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domingo, agosto 09, 2009

A love story



O rei Edward I de Inglaterra, alcunhado de "longshanks" (pernas-longas) devido aos seus assombrosos (para a época) 1,88m de altura, é uma figura que a maioria de nós ficou a conhecer graças ao desempenho de Patrick McGoohan no filme Braveheart, de Mel Gibson. Mas será que ficámos realmente a conhecê-lo? O filme foi justamente elogiado pelo realismo com que representou a guerra medieval, mas foi igualmente criticado por alguns erros históricos. Alguns desses erros não foram, aliás, meras distracções, foram essenciais para construir e "romancear" a história de William Wallace: basta lembrar a relação amorosa que o filme estabelece entre Wallace e a princesa francesa que casara com o descendente de Longshanks, obviamente impossível de ter ocorrido porque quando Wallace morreu, em 1305, Isabella de França tinha apenas 10 anos de idade. Claro que é possível que os quatro filhos que Isabella teve não fossem do marido e rei Edward II, já que a homossexualidade deste, retratada no filme, parece ter fundamento histórico.



Quanto a Edward I, o filme dá-nos a imagem de um homem cruel, calculista e sem sentimentos. Talvez o tenha sido, sobretudo para os seus inimigos. Mas Edward mostrou em relação à sua primeira mulher, Eleanor de Castela (ela tinha treze anos e ele quinze quando casaram, em 1254) sentimentos de grande amizade e amor. Deste casamento, gerado por um acordo político, como todos os outros da época, nasceram 15 filhos, um número impressionante.



Eleanor morreu com 49 anos, em Harby, Nottinghamshire, durante uma viagem com destino a Lincoln, na companhia do rei (as cortes régias na Idade Média eram, em certa medida, itinerantes). Atacada por uma febre, que já no passado a tinha atormentado, a rainha recebeu a extrema-unção e faleceu na noite de 28 de Novembro de 1290, com Edward à sua cabeceira.



O corpo foi preparado para ser sepultado com a dignidade que uma rainha merecia, recebendo um processo de embalsamamento. As vísceras foram retiradas e ficaram sepultadas na Catedral de Lincoln, onde uma réplica do seu túmulo foi construída. O corpo e o coração foram de seguida transportados, num longo e doloroso cortejo fúnebre, até à abadia de Westminster, em Londres.

(túmulo de Eleanor na catedral de Lincoln)

As viagens medievais eram lentas, as terras ficavam a dias de distância, não a horas como hoje. Quando a noite caía, a marcha parava, para descanso de todos, incluindo dos animais. Este cortejo, em particular, foi forçado a parar 12 noites até chegar ao seu destino. E em cada um desses locais onde o corpo de Eleanor foi velado, Edward mandou construir os mais belos monumentos funerários da Inglaterra medieval (talvez mesmo de toda a sua história): doze cruzes que ficaram conhecidas como Eleanor Crosses, as cruzes de Eleanor. Das 12, apenas 3 restam, hoje em dia. A última cruz, correspodente à última paragem, foi erigida na pequena área populacional de Charing, bem próximo de Westminster. Por esse motivo, esse local é ainda hoje conhecido como Charing Cross!

(mapa com a localização das cruzes em homenagem a Eleanor)

O corpo de Eleanor foi sepultado na abadia de Westminster e o seu coração ficou na igreja do mosteiro dos dominicanos (conhecidos por Blackfriars), mais tarde encerrado por ordem de Henrique VIII, no século XVI.

3 comentários:

Kris disse...

Ah, que boa surpresa esta! Mr. Paulo "Gna" de volta ao seu melhor... às letras!

É admirável constatarmos o quanto passamos a vida a ser enganadinhos por realizadores ditos "grandes"... Vale-lhes a salvaguarda de, com isso, embelezarem as histórias e ainda terem a capacidade de, muitas vezes, nos susterem a respiração pela espera de um emplogante desfecho!

E agora, depois de muito bla bla bla... Depois de muitas palavras dirigidas a pessoas que ganham a vida da melhor maneira que encontram... Já que não tentas sequer ganhar a vida com as tuas melhores qualidades, brinda-nos (a nós, teus fieis seguidores) com a tua capacidade de nos deliciares através das letras que nos permites conhecermos... Ajuda-nos a viver momentos felizes neste mundo muitas vezes sem sal...

:)

Paulo Agostinho disse...

Se o mundo depende do sal que eu lhe possa deitar, insípida refeição daí resultará.

Kris disse...

Não precisas de ser tão humilde a ponto de te tornares insensível e ingrato, pode ser?
Se eu digo que proporcionas muito bons momentos a muita gente, é porque é! Eu não te minto e em sabes que tenho razão!
Vê lá é se arrebitas, já que os teus "niveladores" não andam a dar conta de nada... ;)