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sábado, dezembro 04, 2010

Nunca mais é dia de reis (ou S. João)

Começo novamente a aceitar a inevitabilidade dos terríveis tempos que se avizinham. E não falo da crise, mas do natal. Este sofrer de véspera justifica-se, graças ao zelo fanático que invadiu há mais de um mês os centros comerciais e autarquias possuidoras de um leitor de cd e algumas colunas convenientemente dispostas em postes inacessíveis. Munidos de tais aparelhos, e desejosos de espalhar a sua fé e euforia natalícia (provavelmente uma herança dos tempos dos Descobrimentos), estas instituições obrigam-me a ouvir ridículas canções de natal em ridículas versões compiladas em ridículas colectâneas e repetidas vezes sem conta no espaço de uma hora.
Quem tem de gramar, há mais de cinco anos, com as trombas socráticas diariamente expostas na televisão está praticamente imune a qualquer forma de tortura (sobretudo quem não o suporta desde o 1º dia e nunca conseguiu perceber o encanto que o resto do país teve pela criatura). Ainda assim, a repetição até à náusea das músicas de natal tem algo de maligno, um certo toque na ferida que consegue sempre perturbar. Felizmente há a hipótese de usar fones e um leitor de mp3. Pelo menos até se acabar a bateria é possível sobreviver. Porém, os problemas não acabam aí. Temos ainda os pedinchões habituais, dos escuteiros às recolhas de alimentos, das angariações de donativos aos vendedores de rifas, dos cds da hipopótama aos cds da avestruz. E, por fim, a lista de prendas, que acaba sempre por conter uma série de nomes de idiotas que, pelos vistos, merecem prendas por ser natal, figurando ao lado daqueles que merecem prendas, seja ou não natal.
Quando digo lista de prendas refiro-me, obviamente, a uma lista de nomes com travessões e pontos de interrogação à frente, no lugar onde deveriam estar descriminadas as ditas prendas. Alguns dos pontos de interrogação deviam estar imediatamente à frente do nome, porque na verdade é gente que nem sequer conheço (ou que não vejo há uma série de anos) e para quem, por incumbência familiar, tenho de encontrar algo "que lhe agrade". Gente essa que, talvez por lhes faltar um familiar zeloso, não se dá ao trabalho de retribuir o gesto.
Quanto às prendas propriamente ditas... Para as pessoas que conheço bem e que percorreram todas as etapas da humanização (não se ficando pela hominização, fase primária que deixou muita gente na fronteira no neolítico) é relativamente fácil oferecer algo de agradável. Por certo que vou cometendo erros, mas são erros toleráveis e, julgo eu, não muito frequentes. Para as pessoas que não conheço bem (ou para as que reagem como esfinges qualquer que seja a prenda que tenham recebido nas últimas décadas) a coisa complica. Vou avançando nas tarefas com dificuldade e sem grandes resultados. Para os restantes (desconhecidos ou hominídeos que, por qualquer motivo, tenho de presentear), socorro-me da táctica infalível de deixar tudo para o último dia. O cansaço vai quebrando as inibições e as preocupações e acabo por agarrar em algo que se enquadre nos abrangentes critérios definidos pelo mandante da missão "algo que lhe agrade" (claro que irá agradar, o que importa é a intenção - como é útil esta frase) e "que seja a bom preço" (cheap, of course). Com isto se agita a economia e a importação de mercadoria chinesa, para agrado do grande ditador (de cá ou de lá, tanto faz).

Tudo isto a propósito de músicas de natal. Porque não percebo como é possível passar tanta música ridícula, quando há tanta música boa de natal. Assim momentos como este, que valeram a pena:

1 comentário:

guida c disse...

De facto este momento musical vale bem a pena. Em relação ao resto, confesso que sofro um bocadinho com o Natal. Os centros comerciais deprimem-me e a solidariedade deste período é tão medíocre quanto enervante. Faz como eu, dá presentes só a quem queres mesmo, o resto da lista deixa em branco. Ninguém vai reparar. E se repararem, quem se importa?!!!!!!!