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sexta-feira, junho 30, 2006

A fifa ainda é a fifa

E como assim é, a Alemanha lá passou, depois de o árbitro ter transformado um penalti claro a favor da Argentina numa simulação merecedora de amarelo. A menos de 10 minutos do fim, com o resultado 1-1. Pois, errar é humano. Com este árbitro, a Argentina nunca ganhou um jogo. Quais as probabilidades de isso ser uma mera coincidência? Continuo a dizer, Alemanha Brasil vai ser a final, a menos que a Itália ou a França provem que há futebol capaz de vencer a fifa.

Em breve, Angelina Jolie


O João (obrigado pela foto) pediu-me um texto sobre a Angelina Jolie. Um desafio tentador. Tenho de dizer por palavras o que me fascina na personagem. É tentador, mas exige tempo e inspiração... O texto já se está a formar dentro de mim, mas ainda não cresceu... Em breve, espero eu.

Oitavos de final

Chegando aos oitavos de final, a selecção portuguesa atinge o objectivo declarado de Scolari. E afinal o homem tinha razão. As opções mais criticadas, Maniche, Costinha e Ricardo têm demonstrado merecer a confiança. Maniche marcou à Holanda, Costinha jogou bem até à paragem cerebral do último jogo e Ricardo tem apenas um golo sofrido (por erro da defesa, não dele) e algumas boas defesas. Figo está impecável. A única nódoa continua a ser o inútil do Pauleta, o nosso melhor marcador quando jogamos com Angola, Azerbeijão, Turquemenistão, Luxemburgo, Chipre, Malta e outras potências. Nunca marcou à Itália, ou à França, ou à Espanha, ou à Alemanha, ou à Inglaterra. Marcou ao Brasil, num jogo de treino. Mas já passou Eusébio, dizem os jornais.
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Nas oito melhores equipas, tirando Argentina e Brasil, só há equipas europeias. Ou seja, só se prova que futebol é só aqui e que asiáticos e africanos deviam mesmo fazer um playoff com os 3ºs europeus. Não teríamos de aturar a Arábia ou o Irão e o Togo, para não falar dos ridículos angolanos.
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Pena a eliminação da Espanha, mas quando o seleccionador tirou o Raúl ao minuto 51, com o jogo empatado, mereceu a derrota. Quem não quer ganhar...
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Não arrisco muitos prognósticos nem favoritos, mas avanço preferências: Portugal, Itália, Inglaterra, Argentina, Ucrânia, França, Alemanha, Brasil. Por esta ordem.
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Mas acredito que o Brasil vai à final, de preferência contra a Alemanha, ou a Fifa já não é a Fifa. Tantos amarelos a Portugal podem ser úteis para colocar de castigo meia equipa, com mais uma dose de cartões no jogo de sábado com os ingleses. Não vá Portugal passar e pensar em eliminar o Brasil.
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A Bola tem, na última página, um "postal" de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o mundial. Aparentemente dirigido à selecção, é assinado "O Professor". Sem comentários. Afinal é nome próprio, não é título académico.

Continuo a não gostar da ministra

Não gosto, porque não gosto de utopias. Em geral caem no totalitarismo. Ou no absurdo. E a senhora é utópica, de um lirismo de fazer inveja. O discurso dela é formalmente lógico, mas não se aplica à realidade. Será que ela é de alguma corrente Filosófica?
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De acordo quanto à necessidade de avaliação, nunca pus isso em causa. Mas continuo a não considerar os pais, em geral, como capazes de o fazer. Aliás, essa medida era desnecessária, porque para avaliar a escola já temos a associação de pais e, em geral, não creio funcione muito bem - nos casos que conheço (só nove, mas parece demasiada coincidência) ou não existe ou serve para resolver conflitos pessoais. E os alunos, seguramente imaturos, pelo menos conhecem quem estão a avaliar, o que não é o caso da maioria dos pais (no máximo, conhecem o director de turma e não são todos). Fora isso, também acho que a avaliação dos E.Educação vai ser quase insignificante, e só existe para colocar a Associação de Pais do lado do ministério nesta conjuntura específica.
Quanto ao resto da avaliação, ela é efectivamente fundamental. Claro que irrita ver uns quantos incompetentes com a mesma avaliação de outros que trabalham bem. Até aqui, como muito bem dizes, não havia avaliação. Mas eu tenho a leve suspeita que a nova avaliação tem como principal objectivo travar a entrada em quadro e a subida de escalão precisamente para poupar uns trocos. Como vai ser quase impossível subir de escalão, duvido que a maioria tente obter o excelente e o muito bom necessários e se contente com o regular. Na prática, muitos vão jogar para não perder, porque se sentem como equipas da terceira a jogar contra o AC Milan, não têm hipótese de ganhar... E o ensino vai ser tão estimulante como esse jogo.
Se bem li a proposta do ministério (que poderá sofrer alterações) um critério para se ficar pelo regular são as faltas a serviços lectivos. Justo, para os que faltam porque querem ir às compras ou porque fizeram uma noitada mais dura e querem ficar a dormir. Ou (caso que eu vi), porque simplesmente querem almoçar mais descansados e faltam à primeira hora da tarde. Mas a proposta não distingue o tipo de faltas. Pelas contas que tenho ouvido (não me dei ainda ao trabalho de as fazer também) bastarão 5 dias de ausência para impedir uma avaliação de bom. Mesmo que tenham sido faltas por doença (real, não fictícia), ou faltas para assistir a conferências e participar em acções de formação (lá terei de optar se vou a Seia ver as Jornadas Históricas ou se prefiro aspirar a um bom no fim do ano). Segundo dizem, as acções de formação devem ser em horário pós-laboral, algo perfeitamente possível para quem dê aulas em Valpaços e tenha a acção em Vila Real ou no Porto (pontos civilizacionais mais próximos). A licença de maternidade também não é propriamente contemplada. O ano em que a mãe (e também o pai) goze de licença de maternidade (paternidade) não é avaliado, sendo que a avaliação do ano seguinte vale para os dois. Como no ano seguinte o bebé ainda não é propriamente autónomo e avós e amas são coisas que não abundam, uma simples doença impedirá a mãe ou o pai de trabalhar. Se, por azar, a doença for prolongada, lá vem o regular para os dois anos. Assim, mesmo que sejam os mais competentes do mundo, estão tramados e em vez de subirem de posto em seis anos sobem em oito porque dois já foram queimados.
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A propósito de faltas, um parêntese. No final deste ano contabilizei as aulas previstas para as minhas disciplinas e dadas por mim. Descobri que faltei imenso. Isto porque se contabilizam os seguintes casos:
- um dia em que não tinha alunos porque houve greve de funcionários e as crianças foram enviadas para casa (sem cantina não há comida) - 1 dia
- os dias em que faltei por estar nas Jornadas Históricas de Seia - 3 dias
- dias dos exames nacionais de 9º ano (por determinação da Drec, todas as turmas estavam dispensadas de aulas para não prejudicarem o normal decorrer das provas) - 2 dias
- dias em que participei em visitas de estudo (não dei aulas às turmas que não participavam) - 3 dias
- um dia por doença (culpa minha, sem ironia)
- o último dia de aulas do 2º período, porque fui à escola do ano passado visitar as crianças e levar um cd com imagens para um trabalho que estavam a realizar desde o ano passado e que concluíram há pouco tempo (falta desnecessária, obviamente, mas que voltaria a dar) - 1 dia
O que me deixa mal é que aos pais só chegam os números: aulas previstas 90, aulas dadas 75. Imaginem a minha avaliação... É com base nestes números que são feitas as contas que saem nos jornais sobre absentismo, já agora...
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Pontos positivos: é preciso avaliação para entrar em quadro. Uma espécie de novo estágio para avaliar a competência de quem ensina. Aplausos. Se, depois de entrar em quadro, as avaliações forem negativas, o prof sai do quadro e volta aos contratos. Novos aplausos.
Ponto negativo: aparentemente a coisa passará também por uma entrevista, o que em Portugal é quase sempre sinónimo de outra coisa. E a avaliação (dando o meu exemplo, se viesse a entrar em quadro) será feita pelo coordenador de departamento (que irá observar as aulas), o que fará com que eu possa ser avaliado por um prof de Geografia ou de Moral. Como estão por fora da matéria (ou, pior ainda, podem achar que estão por dentro porque vêem o Hermano Saraiva e leram o Código Da Vinci), a coisa pode correr mal, a não ser que se limitem a avaliar a prestação pedagógica vazia de conteúdos. Numa situação absurda, posso ter um excelente por ensinar de forma convincente, clara e pedagogicamente correcta uma imbecilidade cientificamente errada!
Mais complicado é o caso do departamento de expressões artísticas em algumas escolas, que engloba E. Visual, E. Tecnológica, Música, Artes Plásticas e, em alguns casos Ed. Física. Assim, para a coisa funcionar bem, aconselho um regresso aos grupos, para não ter os tipos das flautas avaliados pelos tipos dos trampolins.
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Tudo isto podem ser detalhes que, com cuidado, facilmente se conseguirão limar, para deixar a parte positiva actual. Mas sinceramente, duvido que eu venha a ter quaisquer benefícios com estas medidas. E, pior ainda, duvido que o país também tenha.
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O que verdadeiramente me perturba na proposta é um parágrafo curioso, que diz que todos os profs devem actuar em regime de exclusividade, estando-lhes interdita qualquer outra actividade profissional, remunerada ou não. Isto é ridículo. Quer dizer, quem for escritor ou pintor ou músico numa orquestra não pode dar aulas? Quem quiser abrir um bar ou um ginásio ou uma pastelaria também não? Ou dar conferências? No cúmulo dos cúmulos, quem quiser fazer manuais escolares também não pode dar aulas? Isto é um apelo à mediocridade, não ao mérito. Ou é um apelo à fuga ao fisco ou ao anonimato. Lá se vai o meu sonho de publicar um livro um dia na vida (logo agora, que até o Rodrigues dos Santos conseguiu).
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Consta que também os mestrados vão deixar de contar para efeitos de progressão. Boa, nada como incentivar a formação. As Universidades, tão sedentas dos € das propinas como um inglês por cerveja depois de um jogo de futebol, vão adorar as desistências. (O que me lembra que ainda não paguei as propinas nem pedi diploma).
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Como conclusão, o objectivo explícito é bom e peca por tardio. O objectivo implícito (poupar uns €) não é nada bonito, mas parece ser também necessário. Que pena não começarem a poupar despedindo os grupos de trabalho do ministério que, como bem disse Filomena Mónica, deviam ser queimados com napalm. No final, se não houver alterações em alguns pontos, os melhores deixarão o ensino porque encontrarão facilmente algo (materialmente) melhor para fazer. Ficarão os regulares e os irregulares. Voltaremos aos tempos dos professores do Woody Allen:
"aqueles que não sabem desempenhar uma profissão, ensinam. Aqueles que não sabem ensinar, dão aulas de educação física."

quarta-feira, junho 28, 2006

terça-feira, junho 27, 2006

Resposta à ministra (que não considero burra)

No Ens. Sup. um professor é avaliado 7 vezes (!) ao longo da carreira, se não vejamos: é avaliado pela média de conclusão de licenciatura que, não sendo boa, o coloca imediatamente de fora sem hipóteses de contratação face às de outros candidatos; depois é avaliado no mestrado, sem o qual não passa de estagiário a assistente; de seguida vem o doutoramento, sem o qual não passa a professor auxiliar, e é despedido (!); 5 anos após a conclusão do PhD é novamente avaliado no trabalho que desenvolveu depois de se doutorar, num processo que se designa por nomeação definitiva (sendo-o, ainda não é desta que passa para os quadros, mas se não conseguir essa nomeação definitiva é despedido (!!)); de seguida vêm (não obrigatoriamente por esta ordem) as provas de agregação; e mais provas para a passagem a professor associado (e aqui, aos 50 ou 60 anos de idade, se tiver sorte, passa então para os quadros); finalmente, o seu curriculum pode ser avaliado para a passagem a catedrático. As duas últimas passagens acontecem apenas quando surgir uma vaga nos quadros e eu nem sequer vou discutir se isto é justo ou não.
Posto isto, devo dizer-te que no final de cada semestre os alunos avaliam o professor. E se é verdade que neste caso a avaliação é feita pelos alunos que já são adultos, no teu caso, preferia ser avaliado pelos pais do que por alunos. A questão da maturidade perece-me evidente. Também não é menos verdade que no teu caso o peso da avalição dos pais é residual (no outro caso, uma avaliação negativa generalizada tem consequências imediatas). Surge apenas como uma forma de os fazer participar no processo educativo. Concordo contigo quando referes o desinteresse dos pais, a conflituosidade com as associações de pais, o perigo de inflação das notas, as leis estúpidas que impedem alguns alunos de reprovar e o facilitismo instalado no ensino de uma forma generalizada, mas não percebo porquê tanto alvoroço sobre uma avaliação. Ela faz parte do trabalho de toda a gente (mesmo que muitas vezes haja avaliações injustas, o que é verdade), e o que tem acontecido até aqui, são 30 anos sem avaliações, Paulo! Como é que não te revolta muito mais ver um professor competente e trabalhador ser todos os anos passado à frente por gente acomodada aos seus direitos vitalícios, que conquistou única e simplesmente por causa da idade (!?), sem garra, sem ideias, sem medo da competição e... sim, da avaliação! Ela é vital, sem ela não há qualidade! Existe no privado (onde é tantas vezes injusta e) que apesar de tudo funciona muito melhor do que o público, porque não haveria de existir neste também? Deixa vir esta ideia e deixa vir muitas outras, que elas só vão beneficiar os professores competentes. Como tu!
Desculpa, mas parece-me que gosto desta ministra ;)

segunda-feira, junho 12, 2006

Javier Marias online

Do blog de Javier Marias, El País Semanal, 4 de junio de 2006
"Hace unas semanas, so pretexto de la victoria del Barcelona en la Copa de Europa (enhorabuena), centenares de descerebrados aprovecharon para arrasar Canaletas y las Ramblas, saquear comercios, pegarse con la policía y mearse en las fachadas: lo mismo que hacen los descerebrados de todas partes en cuanto se celebra un festejo de los que tanto gustan en España –masas a beber y hacer el chorras en la calle, no hay población que no tenga una semana de eso al año como mínimo, lo llaman “fiestas patronales” y lo financian los Ayuntamientos, asimismo descerebrados y maleducados–.Una amiga barcelonesa y muy culé me preguntaba: “¿Qué se puede hacer con esta gente?” Mi respuesta no pudo ser más pesimista: a la larga, educar, pero ya es tarde para eso, ni siquiera hay interés por parte de los políticos en que vuelva a existir aquello antiguo, la educación; se la ha abandonado; y a la corta, aguantarse. Todo el mundo sabe que ser grosero y destrozar hoy sale gratis, y que a nadie se le cae el pelo por ello, por utilizar una expresión también antigua. La cortesía y la consideración son de otro tiempo, así lo quieren las autoridades. Sólo nos queda decirles adiós, y recordarlas."

domingo, junho 11, 2006

Começou o Mundial

Estava a ver que esta porcaria nunca mais começava. Nada como os jogos verdadeiros, depois de tanto documentário sobre os magriços e outros tantos directos televisivos a partir do estágio da selecção...
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Das grandes equipas só ainda jogaram Alemanha, Inglaterra e Argentina. Mas espero que se mantenha a tendência (só contrariada pelo empate sueco e pela derrota polaca) de resultados positivos das equipas europeias quando jogam com as não-europeias. Pode ser que, assim, a fifa se aperceba que é necessário mudar o sistema de qualificação que deixa de fora selecções como a Rússia, Escócia, Bélgica, Roménia ou Dinamarca e permite o acesso a outras bem inferiores, mas que têm subsistem graças às cotas: Equador, Costa Rica, Angola (!), Irão, Arábia, Japão... Solução? As vencedoras dos grupos asiático, africano e norte-americano, bem como os terceiro e quarto classificados do grupo sul americano (ou seja, as outras que não a Argentina e o Brasil), deveriam fazer um playoff com os terceiros classificados dos grupos europeus. Aí sim, teríamos a certeza de estarem as melhores equipas no mudial.
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Amanhã jogamos com Angola. Caso se repita o sucedido no último encontro (dito "amistoso") entre as duas selecções, prevejo que o jogo não chegue aos 90 minutos. Ou ficamos sem jogadores, por lesão, ou os angolanos ficam sem jogadores por expulsão. Mas o mesmo importante é não perder com Angola (nem com o Irão).

Banned album covers

10 capas de discos que foram retiradas do mercado, por diferentes motivos. A ver aqui.

segunda-feira, junho 05, 2006

Mais educação em Inglaterra

Robert Yale, na Spectator
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"The reality, in fact, is that schooling is now more divided than ever — not only in terms of the state/private split but within the comprehensive system. Attend a comprehensive in a leafy suburb, and the chances are you’ll benefit from a de facto grammar; attend one in an inner city, and think de facto secondary modern. (There are good inner-city comprehensives, but the pattern is clear — check out the league tables and the addresses of the leading schools.) In 2006 the division is determined by social background, not by academic ability. Which is preferable?
The truth is that the comprehensive system never really took account of how Britons live. If social inclusion was one aim — bringing together, in a classroom, children of very different backgrounds — it was destined to fail. People of similar economic clout tend to live together — postcodes reveal plenty about income and profession, certainly outside London."
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"Sociologists tend to agree that, in terms of aspiration, familiarity breeds ambition. So if your friends’ parents, or indeed your parents’ friends, are doctors, lawyers, bankers or (heaven forbid) journalists they, and by extension their jobs, will hardly seem out of reach."
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"But common sense long lost out to rhetoric in chatter about education. Now our leading political parties appear to agree that there is something fundamentally wrong with telling a bunch of ten-year-olds that some are more academically able than others at the moment. Elsewhere, selection on ability seems simply logical; whether you’re learning to ski or taking classes in bricklaying, you find your level. But schooling, it seems, has a logic all of its own..."

domingo, junho 04, 2006

Should pupils and teachers be allowed to hug?

Eis um debate interessante que chegou à Europa, vindo dos EUA, "the craddle of the best and of the worst", como diz o Leonard Cohen: deve ser permitido que um professor abrace um aluno, ou esse gesto ultrapassa a fronteira de um professor e deve ser exclusivo de pais ou outros familiares? Este é um dos temas que hoje se discute em Inglaterra e cujos ecos chegam até nós através do telegraph. Note-se que a discussão não se centra em abraçar alunos adolescentes, onde a questão poderia ser mais controversa, mas em abraçar crianças (como as que frequentam o nosso 1º ciclo e que têm entre 6 e 10 anos). E como é que se legisla sobre uma questão desta natureza sem se cair em absurdos?

quinta-feira, junho 01, 2006

ministra burra

Desculpem lá a franqueza, mas esta é seguramente a ministra mais imbecil que Portugal já teve. E não venham com histórias de exigências. Uma coisa é ser exigente (com o que concordo) e definir um plano rigoroso de avaliação de professores (com o que também concordo, obviamente). Agora, pôr os encarregados de educação a avaliar os professores dos filhos?! Desculpem lá, mas isto não existe em lado nenhum. Como disse o meu irmão (que se riu quando ouviu a notícia, classificando-a como uma idiotice que bateu um record mundial), a coisa fazia sentido, no meu caso, se o encarregado de educação fosse alguém como J. Pacheco Pereira, Vasco Pulido Valente, Rui Ramos ou Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros. Isto porque são pessoas com um conhecimento científico bastante superior ao meu na área em que lecciono. Agora os outros... Eis alguns motivos pelos quais discordo totalmente da ideia (peregrina):
1. Os pais não têm, em geral, preparação científica nas áreas curriculares leccionadas - mesmo que sejam, por exemplo, licenciados em História, com que capacidade vão avaliar o desempenho do professor de Matemática, de Ciências ou de Inglês? Ou de Educação Física?
2. Como a maioria dos pais raramente vai à escola (porque não tem horários que o permitam ou porque, mais provavelmente, não o querem fazer) e, obviamente, nao assistem às aulas, a única forma de obterem dados sobre o desempenho dos professores é através do que os filhos contam em casa. Ora, posso garantir que as histórias que as crianças contam não primam pela exactidão factual. Ou seja, a avaliação vai resumir-se a uma conversa de café baseada em boatos e em histórias em segunda mão? Basta a criança não gostar do prof para o pintar de forma negativa ou vice-versa. Em Famalicão escobri que os pais de duas turmas de 9º ano gostavam muito de mim. Algo de estranhar, uma vez que nunca me tinham conhecido. Agora, os alunos gostavam de mim, logo davam boas informações para casa. Só que simpatia ou empatia não é necessariamente sinónimo de competência.
3. Os pais, para além de não terem formação científica nas várias áreas, também não têm formação pedagógica. Dar aulas não é propriamente chegar à sala e ler o manual (quer dizer, em alguns casos até é, mas há gente incompetente em todo o lado). Logo, como é que eles podem avaliar a minha competência ou incompetência pedagógica? É o mesmo que eu avaliar a capacidade técnica de um jogador de futebol ou treinador. Ou de um padeiro ou músico ou escritor. Lá porque gosto da forma como o Leonard Cohen canta, isso não significa que ele seja propriamente um virtuoso. E não suporto o estilo de determinados escritores, mas não sou formado em literatura para avaliar da sua qualidade literária (sim, incluindo o próprio Saramago, embora me pareça um caso demasiado óbvio de incompetência).
Além disso (a ministra falou nos médicos), ninguém dá opiniões sobre como o médico deve operar o apêndice do filho, porque não têm formação para o fazer. O problema é que há áreas que, não sendo propriamente científicas, são técnicas e exigem preparação, mas que são encaradas como coisas do senso comum. É preciso bom senso para dar aulas, mas isso não é suficiente. Também é preciso boa vontade para curar um toxicodependente, mas acreditem que toda a boa vontade do mundo não é suficiente e ele deverá sempre ser encaminhado para especialistas.
4. Os pais podem cair na tentação de avaliar positivamente ou negativamente os professores dos filhos consoante as notas dadas e não propriamente a capacidade de ensinar. É que a positiva nem sempre é mérito do filho, pode ser dada por um prof que não está para se chatear muito. Assim como a negativa pode não ser culpa do prof, já que pode ser a criança que não estuda nem se interessa pela disciplina. Ou pode até interessar-se e não perceber. A inteligência não é a coisa mais bem distribuída do mundo. Eu tive negativa a fisico-química e na altura era mais fácil culpar a prof, mas é sei bem que não estudava e não me interessava por aquela matéria. Era uma coisa que eu não percebia e que não queria esforçar-me para vir a perceber. Um exemplo deste ano. Os profs das turmas A e B do 7º ano são precisamente os mesmos. No 7º A há boas notas, no 7º B mais de metade da turma está em riscos de ficar no mesmo ano. A mãe de um deles já veio dizer que a culpa é nossa, já que, no ano anterior, as notas eram muito melhores. Só não conseguiu explicar o motivo de a outra turma ter bons resultados com profs tão maus como nós somos. Atenção, a maioria dos alunos do 7º B não estuda, muitos não levam livro, outros não levam cadernos, não passam o que está no quadro, não gostam de nenhuma matéria e todos os dias me perguntam se, em vez de dar matéria, se não podemos ir para a biblioteca (leia-se, internet, falar nos chats) ou para a rua. Experimentei a biblioteca, confesso. Dei temas simples para pesquisarem, avisei que não queria plágios da net (expliquei logo o que significa plágio) e fui andando de pc em pc. Quando saía de um, a página da net com o tema era minimizada, e quando eu regressava lá estava o chat ou o hi5 ou as páginas de jogos ou de imagens de personagens dos morangos com açúcar. Entretanto, fomos verificar as notas do ano anterior. De facto eram muito boas, tão boas que não houve uma única negativa a Matemática. Este ano há mais de 50%. A vossa conclusão deve ser a mesma que a minha. Se calhar a falha não está em nós, mas em quem passou as crianças desta forma no ano anterior. Mas aí, asseguro, nenhum pai vem reclamar, desde que o filho tenha positiva. Por fim, pode acontecer (e seguramente vai) que muitos professores, com receio de uma má avaliação por parte dos pais e das possíveis consequências, comecem a inflacionar as notas, coisa que deve ser o principal objectivo do ministério. Lembram-se de ter dito que não se recomendava a reprovação de um aluno que já tivesse ficado retido nesse mesmo ciclo? Pois bem, a lei foi alterada agora (pela mesma ministra que tanto defende a exigência) e diz o seguinte: não é aconselhável a retenção de um aluno que já tenha sido retido alguma vez no seu historial. Ou seja, se a criança está no 8º ano com seis negativas temos de ponderar bem se deve ou ficar chumbar porque já chumbou no 1º ano, ainda o Farense jogava na primeira divisão e o Samora Machel era vivo. Onde está a exigência?
5. Caso a avaliação não incida sobre o desempenho nas aulas (que os pais não conhecem) nem sobre a nossa competência científica ou pedagógica nem sobre as notas dadas, então só poderá incidir na assiduidade dos professores e em alguns comportamentos mais ou menos marginais. Ou seja, se o prof falta muito, se chega atrasado, se passa as aulas a conversar sobre a família, se insulta ou bate nos alunos, se é apanhada com outra professora aos beijos e em actos homossexuais na casa de banho da escola, se se embebeda ou consome drogas, se atende o telemóvel na sala de aula, se assedia as crianças, se diz asneiras nas aulas, se tem pulgas, piolhos ou as calças manchadas com urina de cão ou se pede a um aluno para tirar a pila para fora para mostrar às alunas o que é a erecção masculina (não inventei nenhum caso dos que aqui estão, atenção). Pois bem, de acordo que são todos reprováveis e merecedores de punição, consoante a maior ou menor gravidade. Mal por mal, prefiro alguém que falte do que um que assedie as crianças. Quanto ao prof das pulgas e calças com urina de cão, tirando o efeito negativo do cheiro, era considerado um excelente professor por alunos dele que eu conheço e que são fonte de confiança. Acontece que os pais podem denunciar estas situações, mas não cabe a eles avaliar e puni-las. Há órgãos próprios da escola, como o conselho executivo e o conselho pedagógico, há a inspecção escolar, as direcções regionais ou o ministério da educação, para onde pais, alunos, funcionários e outros professores podem e devem recorrer, com denúncias e queixas. E, para os casos criminosos, há a polícia judiciária.
Por estas razões, que julgo terem fundamento, considero a ideia perfeitamente idiota, não tem outra adjectivação. Só pode ter dois objectivos: é uma forma de forçar os professores a inflacionar as notas e / ou é uma forma de dividir para reinar. Note-se que esta ideia é há muito defendida pela confederação de associações de pais, um lobbie tão ou mais poderoso que os sindicatos que andam a minar, cada um da sua forma, a qualidade de ensino em Portugal. E, obviamente, esqueci-me de sublinhar o óbvio: não são os encarregados de educação, individualmente, que vão avaliar os professores, mas as associações de pais. Estas têm, muitas vezes, relações bastante conflituosas com executivos e professores (pelo menos foi o que verifiquei em algumas escolas onde essas associações existiam) e querem este novo cargo para resolver algumas divergências mais ou menos pessoais que têm com o corpo de professores efectivos da escola.
Claro que não sou pai, pelo que não tenho a perspectiva deles. Que dizem vocês, que estão mais "fora" desta questão e podem ser mais imparciais?
nota: nada disto contraria o que disse antes: deve haver avaliação de professores, tal como há em todo o mercado de trabalho; deve haver maior exigência e melhor qualidade de ensino; mas isso não se obtém com críticas e leis que nada resolvem. A ministra disse que o ensino secundário não pode formar só para o acesso à universidade. Que resolva o problema, então, (re)criando as escolas profissionais. Se que melhor educação dos alunos (o que não significa melhores notas e menor insucesso escolar nas estatísticas), que retome leis básicas sobre punição da indisciplina e reponha as regras mínimas de exigência na avaliação: não se pode ser exigente e, ao mesmo tempo, tentar impedir que um aluno que chumbou no quaternário ou no mezozóico volte a chumbar, apesar de não estar preparado para ter sucesso no ano seguinte. Isso não produz mais sucesso, destrói futuros e cria um mercado de trabalho ilusoriamente instruído, repleto de analfabetos funcionais que soletram em vez de ler, que usam calculadoras me vez de fazer contas, que não escrevem sem erros e que pedem, no 9º ano, se o prof pode dar um sinónimo de Singapura...