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terça-feira, fevereiro 27, 2007

Uma aluna pergunta se pode ficar no final das aulas da tarde para ter explicações, antre as 18h30 e as 20h, hora a que recomeçam as minhas aulas. Implicava deixar de lado o jantar, mas apelos assim são de respeitar. Até porque eu sabia que era, em grande parte, um pretexto. Já o fizera uma outra vez. Vendo bem, nessa vez fui ingénuo, ela até nem precisa assim de tanta ajuda, apenas uma correcções na forma de escrever, algo em que hoje esteve melhor. Nessa primeira vez, o verdadeiro motivo era conversar sobre uma zanga com a melhor amiga. A segunda grande zanga, por sinal. A primeira foi de fácil resolução, as duas empurradas para uma sala a fim de parar com as lágrimas que ambas escondiam uma da outra (mas não de mais ninguém) pelos cantos e sombras da escola. As lágrimas pararam por pouco tempo. E a nova zanga revelou-se impossível de solucionar. Foi há alguns meses. Nas aulas já não falam e discretamente escolheram novos lugares para se sentarem. Afastadas, mas de preferência na mesma fila, para que uma não veja a outra e esta não sinta o peso do olhar nas suas costas. Esperanças perdidas na humanidade, quando meninas de 14 anos ficam assim. Hoje a explicação ia avançando proveitosamente. Nem uma palavra que fugisse de Versalhes, Hitler, Mussolini e Estaline. Pacto Germano-Soviético... Blitzkrieg ... Pearl Harbor... Dia D... E, estando eu já esquecido da hipótese do pretexto, eis que nasce uma conversa diferente.
"Dia 14 está disponível? Ao primeiro tempo da tarde?"
"Estou, porquê?"
"É que vou fazer uma festa de aniversário"
"Hum, não sabia que fazes anos..."
"E não faço. Estou a organizar uma festa surpresa para a Andreia. Tem mesmo de vir porque faço um óptimo bolo de chocolate. Mas não diga nada, porque é surpresa."
Silêncio.
"Ah, muito bem", acabo por dizer, apenas para preencher o vazio e tentar refrear o espanto e o entusiasmo.
"Então já fizeram as pazes?"
"Não. Ela não fala comigo."
Novo silêncio.
"Não sei se ela faria o mesmo por mim."
E a conversa foi interrompida pelo toque do telemóvel. Mãe à espera no carro. "Vou já." Guardou o caderno e os apontamentos, despediu-se e saiu. "Está cá Quinta de manhã para poder continuar a tirar dúvidas? Sim? Não se esqueça, dia 14."

1 comentário:

Anónimo disse...

São estas "estórias" que dão um pouco mais de sal á vida.