Acabei por ver, a espaços, a conversa sobre o concurso da rtp. A dada altura parecia que importava mais o concurso em si e que o programa seria apenas mais um veículo de marketing para o promover. Mas ainda se abordaram assuntos interessantes e importantes.
Desde logo, creio que se confundiram duas ideias: "grandes portugueses" e "heróis portugueses". Como se nao se pudesse ser grande sem ser herói. Um herói é algo inexistente por natureza, só existe no nosso olhar. A grandeza é mais objectiva. Como Hermano Saraiva disse, grandes sao aqueles que nao couberam na pequena caixa que é Portugal. Ou seja, aqueles cujo nome é conhecido fora das nossas fronteiras, aqueles cujo papel foi determinante para a nossa história. E personagens assim há várias. Por isso nao concordo com o que disse o cómico Araújo, que Portugal é um país mediano. Talvez seja, se avaliarmos pela qualidade dos humoristas (salvo o Hermann do passado e o Pedro Gomes). Mas o humor só pode ser bom num país que, no seu quotidiano, tende a ser rigoroso formal e duro (competitivo). Por isso é que o humor é britanico e americano, e nao belga, nigeriano ou iraniano. Torna-se difícil distinguir comédia de realidade na maior parte do mundo.
Mas voltando ao que interessa... Portugal gerou grandes portugueses. Em 800 anos de História e de sobrevivencia face à ameaça de Castela e de outras potencias, inevitavelmente eles surgiram. Claro que mesmo esta leitura é ideológica. A malta da historiografia de linhagem francesa tende a preferir os números e os gráficos dos estudos económicos, ou a valorizar o papel dos grupos e das classes (um compreensível tique marxista). Também é compreensível que os franceses prefiram olhar assim para História, já que dificilmente encontrarao "grandes franceses" para eleger. O escolhido por lá, no concurso do mesmo género, foi o General De Gaulle, famoso por ter fugido para Inglaterra e deixado que americanos e ingleses morressem para libertar a França do domínio nazi), enquanto ele próprio combatia via rádio. Aqueles discursos eram mortíferos, acreditem. A quem quiser ouvi-los, empresto o cd (estou a falar a sério). Outros, na linha do politicamente correctos, preferem procurar realçar apenas as acçoes negativas (e lá vem a escravatura, a colonizaçao e a inquisiçao à baila), ignorando que nao se pode olhar para o passado com a mentalidade do presente e pretender que se compreendem as acçoes de entao.
Estamos perante um debate ideológico. Como o Estado Novo valorizou (e usou para efeitos de propaganda) os "grandes portugueses" que entendia, hoje falar em "grandes portugueses" é ser "fascista", como é defender o hino nacional e expor a bandeira fora do contexto desportivo. Outros receiam participar na escolha de "grandes" e "pequenos" porque isso implica uma opçao pessoal e subjectiva. É o caso de muitos historiadores. O problema é que confundem o seu trabalho de investigaçao, que deve ser imparcial e baseado em factos, com as naturais simpatias ideológicas, políticas, culturais ou outras que possuem face a uma ou outra personalidade. Acreditam, erradamente, que nao emitindo opiniao, ficam acima das influencias ideológicas da sociedade em que vivem. Acreditam viver num laboratório imaculado, longe da contaminaçao do mundo?
Pessoalmente, nao vejo qualquer problema em apontar personalidades portuguesas que foram importantes para a definiçao do nosso país actual e que interferiram no rumo do mundo, quer a nível político, quer a nível cultural, científico, económico... Ao fazer essas escolhas, minhas, pessoais, subjectivas, nao deixo de ser capaz de avaliar o que também fizeram de errado, nem de avaliar "imparcialmente" as suas acçoes.
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ps: em relaçao ao programa, como é que é possível anunciá-lo assinalando a presença no debate de R. Araújo Pereira e deixar de referir a presença de J. Hermano Saraiva? Eu sei que é uma questao de marketing, mas mesmo aí nao sei se a opçao foi a mais correcta. Afinal, nao sei qual dos dois atrairá mais público...
Desde logo, creio que se confundiram duas ideias: "grandes portugueses" e "heróis portugueses". Como se nao se pudesse ser grande sem ser herói. Um herói é algo inexistente por natureza, só existe no nosso olhar. A grandeza é mais objectiva. Como Hermano Saraiva disse, grandes sao aqueles que nao couberam na pequena caixa que é Portugal. Ou seja, aqueles cujo nome é conhecido fora das nossas fronteiras, aqueles cujo papel foi determinante para a nossa história. E personagens assim há várias. Por isso nao concordo com o que disse o cómico Araújo, que Portugal é um país mediano. Talvez seja, se avaliarmos pela qualidade dos humoristas (salvo o Hermann do passado e o Pedro Gomes). Mas o humor só pode ser bom num país que, no seu quotidiano, tende a ser rigoroso formal e duro (competitivo). Por isso é que o humor é britanico e americano, e nao belga, nigeriano ou iraniano. Torna-se difícil distinguir comédia de realidade na maior parte do mundo.
Mas voltando ao que interessa... Portugal gerou grandes portugueses. Em 800 anos de História e de sobrevivencia face à ameaça de Castela e de outras potencias, inevitavelmente eles surgiram. Claro que mesmo esta leitura é ideológica. A malta da historiografia de linhagem francesa tende a preferir os números e os gráficos dos estudos económicos, ou a valorizar o papel dos grupos e das classes (um compreensível tique marxista). Também é compreensível que os franceses prefiram olhar assim para História, já que dificilmente encontrarao "grandes franceses" para eleger. O escolhido por lá, no concurso do mesmo género, foi o General De Gaulle, famoso por ter fugido para Inglaterra e deixado que americanos e ingleses morressem para libertar a França do domínio nazi), enquanto ele próprio combatia via rádio. Aqueles discursos eram mortíferos, acreditem. A quem quiser ouvi-los, empresto o cd (estou a falar a sério). Outros, na linha do politicamente correctos, preferem procurar realçar apenas as acçoes negativas (e lá vem a escravatura, a colonizaçao e a inquisiçao à baila), ignorando que nao se pode olhar para o passado com a mentalidade do presente e pretender que se compreendem as acçoes de entao.
Estamos perante um debate ideológico. Como o Estado Novo valorizou (e usou para efeitos de propaganda) os "grandes portugueses" que entendia, hoje falar em "grandes portugueses" é ser "fascista", como é defender o hino nacional e expor a bandeira fora do contexto desportivo. Outros receiam participar na escolha de "grandes" e "pequenos" porque isso implica uma opçao pessoal e subjectiva. É o caso de muitos historiadores. O problema é que confundem o seu trabalho de investigaçao, que deve ser imparcial e baseado em factos, com as naturais simpatias ideológicas, políticas, culturais ou outras que possuem face a uma ou outra personalidade. Acreditam, erradamente, que nao emitindo opiniao, ficam acima das influencias ideológicas da sociedade em que vivem. Acreditam viver num laboratório imaculado, longe da contaminaçao do mundo?
Pessoalmente, nao vejo qualquer problema em apontar personalidades portuguesas que foram importantes para a definiçao do nosso país actual e que interferiram no rumo do mundo, quer a nível político, quer a nível cultural, científico, económico... Ao fazer essas escolhas, minhas, pessoais, subjectivas, nao deixo de ser capaz de avaliar o que também fizeram de errado, nem de avaliar "imparcialmente" as suas acçoes.
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ps: em relaçao ao programa, como é que é possível anunciá-lo assinalando a presença no debate de R. Araújo Pereira e deixar de referir a presença de J. Hermano Saraiva? Eu sei que é uma questao de marketing, mas mesmo aí nao sei se a opçao foi a mais correcta. Afinal, nao sei qual dos dois atrairá mais público...
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