reconhecida como a bitola da excelência, mas perdeu o seu valor enquanto medida de selecção dos alunos. A subida das notas contribui para a inflação das notas de acesso à Universidade sem que haja o correspondente aumento de qualidade dos alunos. (...) Na Universidade os alunos não conseguem resultados razoáveis, pois o nível de conhecimentos é desajustado da sua nota de admissão. O Ministério da Educação melhora as estatísticas e passa o problema para as Universidades. Serão estas que terão que lidar com o insucesso dos alunos que o exame de 12º ano deixou de filtrar. No futuro, será inevitável que as melhores Universidades se associem para, em conjunto, estabelecerem mecanismos alternativos de selecção dos seus alunos."
O Jornal de "Notícias" (salvo seja) noticiou ontem na primeira página que o "Ensino Secundário tem oito alunos por professor", uma interessante "notícia" surgida para encobrir a vergonha que foi o espectáculo degradante de ver os idiotas do ministério a vangloriem-se pelas "subidas" dos resultados (quando todos se sabem como se conseguiram esses resultados, à custa da batota de exames de treta). Claro que no corpo do texto se diz que
"Todavia, o bom número de alunos por professor não tem reflexo na dimensão das turmas." O problema é que a maioria das pessoas que passa pelas bancas não compra o jornal nem vai ler a notícia na edição online. Fica, portanto, com a "informação" (pouco rigorosa) da primeira página. Ou é incompetência (que não se exclui) ou má fé, uma forma de defender uma governação indefensável.
No texto, o jornalista Tiago Alves ainda propõe uma hipótese explicativa que imediatamente recusa, pelo que não se percebe por que motivo perdeu tempo a escrevê-la (ou pretendeu deixar uma acusação no ar - o comentário habitual de quem ignora o que se passa nas escolas, ou seja, que "os professores não fazem nada"):
"Uma explicação para este fenómeno poderia passar pelo facto de os professores portugueses passarem pouco tempo do seu horário de trabalho a ensinar na sala de aula, mas, de acordo com o estudo, Portugal é o terceiro país onde os professores mais ensinam: 60% do tempo total na Primária e 50% no Secundário."
Como não podia deixar de ser, o jornalista teve que ir buscar o exemplo da Finlândia (que só é exemplo porque sócrates e sampaio, a dada altura, tiveram orgasmos psicológicos com a estadia de algumas horas que tiveram por lá - recorde-se que sampaio afirmou que os professores finlandeses trabalhavam mais de 35 horas por semana na escola, dado ridículo que foi desmentido por representantes do governo finlandês, mas que não foi tão noticiado como a afirmação sem fundamento do ex-presidente):
"Portugal é o país que gasta a maior percentagem do orçamento dedicado à Educação com o pessoal, um pouco mais de 95%, sendo que 85% dos gastos no Básico e 81% no Secundário são exclusivamente com professores. A título de exemplo, diga-se que a Finlândia apenas gasta 65% do seu orçamento com o pessoal, alocando os restantes recursos financeiros para a investigação e serviços de apoio como materiais, alimentação, alojamento ou transporte."
A Finlândia, curiosamente, só serve de exemplo quando interessa ao ministério da educação e aos seus porta-vozes nos media. E, de qualquer modo, quais os resultados práticos do grande ensino finlandês? Onde estão os seus grandes nomes da cultura, da literatura, da economia, da ciência? Por que não copiar o bom que se faz nos EUA, esse sim um país modelo, com provas dadas? Porque a realidade não é comparável? Pois não, mas também não é de boa fé comparar a realidade finlandesa com a portuguesa...
*
O ministério da educação português é a prova de que não há limites para a estupidez humana. Bom, um dos secretariozecos chama-se pedreira, precisamente um espaço oco que se limita a produzir calhaus. Faz sentido.
A última imbecilidade produzida por esta gente, e ao nível de um novo record mundial, é o calendário de avaliação dos professores. Os professores vão ser avaliados por ano civil! Sim, como os outros funcionários públicos. Porém, o trabalho de um professor não pode ser avaliado pela metade final de um ano e pela parte inicial de outro ano. Qualquer pessoa com a 4ª classe percebe que a avaliação tem que ser feita por ano lectivo, porque é em Setembro que se inicia um processo que termina em Agosto do ano seguinte. Só aquela cambada não é capaz de ver isso. Assim sendo, vamos ter o absurdo de vermos gente ser avaliada por uma escola estando já a dar aulas na outra escola...
Oh oh people of the earth Listen to the warning The Seer he said Beware the storm that gathers here Listen to the wise man
I dreamed I saw on a moonlit stair Spreading his hands on the multitude there A man who cried for a love gone stale And ice cold hearts of charity bare I watched as fear took the old men's gaze Hopes of the young in troubled graves
I see no day, I heard him say So grey is the face of every mortal
Oh oh people of the earth Listen to the warning The prophet he said For soon the cold of night will fall Summoned by your own hand
Oh oh children of the land Quicken to the new life Take my hand Ooh, fly and find the new green bough Return like the white dove
He told of death as a bone white haze Taking the lost and the unloved babe Late too late all the wretches run These kings of beasts now counting their days
From mother's love is the son estranged Married his own his precious gain
The earth will shake in two will break And death all around will be your dow'ry
Oh oh people of the earth Listen to the warning the seer he said For those who hear and mark my words Listen to the good plan
Oh oh oh oh - and two by two my human zoo They'll be Running for to come Running for to come Out of the rain
Oh, flee for your life Who heed me not, let all your treasure make you Oh, fear for your life Deceive you not the fires of hell will take you Should death await you Oh, oh, people can you hear me (oh, oh, people can you hear me) (Oh, oh, people can you hear me)
(...)
God give you the grace to purge this place And peace all around may be your fortune
Oh oh children of the land Love is still the answer, take my hand
The vision fades, a voice I hear "Listen to the madman!" Ooh, but still I fear and still I dare not Laugh at the madman
carlos reis, académico de letras, foi um dos principais defensores do absurdo acordo ôrtôgráfico que nos vai pôr a falar em brasileiro;
carlos reis, académico de letras, é um dos nomes apontados para, com grande probabilidade, ser o novo director do instituto camões;
*
o irónico (e até mesmo irônico) no meio de tudo isto, é que, em teoria, o instituto camões teria por missão defender e promover a língua portuguesa no mundo; bela forma de a promover, matando-a e substituindo-a por uma versão simplex e coloquial...
Escreve ana gomes sobre o processo contra paulo pedroso: "Uma urdidura montada para também, de caminho, decapitar políticamente o PS de uma direcção que inquietava o “centrão” traficante de favores e negociatas à custa do Estado."
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Pergunto eu 2 coisas :
1. hoje, com o intocável ps no poder, já não existe o centrão-mota-engil-cgd-edp "traficante de favores e negociatas à custa do Estado"?
2. quem foi o grande beneficiado pela "decapitação" política de ferro rodrigues e companhia, senão o pseudo-engenheiro que, com a colaboração de j. sampaio, tomou o poder pouco tempo depois?
... quoniam ipsorum est Regnum caelorum" (como se costuma dizer)
"por mais imperfeições que apresente a incipiente democracia eleitoral angolana, [...] [nela] há liberdade de criação e de acção dos partidos políticos, direito de oposição, liberdade de propaganda eleitoral, recenseamento universal, controlo da votação pelos partidos e por observadores internacionais, supervisão das eleições por uma comissão eleitoral independente e pelos tribunais (incluindo um tribunal constitucional); [...] As eleições angolanas são pluripartidárias e resultam em parlamentos representativos, proporcionalmente ao apoio eleitoral de cada partido"
(vital moreira, sobre angola, presumivelmente sem se rir)
"Na passada semana, o "Expresso" noticiou o caso de Luís, 15 anos, que passou para o 7.º com oito negativas e uma positiva (a Educação Física). Razão tinha o outro: quem não sabe fazer nada, estuda; quem não sabe estudar, estuda Educação Física. Mas o Secretário de Estado não se atemoriza com este cenário: diz Valter Lemos que, perante a desgraça dos nossos números internacionais, reprovar o Luís seria enxotá-lo para fora do sistema e entregá-lo a uma vida de marginalidade. Enquanto o Luís andar na escola, ele pode não saber ler, escrever, contar, falar ou pensar. Mas, pelo menos, não anda por aí a envergonhar o governo nas estatísticas internacionais. Nem a roubar. Nem a matar. A lógica é impoluta e inaugura um novo capítulo na frondosa educação nacional: para evitar que as nossas crianças se dediquem ao crime, é o Estado que comete um crime sobre elas, sequestrando-as dentro dos portões escolares. E se elas dão provas de brutal ignorância nas matérias da praxe, isso não basta para as reprovar. As escolas podem sempre esgrimir os inevitáveis despachos normativos "especiais" garantindo passagens sucessivas a troco de permanência física. No caso do Luís, a permanência num curso de educação-formação. Caso o Luís falhe neste curso, é provável que o levem a Fátima. Ou, por deferência homónima à ministra, a Lurdes. Mas sair do sistema está fora de questão. Eu, por mim, não me oponho; mas às vezes pergunto se esta mentalidade prisional não acabou também por contaminar o próprio Ministério da Educação. Que o mesmo é dizer: aprisionando Valter Lemos à 5 de Outubro, apesar de todas as evidências que aconselhavam à sua libertação. Mas talvez o eng. Sócrates tenha as suas razões para prolongar o cativeiro do Secretário de Estado: entre arruinar o ensino ou arruinar o nosso Valter, entregando-o a uma vida de errância fora dos gabinetes ministeriais, o ensino pátrio, pelo menos, já há muito que estava arruinado."
Estas passagens administrativas para dourar as estatísticas. além de impostas pela lei, são forçadas nos conselhos de turma por conselhos executivos que não passam de meros paus-mandados das direcções regionais (no norte, então, os casos são inúmeros) porque dependem dessas direcções para conservarem os seus postos. Não foi por acaso que a ministra lançou a ameaça dos "gestores" escolares (uma ideia perfeitamente idiota), que lançou o pânico entre os presidentes não qualificados dos conselhos executivos, para depois esquecer (enquanto precisa deles) essa medida. Para não serem obrigados a trabalhar, passaram a ser os caezinhos que repetem o que a dona diz e manda fazer. Quando a dona não precisar mais deles, vai dar gosto vê-los por aí a penar ou a procurar a reforma dourada na inspecção escolar, um ninho maioritariamente preenchido por inúteis e ex-presidentes que eram mestres nas artes do favorecimento de amigos.
A confederação de pais (que não de encarregados de educação, termo que se esquecem muitas vezes de usar nos textos que produzem, como se só existessem "pais" a educar crianças) aplaudiu sempre a legislação que favorecia toda a balda das passagens administrativas, pois, com isso, conseguem mais um instrumento para impor de forma artificial o sucesso de alunos que não têm o valor nominal das suas notas, em prejuízo dos que têm valor, e o demonstraram com trabalho e dedicação.
Por fim, os sindicatos, incapazes de protestar de forma firme contra todo este processo de socratização* do ensino, porque os seus altos dirigentes dependem das benesses do governo para manterem as suas mordomias. Geralmente criaturas em relação às quais o Criador (que dificilmente terá sido Aquele que estamos a pensar) se esqueceu de colocar uma coluna vertebral, o topo do sindicalismo da nossa educação limita-se a negociar a manutenção das suas mordomias (e dos respectivos amigos), vendendo tudo o resto. E esquecendo o que até à véspera defendiam. Basta recordar um alto(salvo seja) líder sindical que protestava contra a criação do professor titular, mas que regressou à sua escola (onde não daria aulas há décadas, se é que alguma vez deu) para se poder reformar como professor titular.
Portugal at it's best
*socratização: processo pelo qual é concedido um diploma sem qualquer mérito, ou mesmo frequência de cadeiras e disciplinas do referido curso