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quarta-feira, novembro 17, 2010

"Eu fui mal preparado. A universidade portuguesa não preparava as pessoas, como aliás não prepara agora. Eu escrevi o que foi considerado, naquela época, uma boa tese de doutoramento, até porque era uma tese de direita num ambiente de esquerda. Mas o que eu precisava de saber, para ser um historiador competente, era economia, línguas, etc. Se eu queria ser um historiador europeu, devia saber pelo menos alemão e devia estar a aprender russo. Eu por acaso tinha algumas noções de Filosofia, porque tinha começado por Filosofia, mas se não tivesse feito a licenciatura, nem Filosofia sabia. Eu estava mal armado. Há tipos em Oxford ou em Cambridge que nascem armados, porque têm um pai inglês e uma mãe russa, que têm uma avó alemã, que aos sete anos falam três línguas. Eu vinha de uma língua periférica que ninguém fala, percebe? Eu podia ter feito um esforço para aprender o que não sabia, é certo, embora nessa altura também já fosse velho de mais. Tinha trinta e dois quando me doutorei, isto quando muitos se doutoravam aos vinte e quatro, vinte e cinco."

Vai fazer sessenta e oito anos. A velhice é melhor ou pior do que esperava?
Muito pior. Na velhice perde-se tudo.

E não se ganha nada? A sabedoria, a serenidade, etc.?
Tretas. Só acredita nisso quem não chegou a velho.

(Vasco Pulido Valente, entrevista, já antiga, de J. Pereira Coutinho)

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