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quinta-feira, outubro 25, 2007

o ranking das escolas

Hilariante o relevo dado pelos meios de comunicação ao 'ranking das escolas'. Um jornalista que pensasse um pouco no que está a fazer e tivesse conhecimento dos assuntos de educação certamente olharia para os dados apresentados de forma correcta, e não como o ministério da educação (e outros grupos de interesses) querem que se olhe. Na leitura oficial, há o bom ensino, que é privado, e o mau ensino, que é público. Como grande parte da opinião pública desconhece o que realmente se passa nas escolas, tirando o que se limita a ver noticiários e a ouvir dos relatos dos filhos, é natural que adopte essa leitura oficial de forma acrítica e a tome por verdadeira. Mas observem só como foi feito o 'ranking'. O dado valorizado nessa hierarquização de estabelecimentos de ensino foi o da 'classificação média por exame'. Ou seja, somaram-se as notas obtidas em exame no ano lectivo passado por todos os alunos de cada escola e dividiu-se o valor pelo número de alunos. Só isso está em causa. E, com este estudo profundo, eis a conclusão a que se chegou:
- As melhores escolas são colégios privados, pois nas 10 primeiras só está uma escola pública, a Escola Infanta D. Maria (Coimbra).
Porém, na edição desta Quarta-feira do JN (não procurei o link porque não tive tempo), vem uma tabela que, para além do nome da escola e da média obtida, tem mais duas informações essenciais, mas que a comunicação social se esqueceu de analisar. A localização geográfica dessas escolas e o número de alunos que fizeram exames nas escolas privadas que estão no topo.
Pois bem, ninguém acha estranho que as melhores 25 escolas do país se localizem todas em Lisboa, Coimbra e Porto (com cinco excepções, 2 de Gaia, 1 de Cascais e outra de Loulé - interessantes excepções, aliás)? Não há alunos inteligentes na Guarda, em Murça, em Famalicão, em Évora, em Braga, em Chaves, em Carrazedo de Montenegro, na Maia, em Pombal, em Leiria? Ou não há aí professores competentes? A resposta para ambas as questões é só uma: há (conheço pessoalmente exemplos quer de alunos quer de professores).
Nesse caso, não valeria a pena tentar aprofundar as causas dessa geografia do sucesso escolar em Portugal? Não estará também ligado a um maior contacto com as ofertas culturais (desde cinemas, museus, concertos, livrarias, centros comerciais...), ao maior poder de compra da população, ao nível socio-económico e cultural dos agregados familiares, a um estímulo e exigência maiores por parte dos pais ou do grupo de amigos em que os alunos se integram para se lutar por um diploma (nem todos o podem tirar ao domingo)? Está, mas não interessa porque contraria a conclusão oficial, aquela que é feita de branco e preto, a que opõe o bom ao mau ensino.
Olhemos agora para o número de alunos que fez exames nos colégios no topo do ranking. Nos 3 primeiros, o número de alunos é de 48+32+15. Até o eng. Guterres era capaz de fazer esta conta: 95 exames. Mesmo que a cada exame corresponda um aluno, isso daria, no máximo, a 95 alunos divididos por três colégios. Este ano, eu tenho mais alunos do que esses. Pois bem, na primeira escola pública, o número de exames foi de 553. Não admira, pois, que tenha tido uma média inferior aos 3 primeiros.
Não sei o que se passa nesses colégios em particular, mas sei o que se passa em vários. Era uma vez um colégio que era o melhor no ranking do ensino de uma certa disciplina. Porquê? Porque obtivera uma média de 19 vírgula qualquer coisa nos exames desse ano. Fantástico, não é? E quantos alunos fizeram exame nesse colégio? Pois bem, um, aquele que eles sabiam que iria ter bons resultados. E os outros? Foram 'convidados' a fazer o exame na escola pública mais próxima.
Sabemos, também, que os alunos dos colégios não são, em regra, iguais aos alunos da maioria das escolas públicas. Os pais são diferentes, as terras onde vivem são diferentes, o ambiente que têm em casa é diferente. E os colégios não são obrigados a cumprir uma coisa muito gira chamada escola inclusiva, que exige que nenhum aluno seja excluído de um estabelecimento de ensino público. Os alunos com dificuldades de integração, de adaptação, com deficiências ligeiras, com ambientes e passados caóticos, em geral, não frequentam colégios. Por isso a comparação que é feita apenas a nível dos resultados obtidos nos exames é obscena, é absurda.

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