E deles há muitos em Portugal. Os senhores que compõem um tal conselho de escolas estão habilitados à dita bem-aventurança. Eis a última proposta de um desses senhores, chamado Álvaro Almeida dos Santos (um visionário):
"Se temos uma competência histórico-geográfica para desenvolver com os alunos, não precisamos de ter uma disciplina de História e outra de Geografia. Poderão juntar-se".
"Se temos uma competência histórico-geográfica para desenvolver com os alunos, não precisamos de ter uma disciplina de História e outra de Geografia. Poderão juntar-se".
Por outras palavras, o que esta ilustre personagem sugere é a ligação das duas disciplinas, História e Geografia, no 3º ciclo, como teoricamente já acontece no 2º ciclo. A ideia é um puro disparate, pelos seguintes motivos:
1. No 2º ciclo, embora a disciplina se chame História e Geografia de Portugal, pouco há lá de geografia (um primeiro tema e o resto é ... bom, é História).
2. Os quadros da maioria das escolas tem muitos professores de Geografia e poucos de História (em muitos casos, nenhum). Isso significaria que a nova disciplina de História e Geografia iria ser dada por professores de Geografia. Profs de Geografia a ensinar História? Algo que só aprenderam no ensino secundário? Com que habilitações?
3. A ideia de trabalhar "competências" é impraticável em História (ainda não encontrei um professor de História que fosse capaz de dizer como se faz). Para quem não sabe, o ensino por "competências" veio substituir, no linguajar técnico do ministério e das pseudo-ciências da educação, o "ensino de conteúdos e conhecimentos" (ou como também eles lhe chamavam, o "ensino por objectivos"). Gostaria de saber como é possível ensinar História (ou, como eles dizem, "ensinar os alunos a aprender História") sem transmitir conhecimentos e avaliar esses conhecimentos. Não é possível. Em História, as competências que os alunos devem possuir são as seguintes: localizar factos e acontecimentos no espaço e no tempo; contextualizar esses factos em realidades históricas; analisar e interpretar documentos históricos. Hum, e como é que os alunos fazem isso sem conhecimentos, ou seja, sem que se lhes exija saber História?? E, já agora, como poderão os professores de Geografia ensinar os alunos a desenvolver as ditas competências? Vai ser divertido.
A ideia tem, naturalmente, duas consequências. A primeira é poupar mais uns trocos (para poderem continuar a aumentar os ordenados dos directores de escola, paus-mandados do ministério, e outros gastos importantes, como os magalhães e as novas oportunidades). A segunda é limitar ainda mais o conhecimento da História. Aliando essa limitação à destruição do ensino da Filosofia e ao ataque à literacia que são a distribuição de magalhães (a crianças que deveriam estar ocupadas a aprender a ler) e os programas ridículos de língua portuguesa, o produto final será uma massa de cidadãos ignorantes, iletrados e não-pensantes. Em suma, uma massa de eleitores típicos do actual primeiro-ministro.
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