


O sono mental que desce fisicamente sobre mim, 
O sono universal que desce individualmente sobre mim — 
Esse sono 
Parecerá aos outros o sono de dormir, 
O sono da vontade de dormir, 
O sono de ser sono. 
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima: 
E o sono da soma de todas as desilusões, 
É o sono da síntese de todas as desesperanças, 
É o sono de haver mundo comigo lá dentro 
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso. 
O sono que desce sobre mim 
É contudo como todos os sonos. 
O cansaço tem ao menos brandura, 
O abatimento tem ao menos sossego, 
A rendição é ao menos o fim do esforço, 
O fim é ao menos o já não haver que esperar. 
Há um som de abrir uma janela, 
Viro indiferente a cabeça para a esquerda 
Por sobre o ombro que a sente, 
Olho pela janela entreaberta: 
A rapariga do segundo andar de defronte 
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém. 
De quem?, 
Pergunta a minha indiferença. 
E tudo isso é sono. 
Meu Deus, tanto sono!... 
Álvaro de Campos, in "Poemas"

4 comentários:
E porque não tentarmos viver como ainda hoje ouvimos alguém dizer? Porque não viver acreditando que vale a pena ter esperança num futuro melhor? Deixemos o singelo viver cada dia, um após outro sem nada vislumbrar pela frente... ***
Ou, como dizia o outro, cameron diaz!!!
Cameron diaz, my friend!!! Mas, já agora... não está a faltar ninguém à lista dos sonolentos daquela viagem???
Acho que o dr Betinho não ia gostar de saber que anda nas bocas da net!
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