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segunda-feira, março 12, 2007

some are like water, some are like the heat, some are a melody and some are the beat

Sábado à noite. Jantar em Famalicão com ex-alunos. Passaram três anos e esperava mudanças. Encontrei-as, mas talvez menores. Sim, na altura tinham 14 ou 15 anos e agora estão mais altos. Alguns andam a tirar a carta e os rapazes já têm barba. Mas fora isso, os rostos estão praticamente iguais. Tão iguais que não tive dificuldades em reconhecê-los de imediato, com uma excepção. À medida que a noite ia avançando, entre recordações do 9º ano e relatos do que se faz hoje e se pensa fazer amanhã, outras diferenças começaram a surgir. São diferenças subtis, que não passam pelo corpo. São diferenças de postura. Encontrei pessoas mais confiantes, que conversam mais (uma das meninas disse que na altura não tinham capacidade para conversar sobre vários assuntos, o que em parte é mentira) e, ponto fundamental, que cativam com o olhar e os gestos e as palavras. Nunca houve gente assim e dificilmente haverá outros, pelo menos em tão grande número. O futuro da nação, pensei sempre, desde que os conheci. Continuo a pensar o mesmo, só não sei de que nação. Desta não será, certamente. As notas continuam espantosas, médias de topo (ouvi conversas de choros e desesperos quando o resultado desce para 17). No entanto, em todas as conversas sobre o futuro há desilusão. Ou resignação. Todos continuam no ensino público e o balanço que fazem é positivo. No entanto, olham para os que foram para os colégios privados das redondezas (abarcando Porto, Braga, Guimarães ou Barcelos? não sei bem) e não compreendem o motivo da inflação automática de notas que neles ocorre.
"Eu sei que eles estudam imenso, eu vejo-os a estudar, mas não percebo porque é que, só por frequentaram o colégio, tenham automaticamente 20 a área de projecto e a educação física, quando nós nunca poderemos tirar essas notas. E para além disso, entram lá, fazem exame de equivalência à frequência, que é interno, e a média dispara..." A rapariga que acabou de falar sempre teve ideias bem vincadas. No 9º ano já me perguntava sobre as condições dos cursos em Coimbra, universidade onde deseja estudar desde então.
Outro rapaz, um dos poucos que optou pelas artes (a maioria, como seria de esperar, está a lutar pelas médias na área que dá acesso ao restrito mundo da medicina e afins), conta o que prevê ser o futuro. "É simples. Tiro a licenciatura, depois não arranjo emprego. Por isso, vou fazer o mestrado. No final, não arranjo emprego, pelo que vou fazer doutoramento. No final, obviamente continuo sem emprego, pelo que me junto a uma longa fila de doutorados sem trabalho." Bem me disse outra rapariga, há uns meses atrás, que devia ser proibido crescer...
No regresso a casa, por mero acaso ouço os Alphaville (lembram-se deles?). Faixa 5. Forever young. Pensei que a música caracterizava a nossa juventude, os adolescentes dos anos 80, que esperavam o pior desejando o melhor, que não queriam envelhecer sem uma causa nem decair como um cavalo que perde a vitalidade. Sem poder de decidir, mas sem nunca desistir, estávamos limitados a dançar ao som dos loucos e amargurados que nos governam. A canção, afinal, foi escrita para eles...
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1 comentário:

Anónimo disse...

Na actualidade, ter uma licenciatura não é garantia de nada. Daí que seja a minha opinião que os jovens estudem aquilo que gostam, mesmo que isso implique fracas perspectivas de emprego. Poucas são as licenciaturas que asseguram um lugar ao sol no mundo activo.