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quinta-feira, janeiro 15, 2009

Sono








O Sono
O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim —
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.
Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
E o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.
O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.
Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.
Meu Deus, tanto sono!...
Álvaro de Campos, in "Poemas"


4 comentários:

Anónimo disse...

E porque não tentarmos viver como ainda hoje ouvimos alguém dizer? Porque não viver acreditando que vale a pena ter esperança num futuro melhor? Deixemos o singelo viver cada dia, um após outro sem nada vislumbrar pela frente... ***

Paulo Agostinho disse...

Ou, como dizia o outro, cameron diaz!!!

Anónimo disse...

Cameron diaz, my friend!!! Mas, já agora... não está a faltar ninguém à lista dos sonolentos daquela viagem???

Paulo Agostinho disse...

Acho que o dr Betinho não ia gostar de saber que anda nas bocas da net!