O programa O Amor é (pode ser ouvido no site da RTP/ Antena 1) falava hoje de violência doméstica. 17 mulheres mortas num ano, a somar às 21 do ano anterior, só em Portugal. Estes são os números dos casos extremos, que resultam em morte. Maiores são os que estão em processo judicial. Ainda maiores, as queixas feitas junto das forças policiais. Mas superando todos estes, está o das vítimas silenciosas. Quase sempre mulheres. Os dados sobre esta questão são sempre incertos. Presume-se que pequem quase sempre por escassos. Segundo estudo publicado em 1999, 1 em cada três mulheres, em todo o mundo, foram espancadas, violadas ou abusadas durante a vida. De acordo com a OMS, 70% das mulheres assassinadas são vítimas da violência dos parceiros. No ano de 2000, uma mulher era morta em Espanha a cada cinco dias. No Reino Unido (2003) morreram duas por semana. Em Portugal a PSP e a GNR registaram, em 2002, 11677 ocorrências de violência doméstica.
No programa (com base em todos os estudos) foi referido que a violência reportada é o culminar e anos de actos continuados, que vão evoluindo muitas vezes em espiral: começam com pressões e coacções psicológicas, às quais se vai adicionando a agressão física.
Isto a propósito da J. Uma rapariga calada, pouco mais dela se ouve para além de sim, não e outros monossílabos. Várias vezes, ao longo do ano, chegou à sala (por vezes tarde) e ficou sentada, calada e ausente, até ao final. A qualquer comentário respondia com um sorriso, um sussurrar curto e tímido e o desvio do olhar. No outro dia falou. Finalmente, falou.
A relação dura há dois anos e nesse espaço de tempo, segundo palavras dela, "não tive um dia em que chegasse ao fim e pudesse dizer: neste momento fui feliz". A relação, já longa para a idade, revela-se a principal causa da instabilidade. São incontáveis as vezes em que a relação terminou com ela em lágrimas e ele (pelo menos aparentemente) impassível. Para rapidamente recomeçar por fraqueza (confessada) dela. "Eu já tentei terminar, mas não consigo." Quando lhe pergunto que conselho daria a uma amiga que estivesse na mesma situação, a resposta é clara: "dizia-lhe para terminar tudo. Mas eu não consigo, não sou capaz." Não significa isto que haja coacção por parte dele. Mas há um sentimento de dependência em J. que a torna vítima das vontades do namorado. Abandona-a quando quer, está com ela quando quer. Proíbe-a de falar com determinadas pessoas, de usar certas roupas (pelo menos assim parece). Fiscaliza o telemóvel dela e impede-a de ver o dele. Aqui sim já há algo de coacção ou de violência. Que pode ou não aumentar no futuro.
As amigas de J. têm todas a mesma opinião, há que pôr fim à relação e ser feliz. Pensar nela. Ela concorda ... em parte. E não consegue agir. Assim sendo, vai continuar nesta instabilidade diária, como tem vivido nos últimos dois anos. J. tem agora 14.
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