Primeira reunião com elementos de uma turma de 7º ano. Tema do dia: liberdade. A ideia era abordar o assunto de forma a pensar em actividades práticas. Os quatro (três meninas e um menino) sentam-se à minha frente. Um par de olhos azuis, três de olhos castanhos. Depois das apresentações e de se quebrar o gelo, pergunto: "que ideia vos dá a palavra liberdade? Ou a falta de liberdade."
Depois das respostas esperadas (escravatura, prisão, rapto...), eis que uma das meninas, de chapéu preto a ensombrar um rosto rosado e fino, acrescenta: "falta de liberdade também pode ser vivermos presos ao nosso passado..."
Confesso que não diria melhor. Nem tão bem.
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África, como bem demonstra Shiva Naipaul, no seu North of South (relato das experiências do escritor numa viagem a vários países africanos feita na década de 70), vivia (e vive ainda hoje) presa ao passado. Numa passagem, Naipaul conta-nos a visita a uma quinta, propriedade de uma família inglesa de nome Palmer, onde se produzia chá. Ao lado, uma outra quinta fôra abandonada no momento em que o Quénia obtivera a independência e ocupada por camponeses. O objectivo inicial de formar uma cooperativa falhou, aparentemente porque o tesoureiro fugira com o dinheiro. "In this country, treasurers are very fleet of foot", comentou o sr. Palmer. Como consequência, o terreno da quinta estava agora fragmentado em pequenas áreas de produção de subsistência. O comentário de Naipaul mostra bem como é essa prisão ao passado:
"Land and people had, in a matter of speaking, reverted to type at the first opportunity. [...] Suddenly, one realized how fragile it all was. Nothing was assured; nothing was safe; nothing could be taken for granted. An older life pressed. Old instincts threatened. At any moment, Africa could close in. The house, the lawn, the monomaniacal acres of tea - it all could all be swept away without trace. There was nothing inevitable about 'progress'."
(Shiva Naipaul, North of South, Penguin, pp. 80-81.)
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