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terça-feira, agosto 22, 2006

explicando o inexplicável

Pensei seriamente neste texto. Comecei-o várias vezes. Ou começava a soar mal, entre o piroso e o presunçoso, ou ficava confuso e se perdia em pensamentos. Procurei linhas de orientação, tópicos (algo com que sempre me fui dando mais ou menos bem, depois de descobrir que realmente funcionavam). Desisti. Agora, que nas minhas pesquisas encontrei novas fotos da Angelina, voltei a tentar. É que, não sei como explicar isto, ao ver a primeira foto nova, senti um entusiasmo idêntico ao que sente quem está perante uma paisagem irlandesa ou (para quem prefere destinos mais tropicais) africana. Sem fôlego, e inundado por uma alegria infantil. E um desejo quase manchado de inveja, de querer a foto para mim. Não só para mim, mas também para mim...
Não há outra imagem, outra pessoa que tenha esse efeito. Talvez as bem compostas fotos das actrizes dos anos 30 e 40, essas quase chegam a provocar esse efeito. Mas não provocam. Porque só aquele rosto é assim. Perfeito. Para mim. Quem me conhece há muito tempo, deve lembrar-se que incessantemente rabiscava tudo quanto era papel branco. Ainda hoje o faço. E o resultado era sempre o mesmo, um rosto. O mesmo rosto, com variantes, com evoluções, como se procurasse o rosto perfeito, como se procurasse um rosto que em tempos, numa outra vida (se acreditarem em outras vidas, porque não?), eu tenha admirado e amado. Um rosto que me tenha dado vida ou causado a morte, um rosto que me tenha encantado, que tivesse a parte de mim que estava incompleta, que soava a oco quando lhe tocavam...
A primeira vez que vi o rosto da Angelina Jolie, em pleno Tomb Raider, percebi que era aquele o rosto que eu procurava. Não era o da Vénus de Botticelli (mas que crime não existir ainda fotografia naquele tempo, como seria o rosto que serviu de inspiração para aquele retrato?). Não o das mulheres de Milo Manara, apesar dos seus caracóis perfeitos e dos seus lábios bem desenhados. Era aquele rosto que me olhava do ecran. Provavelmente já o teria visto antes, mas só nessa altura o vi com a força que ele tinha. E todo o filme para mim foi uma busca incessante de novas expressões, uma contínua descoberta de encantos, maravilhas, sorrisos e alegria incontida. Ali estava, depois de tanto tempo, o rosto perfeito. Para mim, aquele filme teria sido uma experiência da nova vaga, 90 minutos de close up, não importava qual fosse a acção a decorrer. Apenas o rosto, 90 minutos de retrato vivo, os olhos nas suas expressões vivas, sedutoras, os trejeitos da boca, a ternura dos lábios unidos em amuos de fim de palavras... Se eu realizasse aquele filme, seria despedido. Seria incompreendido. Ou ganharia prémios em Cannes. Não importa. Teria o meu filme, a minha obra, o mais próximo que poderia ficar da obra-prima, da obra-única. Teria o meu rosto, para ver vezes sem conta, numa sala escura... Já não precisaria de o desejar (saiu-me assim a palavra, queria escrever desenhar e saiu desejar, acreditam nisto? até os meus dedos falam por mim), já não tinha de o procurar em todas as telas brancas de papel que encontro e rabisco em qualquer lugar em que me encontre...

3 comentários:

Anónimo disse...

um rosto é sempre uma ilusão. terás de escarafunchar por dentro do rosto para encontrar a ilusão da verdade.
Mas a verdade é que também não há maneira de se escapar à necessidade da ilusão quando se usam as palavras, sempre criadoras de um universo virtual.
O trabalho do artista consiste em descobrir os mecanismos de desencadeamento de energia, a energia da "sensação verdadeira".

Anónimo disse...

mas será possível encontrar a linguagem capaz de representar a natureza sem a intermediação do pensamento, dizer as palavras de antes dos discursos?
Toda a verdade é contraditória.

Anónimo disse...

A perfeição deste e de outros rostos de Hollywood deve-se a cirurgia plastica! Gpstei do texto, porem!